terça-feira, 25 de agosto de 2015

"A CULPA É DA CHINA!". ME ENGANA QUE EU GOSTO...

Está na Folha de S. Paulo desta 3ª feira, 25:
"Em mais um dia de fortes turbulências na China, o Palácio do Planalto considerou preocupantes os efeitos da piora do cenário externo sobre o Brasil porque vão dificultar ainda mais a recuperação da economia brasileira neste ano e no próximo. 
O receio da equipe presidencial é que uma desaceleração chinesa acentue a retração da economia brasileira em 2015 e gere risco real de o país continuar em recessão em 2016, algo que o governo vinha descartando".
Uma gracinha, não? Eis que cai do céu uma desculpa para a recessão que inevitavelmente ocorreria também em 2016. A culpa é da China!, dirá a Dilma. Como, aliás, já está dizendo:
"Até eu voltar [da reunião] dos Brics [em julho], estava achando que [a crise econômica no exterior] era superável. Só não contava com essa queda sistemática. Estava achando que era superável por tudo que eu sabia. Ia ter dificuldade, mas não ia ter uma situação muito difícil. A partir de hoje, não sei. Ninguém sabe".
Ou seja, desse "tudo" que ela, como presidenta, "estava achando" em julho, ficou de fora a avaliação do FMI na sua reunião de abril, sobre a qual eu escrevi no dia 23/04: 
"O Fundo Monetário Internacional, no seu encontro da semana passada, colocou os pingos nos ii: o PIB brasileiro deverá ter evolução negativa em 2015 (-1%) e baixo crescimento no restante da década: 0,9% em 2016, 2,2% em 2017, 2,3% em 2018, 2,4% em 2019 e 2,5% em 2020. 
Segundo as previsões do FMI, que costumam dar certo ou chegarem perto disto, a tendência é de que não atinjamos, na atual década, nem sequer metade do crescimento alcançado na década passada, que foi de 3,6% ao ano. 
A recessão será brava em 2015 e 2016, com os quatro anos seguintes trazendo algum alívio, mas ainda nos deixando bem longe dos cenários comparativamente auspiciosos da década anterior".
Conclusão óbvia: se em julho a Dilma não levava em conta um quadro negativo que o FMI havia escancarado três meses antes, é melhor colocarmos as barbas de molho. Pode ser que tenhamos uma Edward John Smith (o comandante do Titanic) na Presidência. E o iceberg está cada vez mais próximo...

Mais: na 2ª feira da semana passada, sete dias antes do crack da bolsa chinesa, O Estado de S. Paulo informava que analistas agora projetam dois anos de recessão na economia. Eis os parágrafos iniciais:
"Pela primeira vez no Relatório de Mercado Focus, analistas do setor privado estimam queda da atividade também em 2016. Além disso, os analistas mais pessimistas também renovaram suas apostas para baixo no caso da inflação e dólar. A estimativa mais negativa agora mostra uma inflação na casa de dois dígitos em 2015 e o dólar em R$ 4, também pela primeira vez no relatório. 
De acordo com o documento divulgado pelo Banco Central, a mediana das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem passou de 0% da semana passada para um recuo de 0,15%. Há quatro semanas, a taxa vista era de alta de 0,33% para esse indicador. 
Para este ano, a deterioração das previsões do mercado financeiro para a atividade no País também está cada vez mais forte. De acordo com o boletim Focus, as projeções para o PIB de 2015 foram revisadas de uma queda de 1,97% para uma baixa de 2,01% agora. Há um mês, a previsão estava negativa em 1,70%".
Ou seja, as perspectivas já eram bem ruins em abril e pioraram ainda mais nos meses seguintes, de forma que, com ou sem crack na China, Deus e o mundo já sabiam que a continuidade da recessão era uma certeza para 2016. Menos a Dilma, que agora tem um ótimo pretexto para jogar a culpa dos seus fracassos nos cenários externos, como sempre faz.

Um comentário:

Marcos Lourenço disse...

O professor Reinaldo Gonçalves da UFRJ numa entrevista disse que a herança maldita do PT é pior do que a deixada por Fernando Henrique. Disse isso devido a desmobilização do trabalhador via corrupção das entidades mais representativas de luta [MST, UNE, CUT, etc.].

James Petra numa recente entrevista disse que: " PT é tema ultrapassado, tem um presente degradado e não tem futuro. Há o que pensar noutra coisa para os próximos dez anos".

Causa arrepio em pensar no desmonte dos direitos sociais que a direita tentará enquanto se forma uma nova frente realmente representativa em defesa dos mais oprimidos. Isso levará muito tempo.

Os banqueiros, industriais, grandes ex-tucanos [Bresser] pregam a continuidade de Dilma no poder tão somente porque a saída dela do governo precipitaria os trabalhadores na rua e cessaria os imensos lucros.

Saída nas ruas não para defender Dilma, PT, mas para defender seus direitos e seguir novas lideranças que vão surgindo [Boulos, do MST, por exemplo].

A burguesia esclarecida procura e não acha um agente que não seja do naipe de Temer, Aécio, FHC, Serra. Sabem que um nome saído dos grupos que propugnam o impeachment assumir o poder acelerará o esclarecimento das massas. É o que mais temem.

A permanência de Dilma no governo apenas prolonga essa agonia e incerteza do povo. Por isso o professor Reinaldo Gonçalves propõe "uma ruptura radical" das esquerdas autênticas com Lula e Dilma.



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