"Não podemos ter uma visão simplista de que dia 16 foi fora Dilma! e de que dia 20 é viva Dilma!, porque não é.
o ato é contra o golpismo que pretende a derrubada da presidente Dilma Rousseff para substituí-la por alternativas à direita, mas não está defendendo um governo que é indefensável do ponto de vista da política econômica e do ajuste fiscal que vem conduzindo."
(Guilherme Boulos, líder dos sem-teto, desmentindo a propaganda governista)
21 comentários:
Piada! Quem faz manifestação contra o governo com o governo? Ainda mais tendo uma pauta fictícia e criada pela propaganda governista do "golpe contra Dilma"?
Leia o manifesto de convocação do ato: é o mais veemente repúdio até hoje proveniente da esquerda contra o pacote de maldades do Joaquim Levy.
Retórica pura. Não se pode condenar o funcionário e deixar intacta a chefe. A política econômica é do governo petista, Levy é apenas o executor. Atacar o Levy e defender a Dilma é um ato esquizofrênico e falso, soa a tentar separar a condução política da condução econômica, como se Dilma fosse uma pobre vítima de uma chantagem e que tudo aconteceria à sua revelia. Quando, na verdade, o modelo econômico atual é fruto de uma decisão deliberada e consciente do petismo em sua fase decadente, o qual se soma a medidas repressivas (lei anti terrorismo e militarização social) e de estrangulamento da democracia (reforma política conservadora).
É estranho movimentos sociais pedirem a permanência de um governo que não faz nada por eles. E alguns desses movimentos, como a UNE e a CUT, realmente a apoiam o governo,infelizmente.O governo tem todos os recursos necessários pra se defender e se sair será por seus próprios erros. Essa manifestação deveria pedir exclusivamente a mudança do governo.
Há um paradoxo aí. Mauro Iasi diz algo interessante a respeito:
http://resistir.info/brasil/iasi_tres_crises_13ago15.html
Celso, eu tenho uma orientação política que considero de direita, conservadora e fundamentalista religiosa. Cheguei a isso por experiencia de vida e estudando de forma autodidata mesmo, porque minha formação acadêmica não tem nada a ver com economia e política. Creio ser dever de todo cidadão se informar. Por isso frequento esse blog. O que você disse de controle das empresas por funcionários e evitar com isso o aparelhamento político partidário é muito interesasante. Acho muito importante aprender com os dois lados, para tentar ter sempre uma visão imparcial do conhecimento.
O Filipe Santos não falou comigo, mas vou, se ele me dá licença e for do seu agrado, comentar o que escreveu.
Esse tendência de papear com todo mundo (o "cérebro poroso" de que fala o Gikovate) é muito boa e correta em minha opinião. Não tenho nem sombra de dúvida de que se trata, deve se tratar, do normal das relações, na rua, na padoca onde paramos para um café, nos nossos locais de trabalho. Dou-me até muito bem com diversas pessoas que se apresentam como conservadoras. Não são muito conservadoras em minha opinião. Gente preconceituosa, cheia de presunções e refratária a absolutamente tudo existe de todo jeito. Conheço muita gente de esquerda assim. Dogmática, sabe como é?
Pra mim, as pessoas tão babando umas contra as outras principalmente devido a um estado de espírito viabilizado pela internet. Penso que a nossa situação, quanto à internet, é comparável à do sujeito que nunca comeu melado, e, quando come, se lambuza todo. Os muitos falando para os muitos: coisa nova na história da humanidade.
Eu mesmo leio autores tidos como conservadores. Como não vou querer ler, por exemplo, um Gilberto Freyre? Ou um Câmara Cascudo? Ou um Malba Tahan?
Do ponto de vista político, nós precisamos trabalhar por uma Democracia muito mais madura, um SENTIMENTO de Democracia, em que a simples opinião do nosso semelhante não cause tanto melindre, tanta histeria, tanto ataque de frescura assim como causa na atualidade. Um dia, a maioria do povo aprenderá a formar opinião de um jeito muito mais firme, mais sério mesmo. Precisamos viver processos que façam amadurecer o nosso povo, para mais, para frente, e para cima.
