Autor: Apollo Natali |
Excelências, digo pensadores da Justiça,
magnânimos fazedores de leis as mais justas possíveis –digo senhores togados que estudam e sabem, que criam e aplicam a lei– suponho nem tenham ideia do que seja a falta de proveito, para os
direitos do consumidor, desse monumental aparato em todo o país dos chamados Juizados Especiais de Pequenas Causas, os Jecs.
Distraída, me parece (com todo o respeito!), quanto à falácia das intituladas conciliações, permite a Justiça que 200 milhões de reles
consumidores sejamos levados para o
matadouro das ditas conciliações dos juizados. Nelas, empresas públicas e
privadas impõem-nos rotineiramente, com suas propostas, abrirmos mão de nossos direitos
por elas violentados e perdão para os crimes que cometeram.
Ora, o consumidor,
comprador de bens e serviços, é a vítima de crimes econômicos em busca de Justiça
nos Jecs. As empresas castradoras de seus direitos, elas são os criminosos,
lobos devoradores, nas conciliações, de quaisquer possibilidades de defesa de
um idoso, um aposentado, um assalariado, um cidadão inculto que ainda não
percebeu o que se passa no mundo mau à sua volta, sobressaltados todos esses em
meio ao clima assustador de um tribunal, pobres cordeiros.
Dizem-me já os meus
sentidos, estão os senhores excelentíssimos a descontarem um ponto de sua
inicial desconfiança quanto ao meu são juízo. Mas é assim que funciona: o consumidor, um cordeiro, sem
direito a assistência, frente a frente com o representante da temível empresa,
um lobo.
É a lei dos Jecs, lobo e cordeiro numa sala, a sós. No entanto, o lobo -com permissão de quem?– invade esse território proibido com seus advogados ameaçadoramente engravatados e suas propostas usurpadoras de direitos e conferem ao consumidor a pecha de réu dos crimes econômicos de que é vítima.
É a lei dos Jecs, lobo e cordeiro numa sala, a sós. No entanto, o lobo -com permissão de quem?– invade esse território proibido com seus advogados ameaçadoramente engravatados e suas propostas usurpadoras de direitos e conferem ao consumidor a pecha de réu dos crimes econômicos de que é vítima.
Os senhores, que
sabem e estudam, duvidem dessa armadilha, não de mim. Duzentos milhões de
cordeiros rezam nesse culto jurídico mal jeitoso de alcance zero de Justiça, em
que os lobos poderosos apresentam sempre sua proposta estripadora de direitos.
Observem vossas excelências, observem aqueles lobos que destroçam nossos
direitos, olho vermelho no olho medroso, pálido, das vítimas em pânico no clima
tenebroso de um tribunal. Há até juízes
que empurram o consumidor para a conciliação. Por quê?
Assim, p. ex., ao consumidor solitário –à
sua frente os advogados inimigos– que se nega a pagar conta por serviços de
responsabilidade que não são seus, e sim de uma empresa pública, acrescidos de
multas descabidas, arbitrárias, resta engatinhar porta afora dos Jecs, cabeça
baixa , boca amarga, sem contabilizar nem
migalhas dos seus direitos desrespeitados.
Por começo, julgam-se nos Jecs causas cíveis de menor complexidade, essa é a lei. Contudo, é de maior complexidade para o chamado reles consumidor, excelências.
Malograda a conciliação, um juiz, um juiz que pode até ser juiz leigo, ora, diz tal lei, expõe ao consumidor, a som de uma ameaça, os riscos de um litígio. Como a dizer perigo, se cuida, consumidorzinho, melhor se manter no nível de um fracassado comum, cidadão de quinta categoria, engolir os prejuízos das propostas das empresas tipo 'pegar ou largar' e fechar o bico!.
Malograda a conciliação, um juiz, um juiz que pode até ser juiz leigo, ora, diz tal lei, expõe ao consumidor, a som de uma ameaça, os riscos de um litígio. Como a dizer perigo, se cuida, consumidorzinho, melhor se manter no nível de um fracassado comum, cidadão de quinta categoria, engolir os prejuízos das propostas das empresas tipo 'pegar ou largar' e fechar o bico!.
Porque para o consumidor que não aceita a
proposta da empresa na conciliação, o litígio significa contratar advogado para
seguir na luta por seus direitos. O litígio abre livre caminho para o lobo
contar com todo o tempo –o tempo, o senhor das injustiças– para dar uma canseira
sem fim no choroso carneiro.
Respeitáveis
togados, ah, meus amigos, a espécie humana peleja para impôr a este nosso
lacrimejante Brasil um pouco de lisura e lógica. Porém, é rir das gentes as
gavetas dos Procons transbordantes de provas de ações lesivas contra
legiões de consumidores.
Montanhas de queixas atestam: nunca dantes neste país seus cidadãos
foram tão espezinhados nos balcões e cativeiros de marketing de megaempresas,
bancos, operadoras de telecomunicações, empresas públicas e um sem número de
ramos, grandes e pequenos. Todo esse povão lesado obedece à sugestão de sua
insignificância, de que nada pode contra os crimes econômicos de que é vítima.
