sábado, 12 de setembro de 2015

RARIDADE: VANDRÉ INTERPRETANDO A CANÇÃO QUE COMPÔS PARA GUEVARA.

EU já postara esta autêntica preciosidade no início de 2012: tratava-se de um link para baixar a música, mas acabou sumindo. Quando alguma boa alma a disponibilizou no Youtube, pude trazê-la de volta para cá.

Trata-se de uma canção dedicada a Che Guevara, na intepretação do Geraldo Vandré e Trio Maraya. Mais uma preciosidade para ser curtida neste 12 de setembro em que Vandré chega aos 80 anos.

O companheiro Vitor  Nuzzi gentilmente dissipou minhas dúvidas sobre esta Che, enviando-me trechos de sua biografia do artista que, após muitos percalços, será finalmente lançada pela Kuarup (vide aqui);
"...na verdade, eram duas músicas, conforme lembra Lúcia, mulher de Marconi [integrante do Trio Maraya]. 'O Marconi fez ela instrumental. Quando perguntavam, ele dizia que era homenagem aos gaúchos, para não se complicar', lembra, rindo. (...) E a música de Marconi –sem sequer ter letra– foi censurada.

Segundo Lúcia, Vandré sempre quis pôr letra, mas Marconi nunca aceitou. E assim nasceria um segundo Che, quando o grupo todo foi para a Europa. Tempos difíceis, pré-AI-5, clima de vigilância no ar.  Os cartões enviados da Bulgária chegavam abertos. 'O Marconi acabou fazendo uma outra melodia, e o Geraldo fez a letra.'"
Cheguei a cogitar que se tratasse da música de Walter Franco que Vandré defendeu num Festival Universitário da Canção Popular. Mas, esta era outra, sobre a qual encontrei o seguinte depoimento do blogueiro Waldir Mengardo:
"No Festival Universitário da Tupi, em 1968, Geraldo Vandré, junto com o Trio Maraya, defendeu uma música de Walter Franco chamada Não se queima um sonho. Era uma alegoria a Che Guevara que foi classificada na sua eliminatória e depois sumiu na final do Festival sem nenhuma explicação. (...) Era mais ou menos assim: Seu sonho sem mortalha/ Cercado de solidão/ Eu trago bem guardado/ Na espera e no coração/ Vem oh! meu companheiro Che/ seu sonho quero lhe dar..."
Nuzzi, por sua vez, esclareceu ter o festival da Tupi ocorrido logo depois do alvoroço de 'Pra não dizer que não falei das flores' no Maracanãzinho. O maestro Rogério Duprat, na época, criticou a composição de Walter Franco: "Se Guevara estivesse aqui não ia gostar nem um pouco. É preciso acabar com toda essa choradeira em torno do guerrilheiro, não é assim que se faz uma revolução".

Quanto à canção que junta os versos do Vandré e a segunda melodia do Marconi, acima disponibilizada, eis a letra:

Perdoa minha canção
Se canta só minha boca
Se tem forma de oração
Se a minha voz fica rouca
Qual arma sem munição
Se ela é franca, mas é pouca
Enquanto fica canção

Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Vida e barbas por fazer
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
E um dia, de repente
Foi morto num amanhecer

Na frente de todo mundo
Pra todo mundo aprender
Quem afrouxa na saída
Ou se entrega na chegada
Não perde nenhuma guerra
Mas também não ganha nada

Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Sobe monte desce rio
Vida e barbas por fazer
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
E um dia, de repente
Fez da morte mais viver

Quem seguia teu caminho
Não podia te prender
E mesmo por traição
Pensando que te matava
No meu corpo americano
Fincou mais teu coração
No meu corpo americano
Fincou mais teu coração

Perdoa minha canção...

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