Eduardo Vianna, te dou toda licença, se o Celso permitir, claro!
Podemos ter convicções diferentes, mas se estivermos abertos ao diálogo, poderemos descobrir que aquilo que acreditamos é melhor ou pior que imaginávamos. Confesso que não leio quase nada que seja ideológico. Minha formação é na área de eletrônica. Mas tenho tido algum contato com a área de economia. Pelo que estudei, estou bastante convencido que as ideias liberais funcionam melhor que as da esquerda, em especial em momentos difíceis. O próprio PT provou isso, quando Lula chamou Henrique Meirelles no início, e ainda mais agora com o Levy. Poderiam falar algo quanto a isso?
Obrigado.
Olá, Filipe, é um prazer dar continuidade a esta conversa.
Este assunto do liberalismo, na América Latina, é muito rico e revelador. Provém do séc. XIX, de maneira que, durante muito tempo, a polarização da política deu-se entre os partidos liberais, por um lado, e os partidos conservadores, por outro. Mas esses dois, quando tinham a oportunidade de exercer o poder político, eram muito semelhantes ao partidos de hoje: os liberais no poder assumiam sempre posições conservadoras, enquanto os conservadores, na oposição, faziam uma pregação mais ou menos liberal. Os liberais da época eram geralmente pela abolição da escravatura, pela industrialização, e pela descentralização do poder político. Houve nesse sentido uma tradição liberal na América Latina, bem demarcada, associada, por exemplo, ao surgimento da Imprensa em larga escala. Haveria muito mais o que dizer a respeito.
Na atualidade, as posturas liberais (ou neoliberais, embora "neoliberalismo" não seja um termo muito preciso) aparecem apenas como um meio para a acumulação do capital. Se formos rever o que há no patrimônio liberal, para a mesma América Latina, mas aqui no séc. XXI, chegaremos ao que representou um projeto como o da Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA. Significaria nada menos que o desfazimento do Brasil, para usar as palavras de Darcy Ribeiro: o desmonte da indústria brasileira em nome de uma fictícia "integração norte-sul", a seção de terras brasileiras, como a maranhense Alcântara, para a instalação de uma base militar norte-americana, e a instauração de um Forum Arbitral, com sede nos EUA, acima dos parlamentos e tribunais dos países que aderissem à ALCA, que decidiria o que e como produzir nos nossos países, sob a mão, sempre de ferro, do sistema financeiro internacional.
Nos governos Lula e Dilma, não temos a ALCA (tornará a ser um problema no futuro, sem dúvida), porque foi derrotada pela mobilização popular em 2002, mas temos o regime do poder total dos bancos, que nunca são nacionais e nunca têm outro objetivo que não seja o da acumulação do capital, isto é, do seu próprio poder. Eis um motivo principal para a dívida pública: você tem as instituições financeiras, que sustentam o Estado emprestando dinheiro, e que multiplicarão esse dinheiro elevando a taxa de juros, para que o poder político devolva-lhe juro em cima de juro. Por este motivo, em 2015, o governo dá quase a metade do PIB aos bancos!
Não é que Levy seja uma nova opção liberal, contra uma opção anterior. Trata-se, ao contrário, da intensificação de um modelo que beneficia os bancos e suas ramificações, por meio do crédito bancário + dívida pública durante o governo Lula, em que foi levado a cabo um arrajo entre o sistema financeiro e o governo: a meta principal era a de ampliar o consumo popular, por meio do crédito bancário. Um modelo como este, é óbvio, não pode durar muito. O governo Lula também foi um governo neoliberal, embora o alto nível de consumo popular, com um dinheiro que não estava realmente nos bolsos do trabalhador, e portanto a APARENTE melhoria que houve quanto ao nível de renda, fizessem e ainda façam muita gente acreditar que Lula conduziu um governo "popular". Levy aparece para "ajustar" o sistema anterior às condições de sua exaustão, com elevação da taxa de juros, corte de investimentos, aumento de tarifas etc.
