sábado, 3 de outubro de 2015

PARA QUE, AFINAL, DILMA QUER CONTINUAR NO PODER?

EHelena de Tróia (d. John Kent Harrison, 2003), um interessante telefilme inspirado na saga de Homero, foi muito bem bolado o diálogo que o cornudo Menelau e o astucioso Ulisses travam com o digno rei Priamo, tentando convencê-lo a entregar Helena para evitar a guerra iminente.

Priamo só faz uma pergunta a Menelau: "Mas, para que você quer Helena?".

Este não consegue responder de forma positiva, diz apenas que ela lhe pertence, é dele por direito e, se não for devolvida, não sobrará pedra sobre pedra em Troia.

Ulisses ainda tenta consertar, dizendo que o único e verdadeiro motivo é o amor, mas o estrago já está feito. A resposta irada do marido traído, mais o fato de que este no passado a obrigara a exibir sua nudez a vários outros soberanos numa festa, convencem Priamo de que Menelau encara Helena como um objeto e não a merece.

Esta lembrança me ocorreu ao ler a propaganda contra o impeachment presidencial nos portais, sites e blogues petistas. Pois, o enfoque é o mesmíssimo que um jornal do Corinthians daria a um lance polêmico do clássico contra o Palmeiras: parcialidade extremada, tendenciosidade gritante, fanatismo à flor da pele.

Na enxurrada de textos de torcedores organizados contra o impeachment, falta sempre esclarecerem: "Mas, para que, afinal, Dilma quer continuar presidenta?".

Pois ela se elegeu praticamente sem programa de governo, apenas satanizando os adversários e difundindo falácias sobre eles, chegando ao cúmulo de atribuir-lhes intenções que, verdadeiramente, eram idênticas às suas. E, agora, é incapaz de apresentar um único motivo positivo que justificasse sua permanência no poder.

O mandato lhe pertence, é dela por direito (apesar do estelionato eleitoral) e, se o tentarem tirar, não sobrará pedra sobre pedra. Eis o que ela nos atira na cara, como uma criança que quer porque quer, e não como uma adulta apresentando argumentos capazes de nos convencer.

Tal  desempenho até agora fez sua popularidade despencar para incríveis 69% de ruim/péssimo contra 10% de bom/ótimo e não há prenúncio nenhum de mudança de prioridades e métodos, nem sequer do neoliberalismo ela abre mão!!!

E os brasileiros que nos conformemos com a recessão a que seus rompantes de gerentona nos conduziram, com as decisões erradas que ela continua tomando e acabarão por gerar uma terrível depressão, com a degradação extrema da democracia como consequência de sua batalha inglória para, recorrendo às práticas mais imundas da política convencional, salvar no Legislativo e no Judiciário um mandato que já não tem o respaldo das ruas.

Até quando e quanto ainda o povo terá de sofrer porque os podres poderes não o expressam, sendo incapazes, por amarras burocráticas ou por patifarias de bastidores, de encontrar uma saída plausível para uma situação insustentável?!

Pelos mesmíssimos motivos que Collor caiu, Dilma tem de sair.

O principal deles: porque não há possibilidade nenhuma de melhora enquanto ela estiver lá.

O povo brasileiro já sofreu demais, não por algo que valha a pena sofrer (a conquista da igualdade social, p. ex.), mas apenas para dispor de uma democracia burguesa que é muito mais burguesa do que democracia e um capitalismo que mantém todas as mazelas da exploração do homem pelo homem e consegue ser pior ainda do que o habitual por causa da gestão incompetente e da corrupção desenfreada.

Aqui você pode ver o filme. E aqui, saber mais sobre ele.

6 comentários:

Paulo César disse...

Caro Celso, em caso de impedimento da presidenta, quem você acha que ganharia as eleições, convocadas dentro de 90 dias após a saída dela do poder?

celsolungaretti disse...

A convocação de novas eleições só ocorrerá se o Michel Temer for impedido também, se ambos renunciarem ou se a Dilma for impedida e o Temer renunciar.

De qualquer forma, a tendência é de que o novo governo viesse a ser de centro-direita.

