Um dos maiores jornalistas brasileiros das últimas décadas, quatro vezes vencedor do Prêmio Esso, Ricardo Kotscho sempre foi identificadíssimo com o PT e com Lula, a quem serviu como secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República.
Então, só um quadro político de extrema gravidade o levaria a escrever um artigo tão contundente como o que postou no seu blogue neste sábado, 28, vindo ao encontro dos meus alertas no mesmo sentido: desde a redemocratização, o Brasil nunca esteve tão ameaçado de uma volta ao totalitarismo. Leiam e reflitam.
FUNDO DO POÇO OU POÇO SEM FUNDO?
Um clima de fim de feira varre o país de ponta a ponta apenas dois meses após a posse da presidente Dilma Rousseff para o seu segundo mandato. Feirantes e fregueses estão igualmente insatisfeitos e cabisbaixos, alternando sentimentos de revolta e desesperança.
Esta é a realidade. Não adianta desligar a televisão e deixar de ler jornais nem ficar blasfemando pelas redes sociais. Estamos todos no mesmo barco e temos que continuar remando para pagar nossas contas e botar comida na mesa.
Nunca antes na história da humanidade um governo se desmanchou tão rápido antes mesmo de ter começado. Para onde vamos, Dilma? Cada vez mais gente acha que já chegamos ao fundo do poço, mas tenho minhas dúvidas se este poço tem fundo.
"O que já está ruim sempre pode piorar", escrevi aqui mesmo no dia 5 de fevereiro, uma quinta-feira, às 10 horas da manhã, na abertura do texto "Governo Dilma-2 caminha para a autodestruição".
Dilma "não tem mais nada para dizer", segundo Kotscho. |
"Pelo ranger da carruagem desgovernada, a oposição nem precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres para detonar o impeachment da presidente da República, que continua recolhida e calada em seus palácios, sem mostrar qualquer reação. O governo Dilma-2 está se acabando sozinho num inimaginável processo de autodestruição".
Pelas bobagens que tem falado nas suas raras aparições públicas, completamente sem noção do que se passa no país, melhor faria a presidente se continuasse em silêncio, já que não tem mais nada para dizer.
Três semanas somente se passaram e os fatos, infelizmente, confirmaram minhas piores previsões. Profetas de boteco ou sabichões acadêmicos, qualquer um poderia prever que a tendência era tudo só piorar ainda mais.
Basta ver algumas manchetes deste último dia de fevereiro para constatar o descalabro econômico em que nos metemos. Cada uma delas já seria preocupante, mas o conjunto da obra chega a ser assustador:
"Dilma sobe tributo em 150% e empresas preveem demissões".
"País elimina 82 mil empregos em janeiro, pior resultado desde 2009".
"Conta da Eletropaulo sobe 40% em março".
"Bloqueio de caminheiros deixa animais sem ração -- Na região sul, aves são sacrificadas em granjas, porcos ficam sem alimento e preço do leite deve subir".
"Indicadores do ano apontam todos para a recessão".
"Bloqueio de caminheiros deixa animais sem ração -- Na região sul, aves são sacrificadas em granjas, porcos ficam sem alimento e preço do leite deve subir".
"Indicadores do ano apontam todos para a recessão".
"Um clima de fim de feira varre o País" |
"Estudo da indústria calcula impacto de racionamento no PIB -- Queda de 10% no abastecimento de gás, energia e água levaria à perda de R$ 28,8 bi".
As imagens mostram estradas que continuam bloqueadas por caminheiros, depois de mais de uma semana de protestos, agentes da Força Nacional armados até os dentes avançando sobre os manifestantes, produtores despejando nas ruas toneladas de latões de leite que ficaram sem transporte. O que ainda falta?
Enquanto isso, parece que as principais lideranças políticas do país ainda não se deram conta da gravidade do momento que vivemos, com a ameaça de uma ruptura institucional.
De um lado, o ex-presidente Lula, convoca o "exército do Stédile" e é atacado pelo Clube Militar por "incitar o confronto"; de outro, os principais caciques tucanos, FHC à frente, fazem gracinhas e se divertem no Facebook. Estão todos brincando com fogo sentados sobre um barril de pólvora. É difícil saber o que é pior: o governo ou a oposição. Não temos para onde correr.
A esta altura, só os mais celerados oposicionistas defendem o impeachment de Dilma e pregam abertamente o golpe paraguaio, ainda defendido por alguns dos seus aliados na mídia, que teria um final imprevisível.
O governo Dilma-2 está cavando a sua própria cova desde que resolveu esnobar o PMDB, e não adianta Lula ficar pensando em 2018 porque, do jeito que vamos, o país não aguenta até 2018.
Nem Dilma, em seus piores pesadelos, poderia imaginar este cenário de terra arrasada -- ou não teria se candidatado à reeleição, da qual já deve estar profundamente arrependida.
Vida que segue. (Ricardo Kotscho)
3 comentários:
Ricardo Kotsho desenhou um cenario deveras catastrofico , quase um inferno de Dante, porem tudo isto causado por quem ? por inepcia de Dilma ou pelo fogo cruzado e bombardeio incessante da oposiçao que prega o quanto pioe melhoe ?
Esse "não temos para correr" é que é a parte assombrosa do texto. Do ponto de vista político, de linha política, não há alternativas.
Mas não temos por que duvidar de que as grandes manifestação voltarão a ocorrer, no bojo da crise econômica que se aprofundará, de modo preocupante em mais de um sentido. Será o momento que teremos, com a boa e velha rapaziada brasileira na rua (tem que ser assim), sob o risco de se criar até mesmo um monstro, porque as ruas também escrevem errado por linhas tortas.
Teremos de acertar.
O desafio é imensamente grande. Teríamos de criar, rápido, uma nova linha política no Brasil, inteligente, abrangente, ofensiva, democrática e popular, avessa a tudo que é populismo e certeira em apontar e combater o inimigo. Não penso que seríamos capazes disso.
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