Lamentavelmente, não temos, neste momento, nenhuma alternativa ao atual estado de coisas, e também sobre isto haveria mais o que dizer. O que temos, como um resultado da nossa longa tradição de leveza para o capital e peso para o trabalho, é, por exemplo, a situação em que um país tão rico como o nosso tem apenas 40% da população com acesso a alguma coisa tão fundamental como saneamento básico. Assim como educação pública de verdade e saúde pública de verdade, saneamento básico não dá dinheiro.
Obrigado Eduardo e Celso, pela oportunidade de diálogo.
Resumiu bem muita coisa do que penso. Muito do crescimento do governo Lula foi fruto de endividamento, do trabalhador e do próprio governo. Além disso, foi uma época em que a China comprava minério de ferro e outros produtos em enorme quantidade e bom preço. O petróleo estava muito mais valorizado, então foi um momento único. Faltaram reformas estruturais no Brasil para melhorar nossa competitividade e reduzir o endividamento. Enfim, o ajuste do Levy foi uma tentativa desesperada de corrigir a série de erros. No governo de FHC houve uma preocupação maior com essas reformas e graças a elas o Brasil pôde melhorar. O Lula depois só surfou a onda, e levou os méritos. Óbvio que também ocorreram vários pontos positivos no governo do Lula; mas a redução da pobreza se deu em grande parte devido ao bom momento que a situação internacional permitiu.
Eu acho estranho as pesadas críticas que petistas fazem aos bancos no Brasil, pois o maior banqueiro do Brasil é o governo. BB, Caixa, BNDES... Deve ser mais da metade de todo o sistema (me corrijam se estiver errado). Haveria, penso eu, força para enfrentar o sistema.
Eu creio que o capitalismo é um bom sistema, mas deve haver uma ação do governo para melhorar as oportunidades de menos favorecidos, por exemplo, ajudando no acesso à educação e trabalho. Só dar bolsa de faculdade não é suficiente. Deve haver um planejamento para fomentar empresas que contratem profissionais de áreas tecnológicas, que agrguem valor aos produtos. Só exportar matéria prima não dá. Somos um país pobre, Eduardo. O PIB é semelhante ao da França, mas a população é 3 vezes maior!
Bom dia, Filipe, ou boa tarde, ou boa noite.
Pois é, nós somos um pobre país riquíssimo. E também um país diferente dos demais. A "independência do Brasil" deu-se por meio de um negócio entre pai e filho, a República foi proclamada em meio a um golpe militar, e a Democracia está repleta de estruturas do puro autoritarismo. Nós somos um país patrimonial, patrimonialista, e burocrático, daquela burocracia mais viciada, pesadona, bem cartorial, em que nada acontece sem o carimbo de Fulano e a assinatura de Belrano. Também somos um país de carteirada, de desprezo pela LEITURA, de muito autoengano e de muita violência.
Neste momento, dificilmente estaríamos em condições de ter uma ideia satisfatória sobre a riqueza do Brasil. Para que chegássemos a isto, a dívida pública deveria ser SEVERAMENTE AUDITADA, tão grave é o comprometimento da riqueza nacional, diante da sua patrimonialização constante. Existe uma organização aqui no Brasil, chamada Auditoria Cidadã da Dívida, com umas posições muito firmes quanto a este assunto, mas muito pouco ouvida ou consultada pela nossa atual esquerda; estive muito com esse pessoal anos atrás, em algumas ocasiões. E também há a simples desigualdade social, desde sempre, de maneira que a regiões do Brasil sejam tão abissalmente distantes, por exemplo, quanto ao desenvolvimento das forças produtivas.