O que seria um avanço: a política econômica de direita seria aplicada por um governo de direita, e a esquerda se reconstruiria fazendo oposição a ela. Ou seja, cada qual estaria, de novo, no seu lugar.

A única hipótese absolutamente inaceitável é a de um golpe militar e instalação de nova ditadura. Contra isto temos de lutar com todas as forças.

Anônimo disse...

Lunga, definitivamente tu é ruim da cabeça. Se a Presidenta tivesse te colocado na CNV e te dado um cargo será que tu estaria neste ódio todo?

Outra coisa Lunga, tu sabe o que é soberania popular? Esqueceu que a Presidenta foi eleita e não se pode trocar de Presidente só porque a economia vai mal?

Deixa de ser ridículo.

celsolungaretti disse...

Anônimo,

o problema não era eu ter um cargo na Comissão da Verdade, mas sim fazer com que ela atingisse seus objetivos. Mas, foi pouquíssimo além do que já sabíamos, não conseguiu impor-se aos comandantes militares e permitiu que duas testemunhas fossem assassinadas nas suas barbas.

Talvez você esqueça que eu sempre pedi a presença de pelo menos um veterano da luta armada no colegiado, pois, numericamente, o nosso contingente é o que sofreu mais baixas fatais nos anos de chumbo.

Cansei de dizer que poderia ser também o Ivan Seixas, que conseguiu brilhante resultado no episódio das ossadas de Perus. Mas, a Dilma cedeu à chantagem da bancada evangélica, não havia nenhum de nós lá e as ossadas do Araguaia continuam sumidas.

Em termos pessoais, o que tenho a recriminar à Dilma não é deixar de me ter concedido alguma boquinha, pois nunca precisei de nada disso. Mas, faz nove anos que sofro perseguição e abuso de poder por parte da AGU e, embora vários amigos e companheiros já tenham apelado a ela e ao ministro da Justiça, ambos fizeram ouvidos moucos.

Sou um ex-resistente, que a Comissão de Anistia reconheceu como um dos mais injustiçados de todos os anistiados. Exigi o que a lei que instituiu a comissão me conferia: o direito de receber a indenização retroativa em 60 dias.

O governo, depois de um ano sem cumprir o estipulado, propôs quitar seu débito em prestações mensais por mais de oito anos. Propôs que os anistiados abrisse mão VOLUNTARIAMENTE de receber de imediato.

Eu não me verguei, pois o direito que possuía me custou sangue, quase a vida, a saúde e enorme prejuízo a toda a minha carreira profissional. E já é o quarto governo petista sob o qual sou RETALIADO pela AGU, que defende uma posição indefensável (se está na lei, eu sempre tive direito de ser pago em dois meses), já perdeu por 8x0 no julgamento do mérito da questão, enrolou com dois embargos de declaração que foram derrotados por 7x0 e 8x0 e agora foi ao STF com um recurso extraordinário.

Ou seja, a AGU não tem a mais remota chance de vencer, mas aproveita a lerdeza do Judiciário para me privar indefinidamente do que já conquistei e a Justiça já me concedeu. Quanto à Dilma, lava as mãos. Sua solidariedade para com antigos companheiros de luta e de organização que não rezam pela cartilha dela é ZERO. É justa com os que lhe beijam a mão e indiferente aos que mantêm a independência.

Mas, claro, o drama brasileiro é o que conta nos meus artigos políticos, não as injustiças que sofro (quando é para tratar deste problema, eu o faço abertamente, como agora). E permanece o fato de que a Dilma foi eleita pela esquerda, mentiu ao eleitorado, está governando com a direita (seus maiores aliados são os grandes banqueiros!!!) e desgraçando o povo brasileiro ao magnificar, com sua política econômica repulsiva, a recessão que seu primeiro governo nos legou.

Então, esse "legalismo" de cartas marcadas (conspurcado por pressões e subornos que pulverizam a independência dos outros dois Poderes) nos levará inevitavelmente a uma crise econômica avassaladora. Ou a Dilma negocia sua saída agora, civilizadamente, ou será varrida de cena por um tsunami econômico e político (que poderá até provocar uma nova ditadura de direita).