Sou
repetitivo: os Jecs enfileiram cada
um dos milhões de lesados, sozinhos, frente à frente a cada uma dessas empresas
predadoras e seus exércitos de advogados ameaçadoramente engravatados, de
antemão vitoriosos já na conciliação.
Se quiserem,
não me desculpem, apenas me compreendam. Falo a Vossas Excelências antigos
amantes do Direito. Sim, os antigos. Refestelem-se, é um convite, com a fábula do lobo e o cordeiro, de
La Fontaine. Restaurem a paixão de sua mocidade, o Latim: ad rivum eundem lupus et agnus venerant siti
compulsi. Superior stabat lupus,
longeque inferior agnus.
Ao mesmo riacho o lobo e o cordeiro se
dirigiram, compelidos pela sede. Na parte de cima da corrente, o lobo. Mais
abaixo, o cordeiro. A proposta do lobo, tipo pegar ou largar: fora daqui, está sujando a água que
eu bebo. Qui posso facere quod quereris, lupus? –chora o cordeiro, lembram? Como posso sujar
sua água, caro lobo, aqui em baixo do riacho? Predador e vítima, frente a frente,
buscando uma conciliação em que o lobo da fábula come o cordeiro e o lobo das
conciliações devora o consumidor. Desatinos, más escolhas, amarras das quais não
podem se libertar os vestidos de toga e beca.
Será que me
compreendem? O cordeiro, todos os
cordeiros, todos, esquentam sem futuro os bancos de espera dos Procons,
instituições isentas de poder de tribunal a perambular sem rumo na caça à
Justiça. São notoriamente conhecidos os eternos vilões dos Procons, as mesmas
empresas, públicas e privadas, que vêm praticando, monotonamente,
cumulativamente, impunemente, os mesmos crimes contra o consumidor. Crimes. Alguém
togado há de se preocupar em varrer do mapa o estado de barbárie instaurado
contra consumidores neste país, como se o Estado não existisse.
Nos bancos de
espera dos Procons, consumidores perdendo dias de trabalho, iludidos na crença
à Justiça, arrastando-se naqueles corredores, ah, sim, os idosos e enfermos, queixando-se
de que precisam fazer caixinha para enterrar seus mortos, embora com plano de sepultamento
devidamente pago...
E mais, reclamações de quem não consegue cancelar compras, linhas telefônicas, celulares, sobre cartões de crédito expedidos pelos templos de consumo com a propaganda enganosa de que não há custos, descaso com serviços vendidos e não prestados, descumprimento de contratos, horrorosas cobranças indevidas, cobranças com valores aterrorizantes, a anos luz do combinado no contrato e dizendo ao freguês com a cara mais lavada deste mundo de que se trata de problema de sistema. Ah, bem lembrado, pobre dos cordeiros vítimas fatais da tirania de empresas públicas, principalmente elas. Elas, principalmente.
E mais, reclamações de quem não consegue cancelar compras, linhas telefônicas, celulares, sobre cartões de crédito expedidos pelos templos de consumo com a propaganda enganosa de que não há custos, descaso com serviços vendidos e não prestados, descumprimento de contratos, horrorosas cobranças indevidas, cobranças com valores aterrorizantes, a anos luz do combinado no contrato e dizendo ao freguês com a cara mais lavada deste mundo de que se trata de problema de sistema. Ah, bem lembrado, pobre dos cordeiros vítimas fatais da tirania de empresas públicas, principalmente elas. Elas, principalmente.
Ouçam o lamento de um advogado do Procon: e nós ficamos aqui, disse ele,
atendendo caso a caso, a varejo, dando murros em ponta de faca. E pensar que tudo
vai parar nos Jecs para as conciliações entre lobos imbatíveis e cordeiros indefesos!
Companheiros de amor à Justiça, será que me compreendem? Quanto perdem a economia, os direitos da pessoa, suas dignidades, a
esperança do brasileiro em não viver um apavorante acaso neste país, em tempo
de barbárie movido a conciliações que gratificam o criminoso? Estamos apalpando
o evidente.
Reiteramos, pois, a vós, respeitáveis vultos austeros de toga e
beca, rogamos, nós, os cordeiros, rogamos aos dignos de suas vestiduras de
magistrado, suas honras de acadêmicos, suas láureas de catedráticos, dignem-se
dar-nos, a nós, consumidores servos dos que nos servem criminosamente, a nós,
os cordeiros, os reparos para tais caminhos transviados e esbarros jurídicos titubeados.
Sim? (por Apollo Natali)
Um comentário:
só acho que o artigo peca ao não relacionar os maiores espoliadores e manipuladores de tal "justiça", os bancos, telefônicas, seguradoras, construtoras que são por coincidência os pagadores de mensalões e mesadas diversas aos do partido no poder...
obviamente isso é mera coincidência assim como é coincidência que são os mesmos que anualmente fretam aviões e os lotam com juízes para irem fazer compras em Miami com tudo pago..como os jornais noticiam com frequência nauseante...tudo pura coincidência.
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