O capitalismo é um bom sistema? Em alguns aspectos, sim. Eu penso, por exemplo, que num sistema socialista, orientado para o socialismo, as pessoas deveriam ter todo o direito a possuirem negócios próprios e de serem deixadas em paz nos seus empreendimentos, com todas as liberdades pessoais e civis, com ampla liberdade de organização para toda finalidade saudável, liberdade política irrestrita, plena liberdade de religião e consciência, e CONTROLE POPULAR DA POLÍTICA: uma democracia socialista, que só poderia prosperar em países muito mais desenvolvidos segundo a acertada opinião de Karl Marx. No atual Brasil, muito longe de qualquer socialismo embora a extrema-direita diga que somos uma "ditadura comunista" (até o Facebook é "comunista" na fantasia desses caras), as liberdades a que me referi só são possíveis para quem tem dinheiro. São palavras da mediocridade brasileira, sempre tão orgulhosa de si mesma: você vale aquilo que tem nos bolsos.
O aumento da violência no Brasil é um negócio gritante, berrante, quase desesperador. E de onde provém? Segundo aquilo que sei, provém da desvalorização permanente do trabalho, porque a desvalorização permanente do trabalho significa a desvalorização permanente da vida humana. O resultado são todos os homicídos, suicídos (vinte e cinco por dia aqui na "Pátria Educadora"), alcoolismo, analfabetismo funcional (uma massa que trabalhe barato deve receber uma péssima instrução pública), e por aí vai.
Mas pode e deve haver um futuro muito diferente para o Brasil. Há um pensamento sobre o país, muito original e libertador, que é o de Darcy Ribeiro. Recomendo este autor com entusiasmo.
Bom dia Eduardo.
A burocracia brasileira é uma "burrocracia". É muito cara, porque atrasa processos demais, e permite o uso de propina para acelerar coisas que não deveriam ser lentas. É uma das coisas que faz com que o Brasil nunca consiga ser primeiro mundo. Desse jeito, não dá.
A auditoria da dívida é algo urgente e extremamente necessário. Não sei porque nunca se mexeu nisso. O FHC aumentou muito a dívida pública porque absorveu dívidas de estados e municípios, me parece que até do antigo BNH, nos acordos necessários para implantação do plano real. Não vejo problemas nisso, mas o erro de FHC foi não ter auditado a dívida depois. Mais errado ainda foi o PT, que está indo para o dobro do tempo de FHC no governo e nunca fez nenhuma força nesse sentido.
Somos um país pobre mas com riquezas. Acontece que riquezas naturais não são garantia de povo rico. É necessário, no mundo de hoje, tecnologia para agragação de valor e isso não temos. A indústria está sucateada. Se vc lida com programação de embarcados e quer importar um kit de desenvolvimento, ele custa 39 dólares nos EUA. Aqui, 400 reais. É muito difícil ser aluno ou desenvolvedor no Brasil, em comparação a países desenvolvidos. Até porque o governo taxa tudo de forma exorbitante, de forma burra, porque assim atrapalha o surgimento de conhecimento que depois seria muito mais produtivo.
Associar a violência à pobreza não é inteiramente verdade. Porque então na Índia não vemos os mesmos problemas em comunidades pobres? A questão é, também, cultural. Pessoas que querem ter, não podem, mas acreditam que merecem. Mas você está certo em defender a valorização do trabalho.
Valorizar o estudo e o trabalho honesto é o primeiro passo para o desenvolvimento de qualquer país.
Agostinho Neto, o grande artífice da Independência de Angola, tinha esta frase curiosa: "Angola é dos países mais ricos em diamantes; esta é a sua ruína".
E a violência no Brasil tem um fundo cultural, claro. Mas é uma violência que provém, primeiro, das classes dominantes: da expulsão do homem da terra para que prevaleça o coronel, da escravidão do negro em nome de uma estrutura econômica, enfim, do imenso patrimonialismo, e também da soberba, que sempre pertenceram às oligarquias do Brasil. É este o espírito que faz, por exemplo, o maldito Fernando Collor orgulhar-se do avô, porque este matou a tiros um político rival, dentro da Câmara, no meio da sessão.
