Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros prevê mudança de governo antes da eleição do ano que vem, devido à conjugação de quatro fatores de desequilíbrio que interagem e se realimentam mutuamente:
- um cenário internacional desfavorável, com a desaceleração da economia global;
- uma aguda crise política;
- uma crise macroeconômica clássica, com queda no crescimento, no investimento e no emprego, além de inflação alta, juros estratosféricos e um "enorme desarranjo nas contas públicas"; e
- uma crise microeconômica que atinge vários setores, empurrando o PIB para baixo.
"Nós já vimos todos esses problemas mais de uma vez, mas tudo isso junto, ao mesmo tempo, eu não lembro", admite. Segundo ele, a degringola econômica está sendo mais profunda do que se previa, daí sua impressão de que o desfecho também vá ser mais rápido, com "alguma coisa" acontecendo até a eleição municipal.
Mesmo porque deveremos fechar 2015 com queda do PIB (-3%) e a previsão de novo recuo em 2016 (-1,5%). Pelos sempre suspeitos dados oficiais já temos 1 milhão de desempregados, o que coloca uns 5 milhões de brasileiros em condição de penúria. País miserável como o nosso não aguenta recessão deste porte. Morrem coitadezas, outros se revoltam.
E, quando os desesperados começam a tornar-se ameaçadores, o sistema sempre provê alguma mexida que alivie o sufoco por uns tempos, para que nada realmente mude no longo prazo.
Salta aos olhos que o primeiro entrave a ser removido para desimpedir a linha atende pelo nome de Dilma Rousseff, que o povão vê como grande culpada de seus apuros atuais. A confiança do cidadão comum não será restabelecida enquanto ela continuar no poder e fatores psicológicos contam muito em situações como a atual.
Um revolucionário e jornalista veterano como eu, que já acompanhou muitos episódios históricos parecidos e leu sobre outros tantos, ao fazer uma análise realista da atual tempestade perfeita, só pode chegar à mesmíssima conclusão de Mendonça de Barros: como países não se suicidam, "alguma coisa" terá de acontecer neste final de ano ou ao longo do próximo, para evitar que o Brasil chegue ao fundo do poço, com as previsíveis comoções sociais.
Muitos companheiros, acreditando piamente nos contos da carochinha que lhes são ministrados pela rede chapa branca, insurgem-se contra meu realismo, tomando por torcida o que, na verdade, é espírito crítico e sinceridade (não trato meus leitores como crianças que necessitem ser tranquilizadas para não terem pesadelos...).
Deveriam dar uma olhada no que escrevi e no que outros escreveram durante o ano passado, propondo-se a seguinte questão: vale a pena serem iludidos de novo?
Pois 2015 está sendo pior ainda do que eu antecipava (tendo alertado incisivamente os companheiros quando ainda havia tempo hábil para evitarem muitos desastres) e diametralmente oposto ao mar de rosas que os propagandistas do PT pintavam, disseminando ilusões para vencerem eleições.
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