terça-feira, 6 de outubro de 2015

CARLOS HEITOR CONY DEPLORA A "OBSCENIDADE" DA REFORMA MINISTERIAL DE DILMA

"Ficou escancarado o recurso obsceno usado pela presidente que enfrenta a possibilidade de um impeachment. Ela teve tempo para testar os ministros que nomeara ao tomar posse numa data anterior.

Para contentar os congressistas que poderiam cassá-la das funções presidenciais, ela organizou um grupo de auxiliares comprometidos com os partidos que a defenderão em plenário. 

Não foi uma medida tomada por um chefe de Estado e sim de uma oportunista que se agarra ao poder sem nenhum escrúpulo moral.

Pessoalmente, não vejo necessidade de um impeachment. Mas Dona Dilma de tal maneira se avacalhou, que não mais merece a função de presidir um país bichado pela obscenidade de um governo em falência." (Carlos Heitor Cony, jornalista e escritor)

4 comentários:

Luiz Brasileiro disse...

Você e este que nunca se candidatou é que são os únicos honestos, os únicos de esquerda? Você quando nada disputou uma eleição, teve 300 votos, e o outro nem isto. Se acham os representantes do povo sem votos... Evidente que seria uma tragédia se pessoas como você e o outro ocupassem o poder pois seriam ditadores em nome de uma auto-representação do povo.

Falam em nome da moral e do povo sem votos, com se fossem os únicos honestos. Ninguém é de esquerda por se dizer de esquerda mas dentro de uma conjuntura. E você e o outro coincidem na gana pela cassação do mandato da Presidenta com os mais variados argumentos golpistas e desrespeitosos aos 54 milhões de votos que a elegeram.

Esquerda, qual esquerda? Você e o outro estão lá com a direita em uma jogada oportunista por um terceiro ou quarto turno da eleição. Você por razões estritamente pessoais e o outro por ignorância e do que seja a política prática: o vagabundo nunca se candidatou e ainda desrespeita quem foi eleito e os eleitores. Vagabundo, inimigo da soberania popular, golpista.

pablo disse...

Celso quero levantar uma questão que pode dar um post. Como a esquerda deverá ressurgir de seus escombros? Fico enojado ao ver algumas posições de petistas que se dizem de esquerda, são comentários dignos de um reaça. O PcdoB seguiu os passos do PC italiano, o PT é a representação perfeita do 'novo ' trabalhismo britânico (que agora elegeu um reformista como presidente, e que vem sendo tratado como um terrorista,pela mídia e até por membros do partido). Venho acompanhando as posições dos quatro partidos da esquerda legítima, há muitas divergências e nenhuma unidade programática. O PSOL admite a tentativa golpista mas não considera uma possibilidade real de queda do governo. O PSTU (assim como o PCB) também não acredita na queda, mas defende abertamente a derrubada do governo. O PCO não só considera uma grande chance do governo cair como se mobiliza contra o golpe. Há várias mobilizações da esquerda, mas nenhuma anima pra valer, o PT e a CUT defendem a maravilhosa "democracia" -ainda mais maravilhosa quando se está no governo- vale ressaltar que a CUT assistiu passivamente a aprovação da terceirização, o PCO e PSOL participaram deste ato. Já PSTU/PCB realizaram um ato 'contra tudo o que está aí, e o que pode vir', um ato confuso mas que teve seus méritos, por ter defesa dos trabalhadores como ponto fundamental. PCO e PSOL não participaram, ou seja não há convergência entre essas organizações, são grupos que juntos não somam 2 milhões de votos no país todo, mas que poderiam unir forças neste momento. Muito se fala da crescimento evidente da direita mas o que a esquerda brasileira tem feito? Vejamos a esquerda internacional, o Syriza venceu as eleições duas vezes (tudo bem que traiu os anseios populares,mas...) o KKE grego também cresceu muito, em Portugal a Frente de Esquerda teve um crescimento exponencial, a mesma frente vai bem na Argentina. O desafio está aí. Como unir forças?

celsolungaretti disse...

Luiz,

o Carlos Heitor Cony tem 89 anos, foi um grande nome da resistência jornalística ao golpe de 1964 e um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É insuspeito de simpatias pela direita. Apenas, não se conforma com o desespero da Dilma em evitar o impeachment de qualquer jeito, mesmo se avacalhando por completo.