Mas nós vemos a opressão, de verdade, quando se espalha no meio do povo, do povão grandão. É um desacerto só.
Não sabia essa do Collor. Tem uns caras que eu não sei como conseguem se reeleger. É uma pena para o Brasil.
Eu acredito que muitos dos problemas que você citou causados por classes dominantes foram solucionados pelo menos em parte com o desenvolvimento do capitalismo. Quando bem exercido, o capitalismo força competitividade, tanto global quanto regional. Para isso, se investe em educação, infra-estrutura e produtividade. Agrega-se valor aos produtos e serviços através do uso da tecnologia. Bons profissionais são valorizados, porque empresas também vão procurar os melhores. Não é interessante a ninguém (inteligente) que tenha uma massa de excluídos que depende do governo pra tudo! A verdadeira inclusão social é permitir que esses pobres sejam competitivos, que possam estudar e se aprimorar. Permitir acesso a credito não é remédio para tirar país nenhum da pobreza.
Me chamou a atenção você dizer o que o Celso já disse uma vez: o socialismo só daria certo em nações desenvolvidas. Então ele não tem capacidade de desenvolver um país?
Sim, o socialismo desenvolve as forças produtivas. Veja, por exemplo, a China. Eles entendem que não são socialistas ainda, o Partido Comunista e seus apoiadores travam debates longos e ricos a este respeito. E, com todos os problemas e contradições que eles têm por lá (a vida é feita de problemas e contradições), as forças produtivas foram desenvolvidas em meio a processos abertos pela Revolução em 1949. Haveria o que dizer sobre como os chineses podem reduzir bastante o seu crescimento anual sem perderem indústria, e muitíssimo ingênuo será quem disser que isto se deve ao "trabalho escravo", e sobre como se tornaram capazes de projetar e construir as cidades mais modernas e limpas do mundo, sob rigoroso planejamento urbano -- sem dúdiva nenhuma, muitas das soluções aos problemas ambientais do séc. XXI virão de lá. Isto parecerá um absurdo a quem procura se informar sobre o mundo apenas lendo a Veja, ou apenas acompanhando a Globo, ou a CNN, ou apenas presumindo coisas. Há grandes empresas de comunicação muito mais plurais quanto a fontes de informação e diversidade de olhares, como a Al Jazira, daqueles loucos e perigosos árabes.
Mas o socialismo seria mil vezes melhor implementado num país capitalista desenvolvido porque o captalismo é um sistema global, que quebrará facilmente um país fraco que queira ser socialista. Foi o que aconteceu agora há pouco na Grécia: Tsipras não pôde pôr em prática nem mesmo o seu plano de governo, acossado pelo sistema global.
Para que o socialismo possa surgir em um ou alguns países capitalistas avançados, a crise do capitalismo deve se aprofundar, e devem aparecer meios de produção mais robustos, isto é mais modernos e baratos, capazes de sustentar uma renovada experiência de socialismo. As impressoras 3D, que são máquinas replicantes, o futuro da manufatura, cuja operação tende a ser quase gratuita quanto aos custos de produção e inteiramente livre, a certa altura, de patentes ou qualquer propriedade intelectual, são exemplo dos meios de produção em uso em algum novo país socialista, em algum momento entre as próxima décadas. Creio que aquele pedaço do Norte da Europa poderia encontrar o socialismo antes dos outros países mais desenvolvidos, no futuro.
Conheço alguma coisa da China, e sei que foi feito um enorme esforço e planejamento para permitir os níveis de produção que alcançaram. Mas aí está: quem desenvolveu a China foi o capitalismo! E dos mais selvagens. Com direito a enormes empresas, bolsas de valores, investimentos internacionais... A parte socialista é a ditadura, que já matou milhões de pessoas no passado.
A Coréia do Sul, por exemplo, melhorou os níveis de educação e entrou com tudo no sistema, e conseguiu um desenvolvimento notável.
