Pouco importa se o PIB brasileiro cresceu 0,1% em 2014, como sustenta o IBGE, ou recuou isto ou mais, como percebem as ruas.
O certo é que, no caso de um país pobre como o nosso, não crescer no mínimo 4% já equivale a encolher, à medida que novos contingentes chegam ao mercado de trabalho e não encontram empregos à sua espera.
As pressões sociais aumentam em progressão geométrica e, se o quadro negativo perdura por alguns anos, as ruas explodem. É simples assim.
As pressões sociais aumentam em progressão geométrica e, se o quadro negativo perdura por alguns anos, as ruas explodem. É simples assim.
Admissão oficial e manipulação de dados à parte, a verdade nua e crua é que o Brasil está em recessão desde o ano passado. E a coisa, infelizmente, vai piorar.
Não porque o derrotista que vos escreve esteja sempre torcendo pelo pior, mas porque o próprio Chicago boy incumbido da gestão da economia no governo de Dilma Thatcher (ou será Margaret Rousseff?) admite explicitamente que estamos passando por uma "forte desacelerada" neste começo de ano.
| Cara de uma... |
No burocratês típico dos que não querem ser bem compreendidos pelo cidadão comum, Joaquim Levy atribui o agravamento da recessão ora à existência de "uma série de questões" pendentes no final de 2014, ora à "incerteza que havia na virada do ano". Os dois eufemismos apontam na mesma direção: estava pendente a substituição do morto-vivo Guido Mantega e a incerteza do mercado era quanto ao perfil do seu substituto.
Bem, para dar fim à era da incerteza, Dilma procurou, procurou, procurou, até encontrar um sacerdote do culto neoliberal disposto a assumir o Ministério da Fazenda. Teve de se contentar com um do baixo clero. Antes, outro mais ilustre respondera ao convite dando a entender que mais valia ocupar uma posição de destaque no Bradesco (trata-se, aliás, de uma avaliação corrente nas altas rodas).
Quando lhe caiu a ficha de que não conseguiria aliciar um discípulo de Milton Friedman mais categorizado, Dilma bateu o martelo: "Vai Levy mesmo!".
| ...focinho da outra. |
Agora temos um ministro no qual os exploradores confiam plenamente e do qual os explorados desconfiam totalmente. Então, é de supor-se que, doravante, os investimentos produtivos sejam retomados e a geração de empregos recomece a crescer, para em breve sairmos da recessão. É o que se depreende da mal disfarçada ode a si mesmo do Levy.
Se a pajelança ortodoxa não resultar, o tranco que tomaremos será muito maior do que tenta nos fazer crer a vã retórica do Joaquim.
Eu apostaria em que logo toparemos com filas quilométricas em locais de distribuição da sopa dos pobres, como acontecia durante a grande depressão dos anos 30.

Um comentário:
Nas últimas eleições presidenciais, no segundo turno, tenho votado no candidato do PT. Como milhões de eleitores, voto no mal menor.
No passado, levava bandeiras do partido em passseatas; muitas vezes feitas em casa. Não mais.
Quando ouço figurões do PT falando sobre os militantes do partido lembro-me da "fábula" de Millor Fernandes "O pescador e a relíquia":
"Um pescador, no seu barco atravessando um rio, transportava para um templo uma preciosa relíquia.
Deixando a relíquia cair no rio de águas profundas o pescador não teve dúvidas: com uma faca marcou no casco do barco o local onde caiu a preciosidade.
Assim fez o PT ao atravessar as águas turbulentas da política.
Pouco antes de tomar a posse na presidência, marcou no casco do partido onde deixou cair a militância.
Atualmente, do barco ancorado, apodrecido pela prática política, os figurões mergulham no ponto marcado do casco tentando encontrar a militância perdida.
Ao contrário da fábula de Millor, não ocorrerá o milagre de encontrá-la.
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