Quanto a mim, não fui candidato por acreditar que precisava da "benção" dos votos populares, longe disto. É que fui convidado pelo PSOL e, sabendo que o partido dificilmente faria uma bancada influente, avaliei que eu era dos mais aptos para, mesmo com o partido elegendo poucos ou apenas um vereador, produzir fatos políticos marcantes, embaraçosos para os governos estadual e municipal, e lançar lutas que repercutissem com mais intensidade, projetando o partido.

Passei a minha vida inteira envolvido com polêmicas na mídia (tanto por causa das minhas convicções revolucionárias quanto por ter atuado profissionalmente como administrador de crises), então aprendi a tirar coelhos da cartola e já obtive vitórias muito improváveis.

Encarei, portanto, o convite como uma MISSÃO que eu poderia cumprir melhor do que os outros. E, careca de saber que por mim mesmo nunca conseguiria me eleger, confiei que o partido o fizesse por mim, como era uma tradição da esquerda de outrora: o PCB escolhia quais de seus quadros seriam melhores para o representarem e instruía a militância a votar neles. A eleição de vereadores e deputados era verdadeiramente decidida na reunião do Comitê Central, Estadual ou Municipal, a ida à urna não passava de detalhe.

Mas, houve qualquer movimento contrário a mim nos bastidores e o PSOL não só deixou de me dar a ajuda com que eu contava, como até boicotou meu acesso a listagens de endereços (físicos e de e-mails) que eram vitais para mim, pois meu maior talento sempre foi a escrita.

Resumo da opereta, nem eu me elegi nem o eleito está conseguindo projetar o partido. Voce sabe quem é? Quase ninguém sabe.

Perdemos ambos. E eu avalio aqueles meses desperdiçados como uma das maiores roubadas em que entrei na vida.

Talvez isto tudo te choque, mas é como nós, revolucionários, encaramos a democracia burguesa. Para nós, as eleições e mesmo a conquista de uma presidência da República não passam de objetivos TÁTICOS. Só nos servem se ajudam a abrir caminho para a revolução, que é nosso objetivo ESTRATÉGICO.

Quando o PT se aburguesou e passou apenas a gerenciar o capitalismo para os capitalistas, sem fazer a revolução avançar um milímetro sequer, a Presidência passou a valer nada para nós, já que nem sequer cumpre sua função tática. Por isto, salvar o mandato da Dilma é a última das prioridades.

Muito à frente está salvar a imagem da revolução, que é duramente atingida quando um partido de esquerda adota uma política econômica de direita. Entre salvar Dilma ou expelir o Levy, muito mais importante para nós é livrarmo-nos do Levy, cuja associação com o governo do PT será uma mancha na imagem da esquerda por anos e anos vindouros. A direita jamais perderá uma oportunidade para nos atirar na cara de que, na hora do salve-se quem puder, adotamos até as diretrizes de nossos piores inimigos.

celsolungaretti disse...

Pablo, meu caro, o que você quer que eu diga?

Em 1968 era a mesmíssima agonia, as tendências contrárias disputavam com tanto fervor a liderança do movimento de massas que até "esqueciam" quem era o verdadeiro inimigo. No congresso da UNE em Ibiúna, o esquema de segurança alertou que a repressão estava chegando, mas a tendência que estava ganhando contrapôs que era golpe para melar sua vitória. Enquanto discutiam se debandavam ou não, a repressão chegou.

Depois, a partir do segundo semestre de 1969, quando a luta armada foi se tornando cada vez mais adversa para nós, aprendemos a somar forças, até por necessidade: muitas eram as tarefas que um agrupamento já não tinha efetivos e recursos para cumprir sozinho.

Talvez a contundente derrota que se esboça e a subsequente hegemonia da direita levem a esquerda a calçar as sandálias da humildade, redescobrindo o imperativo da solidariedade revolucionária.

E está muito claro que a esquerda tem de renascer "nas escolas, nas ruas, campos, construções", como diria o Vandré, e não na disputa sôfrega e até canibalesca por posições em diretorias e por mandatos eletivos. Temos de voltar às origens, fazendo exatamente o contrário do que o PT fez nas duas últimas décadas, principalmente.

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