O problema da Grécia é mais um exemplo. O Tsipras não colocou seu plano em prática porque estava afundado em dívidas, que vinham sendo feitas muitos anos seguidos. Como no Brasil: a crise não começou agora, começou anos atrás, e estourou agora. A Grécia e o Brasil sofrem as consequências de suas políticas irresponsáveis de longo prazo. Não adianta botar a culpa no sistema; quem faz o dever de casa passa menos trabalho nas provas da vida! Outros países utilizaram medidas de austeridade e saíram da crise, ou estão saindo.
As impressoras 3D são máquinas fabulosas, mas pense: sobre qual matéria-prima trabalhão? Algum polímero plástico, fazendo engrenagens, por exemplo. Não podem desenvolver nada complexo, como um celular ou aparelho eletrônico, ou software. Podem fazer roupas, ou sapatos? Comida? Carros?
Eu acho que talvez essas tecnologias vão impulsionar ainda mais o capitalismo, como aplicativos tipo o Uber vem fazendo. Pequenos empreendedores lançando produtos e inovando o mercado, e abrindo capitais na bolsa, me parece o futuro a médio prazo.
Mas quero dizer que tenho muita concordância com a maioria das coisas que você escreveu aqui, Filipe. Eu também não suporto o discurso imensamente venenoso de que os coitadinhos da sociedade devam ser tratados como bebês, ou de que os problemas das favelas resolvem-se mudando o nome para "comunidade": esta é a pior hipocrisia em minha opinião, a qual se chama demagogia. Quem embarca nessa, seguirá alegremente qualquer cara de pau disposto a dizer exatamente aquilo que a plateia quer ouvir, com tanto mais sucesso quanto mais talentoso for em sua prestidigitação.
Quanto às relações de uma maneira geral, também considero que o MÉRITO deva ser sempre uma coisa impostantíssima, porque, sem a clara noção do mérito pessoal, da relevânia do mérito, da justiça do mérito, não poderemos aplaudir a criatividade dos criativos, por exemplo. Mas deve haver, antes, igualdade de oportunidades. A sociedade brasileira é tão atrasada em todos os sentidos, que mesmo esta coisa tão simplezinha soará como altamente revolucionária quando formos lá trabalhar e lutar por isto, pela REAL igualdade de oportunidades.
As impressoras 3D são parte das novas forças produtivas, e estou interessado principalmente nisto.
A matéria-prima principal é o plástico. E de onde pode provir? Do próprio plástico! Recomendo com entusiasmo os estudos de uma organização científica italiana, chamada Centro Internacional Adbu Salam de Física Teorética, que versam sobre como a impressão 3D seria a única tecnologia capaz de dar conta da produção de plático no mundo, por meio do reaproveitamento de polímeros. O chamado lixo eletrônico, drama ambiental de proporções apavorantes, assunto ainda não posto sobre a mesa bagunçada do mundo, teria aí a sua solução, tanto em termos de engenharia quanto de economia. Você encontra as publicações científicas desse instituto aí pela Web, é um assunto apaixonante. As impressoras 3D podem, sim, produzir roupas, sapatos, carros, máquinas, e até mesmo casas e prédios! Não temos isto muito claro, porque a sua utilização em larga escala ainda não começou. Como eu disse, recomendo os materiais até agora disponíveis sobre esta matéria, em especial os do Centro Abdu Salam, numerosos, muito ricos em dados. Já existem, por exemplo, automóveis eléticos produzidos via impressão 3D, experimentais, além de aparelhos e ferramentas de alta complexidade, como máquinas agrícolas, além das próprias impressoras.
