Beija-Flor favoreceu propaganda de Figueiredo e Médici |
Não é de hoje que a escola Beija-Flor usa seus desfiles para exaltar ditaduras, como acaba de fazer no carnaval 2015, a soldo do tirano sinistro da Guiné Equatorial.
Conforme reportagem de outubro de 2013 do jornal Globo (vide íntegra aqui), para a qual o companheiro Ivan Seixas gentilmente chamou minha atenção, foi apoiando o regime de 1964 que os irmãos Aniz e Nelson Abraão David estabeleceram seu domínio sobre o município fluminense de Niilópolis no início da década de 1970, anexando territórios de pequenos bicheiros e passando a controlar a Beija-Flor (Nelson assumiu-lhe a presidência em 1972).
Os repórteres Chico Otávio e Aloy Jupiara mostraram a complementaridade entre sambas-enredos e a propaganda ditatorial, destacando que tal prestação de serviços tornou os dois bicheiros palatáveis aos autoproclamados guardiães da moralidade:
"São dessa época os enredos ufanistas, pró-regime militar, que marcaram a história da escola: Educação para o desenvolvimento (de 1973, cujo samba citava: 'uni-duni-tê, olha o A-B-C, graças ao Mobral, todos aprendem a ler'), Brasil ano 2000 (de 1974, que associa otimismo e progresso) e O grande decênio (de 1975, sobre os dez anos do regime). Assumir a escola permitiu à família sedimentar a relação com o regime e fortalecer o poder no município, como instrumento de influência política. (...) O círculo de amizades, que envolvia autoridades militares e pessoas da alta sociedade, aliado às vitórias no carnaval, deu a Aniz uma visibilidade que ajudou a blindar seus negócios na contravenção".
Outra reportagem da mesma série (vide íntegra aqui) esmiuça a "aliança que mudaria o perfil do crime organizado no Brasil: a de agentes da ditadura com a contravenção", cujo símbolo mais notório é o capitão Aílton Guimarães, torturador da 1ª Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar (RJ) que caiu em desgraça na caserna por ter-se envolvido com contrabandistas e foi iniciar nova carreira no submundo de Niterói:
"Pelo menos dez agentes, entre militares e civis, atuaram na máfia da jogatina ou colaboraram com ela, chegando a ocupar cargos na hierarquia do bicho, principalmente a partir do desmonte gradual do aparelho repressivo no governo Geisel...
Esvaziados pelo processo de distensão política ou excluídos por envolvimento em crimes comuns, agentes da repressão encontraram abrigo na máfia do jogo do bicho quando a guerra suja perdia a força na metade dos anos 1970. O coronel Freddie Perdigão Pereira, os capitães Ronald José Motta Baptista de Leão e Luiz Fernandes de Brito, o sargento Ariedisse Barbosa Torres, o cabo Marco Antônio Povoleri, os delegados Luiz Cláudio de Azeredo Vianna, Mauro Magalhães e Cláudio Guerra, e o detetive Fernando Gargaglione, além do Capitão Guimarães, todos com folha de serviços prestados à ditadura, são citados (...) como integrantes desse pelotão arregimentado pelo bicho".
Vale ressaltar que, além da PE da Vila Militar, também o DOI-Codi/RJ e a Casa da Morte de Petrópolis serviram como "incubadoras de capangas da contravenção", no dizer do Globo:
Aniz Abraão David, o bicheiro que é patrono da Beija-Flor. |
"Na Casa, p. ex., atuou o então comissário e depois delegado da Polícia Civil Luiz Cláudio, codinome na repressão 'Laurindo', mais tarde braço-direito de Anísio. O sargento Torres, (...) da equipe de interrogadores do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971, é outro que migrou do DOI à contravenção. Ele se tornou segurança de Anísio e chefe de barracão da escola de samba Beija-Flor".
Daí a conclusão da cientista política Maria Celina d’Araújo:
"Montou-se com a ajuda desses operadores da repressão e da tortura a quase inexpugnável rede mafiosa do jogo do bicho e empresas de arapongas. A Liga das Escolas de Samba é patrocinada e dirigida por contraventores. Ironicamente, no carnaval, nenhum político ou governante posa ao lado de seus organizadores, embora a Liesa seja financiada com dinheiro público".
Para os interessados em mais informações, recomendo a leitura do meu artigo de 2007 sobre o capitão Guimarães, Ex-torturador é chefão da máfia do bingo (vide aqui), bem como do restante da ótima série do jornal Globo:
2 comentários:
O Lula da Grécia
A CAPITULAÇÃO DO GOVERNO SYRIZA
No dia 20 de Fevereiro consumou-se a capitulação do governo grego diante do Eurogrupo. Ela só desilude aqueles que alimentavam ilusões. Ao contrário do que diz a desinformação dos media de referência, o Syriza nada tem de radical – é apenas um partido social-democrata (herdeiro do apodrecido Pasok). Como sempre, o destino desta gente é capitular. Hoje já pouco ou nada distingue a social-democracia do neoliberalismo puro e duro. É o caso do Syriza, que nunca pôs em causa a saída do Euro, da UE ou da NATO e muito menos o capitalismo. Assim, bravatas à parte, a intransigência do Eurogrupo encontrou na verdade um governo grego submisso e cordato. Após as enormes cedências que já havia feito em relação ao seu programa eleitoral, o governo Syriza cedeu ainda mais durante as negociações e acabou por capitular em praticamente toda a linha. As "concessões" obtidas foram cosméticas. Exemplo: o que antes se chamava Troika agora passa a chamar-se "instituições" e estas são (adivinhem) o FMI, o BCE e a UE. Grande mudança! Os arraiais reformistas portugueses, que tão entusiasmados estavam com as ditas negociações, o que dirão agora?
Errado, Domingos. Uma trégua não pode ser confundida com capitulação, daqui a 4 meses a luta continuará.
Ficou claro que os endinheirados da Grécia querem salvar apenas a si próprios. Mas, e o homem simples, como reagirá?
O certo é que a austeridade imposta pela Alemanha acabará por ruir, porque não se pode sacrificar tanta gente por tanto tempo. A Grécia não passa da ponta de um iceberg.
E, mesmo assim, o Syriza já fez muito mais do que nosso PT, o qual já completou 12 anos no poder e, em momento nenhum, peitou o capitalismo. Pelo contrário, está se submetendo docilmente, MAIS UMA VEZ, ao receituário neoliberal
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