Por Apollo Natali |
Peço emprestado ao jornalista Ricardo Boechat esse seu panfletário desabafo, lavrado em plena telinha do noticiário da TV Bandeirantes, diante do comportamento brincalhão, de circo, segundo ele, do Congresso brasileiro em meio à atual crise econômica e política do Brasil, mais uma entre tantas outras a se arrastar pelo caminho da nossa História.
Dá vontade de vomitar, desabafou Boechat, como a gravar um epitáfio, uma inscrição tumular na esperança de quem ainda vê deputados e senadores um dia despertarem para suas responsabilidades para com o Brasil, país continental com 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados de território, sete mil quilômetros de litoral, mais de duzentos milhões de habitantes, nem todos brincalhões.
Estas poucas linhas têm a pretensão de ser um instantâneo fotográfico do que acontece no Brasil agora. É um presente meu ao mundo inteiro lá fora. Aqui dentro do País o endêmico mal do estômago é antigo e notório. O pessoal de fora talvez não saiba. Nada mal uma fotografia do momento para enquadrar e melhor entender o panorama nauseante.
Se há uma marca típica dessa crise, afirmou o professor da Universidade do Rio Grande do Sul, Francisco Ferraz, é a absoluta predominância dos interesses pessoais e partidários que se sobrepõem despudoradamente aos interesses nacionais. O gigantesco aparelho estatal, confirmam editoriais da imprensa, jamais será suficientemente grande para saciar o apetite dos políticos espertos que se sentem fortes para obter vantagens do governo. Esse o enquadramento da foto.
Os parlamentares brasileiros comportam-se como num agitado canil, esperando a presidenta Dilma Roussef jogar comida, leia-se cargos, para aí, sim, talvez, improvavelmente, cumprirem seus deveres para com o país.
Os parlamentares brasileiros comportam-se como num agitado canil, esperando a presidenta Dilma Roussef jogar comida, leia-se cargos, para aí, sim, talvez, improvavelmente, cumprirem seus deveres para com o país.
Depois de entregar sete ministérios para o PMDB, Dilma vai liberar emendas de uma pá de parlamentares de diversos partidos para amarrar bem a compra e venda de cargos. Sim, no Brasil os políticos cobram para cumprir o dever que enfim não cumprem. Cobram para pensar no País e enfim não pensam.
Nítido enquadramento desse comportamento de canil foi registrado pelo diafragma do equipamento fotográfico do vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, PP-PR, quando disse que tem dez cachorrinhos chorando e só um deles recebeu uma teta com muito leite e os outros não. Só o PMDB, conseguiu matar a fome, disse o parlamentar, os outros não. A gritaria está grande, proclamou ele, leia-se latidos altos. Sim, não dá para acreditar nesse governo que aí está, e em nenhum outro nesse sistema brasileiro de canil.
Então, eis aqui, para o mundo, o instantâneo do momento nauseante do País:
Então, eis aqui, para o mundo, o instantâneo do momento nauseante do País:
- o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, suspeito de ter contas na Suíça com 23 milhões de dólares provenientes de propina em obras da Petrobrás, é o mesmo que detém o poder de encaminhar pedidos de impeachment da presidente Dilma, despejados na Câmara pela oposição, derrotada nas urnas em 2014, oposição essa atualmente dispersa em uma sopa de interesses de quem é, já foi ou virá a ser oposição.
- Sai na foto também uma alta autoridade da República, o presidente do Tribunal de Contas da União, TCU, Augusto Nardes, que reprovou as contas de 2014 da presidenta e assim nutre a esperança da oposição em insistir no impeachment de Dilma Russef . Ex-deputado pelo PP gaúcho, Augusto Nardes é investigado pela Operação Zelotes da polícia federal, que apura esquema de corrupção destinado a anular a cobrança de bilhões em tributos federais sonegados por grandes empresas. Ele diz que já foi, mas não é mais, sócio de uma dessas empresas.
- O instantâneo mostra finalmente a figura do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. Ele não consegue reunir fórum no Congresso para apreciação de vetos da presidente Dilma a projetos que criam vultosas despesas e podem conduzir o país à definitiva bancarrota. Esses projetos foram apresentados com o nome hilariante de pauta bomba pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ao modo de uma inconsequente dança de viola, para comemorar festivamente a queda definitiva do governo Dilma. E quem é o presidente do Senado? Há inquéritos contra o senador Renan Calheiros, suspeito também ele de receber recursos desviados da Petrobrás. O presidente do Senado Federal insistiu durante um semestre inteiro em alvejar o Palácio do Planalto, em uma vendeta por ser investigado na Operação Lava-Jato, que apurou desvios de mais de 20 bilhões de reais da Petrobrás e já julgou e encarcerou megaempresários e agentes públicos envolvidos.
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