Quanto à longevidade do capitalismo, temos a ideia muito original de um economista norte-americano a quem acompanho, que não é marxista, chamado Jeremy Rifkin. Ele sustenta que a presente etapa da revolução industrial cria meios de produção novos, capazes de descentralizar/democratizar partes crescentes da produção, inclusive de energia elétrica por meio de computadores numa rede P2P, e INDIRETAMENTE, portanto, da produção de alimentos. Provavelmente você, formado em Eletrônica, conheça melhor do que eu as diretrizes para a produção e distribuição de eletricidade por meio de computadores em rede. A discussão dele é sobre o que enxerga como a obsolescência do capitalismo, e trata-se, também, de um assunto para o futuro. Rifkin considera que o próprio capitalismo, na atualidade, em seu aspecto de sociedade tecnológica, cria uma das condições fundamentais à superação do sistema, que é a redução progressiva dos custos marginais de produção. Os computadores, hoje, são basicamente máquinas de cálculo e instrumentos de comunicação. Amanhã, serão máquinas de produção, enxergadas assim por todo aquele que as opere.
Agora, Filipe, a pergunta mais elementar de todas. O que é o comunismo? O comunismo é uma HIPÓTESE! Pode se tornar um projeto político e social viável e desejável mais tarde; pode criar linhas políticas até muito vigorosas mundo afora, mas é uma hipótese. O que quero dizer com isto é que nenhum processo civilizatório pode ser visto como linear, livre de contradições, algumas dificílimas de compreender e enfrentar, e também que nada é garantido. Reivindico, então, o comunismo como uma saída para a atual etapa da sociedade baseada em alta tecnologia, a etapa que começa agora, com muita atenção quanto à ideia de uma sociedade do conhecimento. Porque o capital e o conhecimento têm necessidades diferentes: o primeiro precisa se acumular, enquanto o segundo precisa se expandir, compartilhar-se a si mesmo. Assim, o "meu" comunismo tem muito pouco a ver com experiências anteriores, como a da antiga URSS.
Por outras palavras: o capitalismo criou uma ficção chamada "sociedade do conhecimento", cujo objetivo revolucionário de converter em realidade caberia àquilo que aponto como a emancipação das forças produtivas. Eis aí a hipótese, certamente cheia de imprecisões e falhas, que tenho estabelecido como o meu objetos de estudos quanto ao comunismo.
Eduardo, as impressoras 3D são escultoras fantásticas, mas quis dizer que elas não podem, por exemplo, fazer um chip de computador. Há um limite para o que uma máquina possa fazer, mas elas são sim revolucionárias. Em robótica, por exemplo, temos a noção de máquinas especialistas, que fazem apenas tarefas específicas, e robôs complexos reprogramáveis que fazem de tudo. Estes são mais caros e até mais lentos, mas compensam com flexibilidade para vários serviços. O que quero dizer é que acho precipitado dizer que alguma tecnologia vá mudar todo um sistema em médio prazo; é mais provável que se ajuste a ele, como o Uber vem fazendo. Vou estudar isso melhor.
Quanto ao conhecimento, ele também precisa se acumular. Creio ser importante locais ou empresas desenvolverem conhecimentos específicos, com vantagens frente aos concorrentes. Vejo esse conhecimento como um capital não tangível. Há uma base do conhecimento que precisa sim se expandir, e ser ensinada nas universidades para que os trabalhadores possam, depois, usar como base e desenvolverem suas próprias tecnologias.
Não estou dizendou que uma tecnologia em específico vá mudar o sistema.
Estou dizendo que muitas delas podem fazê-lo, num determinado contexto social e político, e sob um determinado arranjo entre as classes socias.
Na verdade, é o que sempre tem ocorrido, desde o aparecimento da agricultura. Os modos de produção se superaram uns aos outros e as sociedades se modificaram SEMPRE desse modo.
Sim, entendi, mas o que quis dizer é que acredito que as novas tecnologias vão se moldar ao sistema capitalista, modificá-lo até, mas não extingui-lo. Com tempo, outro modelo provavelmente surgirá, mas não acredito que isso seja a curto ou médio prazo.
O que temo agora é a situação do Brasil, com desemprego aumentando e inflação. Penso na situação dos haitianos, ficando desempregados. Logo passarão fome no Brasil. É um dos lados mais cruéis da crise.
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