Eu tenho a visão clara e a coragem de advertir os companheiros para o que nos espera à frente, se não houver uma correção de rumo. E vou continuar lançando meus alertas, por mais que me pressionem e retaliem. Nunca fui vaquinha de presépio.

Anônimo disse...

Você defende o impeachment igualmente a Reinaldo Azevedo, o rato da VEJA, devia ter vergonha. Isto é um golpe paraguayo de uma desfaçatez que só pessoas como você e outros do mesmo naipe como o ególatra Hélio Bicudo têm cara para defender.

Suas posturas são resultado do ressentimento contra a esquerda. A cada dia defende coisas piores perceptivelmente mascaradas. É contra o PT e contra o governo Dilma por razões pessoais e joga para o conservadorismo do Estado fascista do Brasil, São Paulo.

Uma de suas máscaras é dizer-se revolucionário. Tenha vergonha.

Defenda o impeachment, dixe cair a máscara. Vai perder esta parada pois além de absurda é mesquinha, imoral, rasteira.

Você é uma vítima da ditadura. Nenhuma pessoa que foi torturada permanece a mesma pois os a danos são irreversíveis. Temos que compreendê-lo até porque são perceptíveis as sequelas em seu desequilíbrio. Contudo, não tem o direito de ser escroto com os demais da esquerda.

Existe uma lacuna nas leis de anistia que tivemos no Brasil no que diz respeito às vítimas das ditaduras pois deveriam ter o custeio do tratamento e assistência a todos os torturados pelo tempo que fosse necessário pois faz parte da reparação dos danos este indispensável tratamento.

Pare de ser escroto. Gabrielli virou corrupto em seu blog; o PT se transformou em um partido pior que o PFL, em seu blog. Seu desequilíbrio é uma tragédia. Você não conquistou direito nenhum; tem apenas o direito de ser reparado pelos danos que o Estado ditatorial lhe causou. Mentir é feio.

Temos que lhe compreender mas você abusa da paciência alheia. Haja paciência...

celsolungaretti disse...

Eu não estou defendendo impeachment nenhum, apenas constatando que o Brasil vai explodir com a atual política econômica e com uma presidenta que perdeu de vez a credibilidade. Alguma saída tem de ser encontrada para evitar-se o pior.

Canso de repetir: recessão em país paupérrimo como o nosso mata gente. Isto não é Portugal, nem Espanha, nem Grécia. É muito pior.

Quanto a quem defende o quê, estou pouco ligando. Não me posiciono a partir dos outros, tenho minhas convicções.

Ser inimigo do PT, hoje, não é ser inimigo da esquerda. É ser inimigo do neoliberalismo.

Sim, eu CONQUISTEI minha anistia porque a burocracia me estava perseguindo. Desrespeitou as regras do programa no meu caso, ao não marcar julgamento embora eu houvesse feito prova de que estava desempregado, o PRIMEIRO quesito para priorização. Na prática, colocavam na frente os idosos e os que alegavam doença. Então, por que botaram algo diferente na lei que instituiu a Comissão?

Tive de recorrer ao Ministério Público Federal, às comissões a que estavam afetos os direitos humanos na Câmara e no Senado, à Ouvidoria Geral da República, à OAB, à imprensa, a todos a quem pude me queixar, até que reconheceram meu direito (após um puxão de orelhas do MPF). Detalhe: eu estava na miséria e provavelmente não viveria até hoje se não houvesse ganhado esta luta.

O que sofro agora é a vingança dos maus perdedores da AGU. Piorada: daquela vez foram 50 meses de espera, agora já passam de 100.

E há uma diferença fundamental: muita gente então não conhecia minha história. Muitos esquerdistas honestos mudaram de atitude ao tomarem conhecimento de que eu fora feito de bode expiatório da queda da área de treinamento de Registro. Quando ficou provado que foi outra pessoa que "abriu" a área e me atiraram a culpa por ser menos importante para a VPR, alguns caminhos se abriram para mim.

Agora é bem pior, porque sabem que estou à esquerda do PT e luto pelos ideais que o PT defendia em 1980 e agora abandonou, aburguesando-se e corrompendo-se.

Agora é stalinismo puro.

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