Embora não seja um grande filme de terror, resolvi postar aqui A maldição dos mortos-vivos (1988) por um detalhe pitoresco: o pano de fundo político sobre o qual o diretor Wes Craven projetou sua fantasia sobrenatural.
Um misto de aventureiro e investigador de campo a serviço da ciência, Dennis Alan (Bill Pullman) é enviado por uma multinacional farmacêutica ao Haiti, com a missão de surrupiar a droga utilizada para transformar pessoas em zumbis. O motivo: averiguar se seu princípio ativo pode entrar na fórmula de anestésicos.
Presumivelmente para dar respeitabilidade ao que não passa de entretenimento, aparece na tela a afirmação de que o filme seria baseado numa história real. Talvez tenha existido mesmo algum interesse dos tubarões da química nas substâncias empregadas nos rituais do vudu (a macumba haitiana). Ou o que há de verídico seja a queda da ditadura do Baby Doc Duvalier. Não consegui esclarecer; o certo é que a inverossimilhança marca 99% do enredo.
O tal Alan (obviamente inspirado no Indiana Jones de Spielberg) se choca com a determinação das autoridades em protegerem as riquezas nativas da cobiça do Império. Chega até a ser zumbificado, mas se recupera bem a tempo de mandar para o inferno o chefe dos terríveis tonton macoutes (a polícia política do regime), aproveitando a confusão reinante quando da derrubada do filho do Papa Doc. O fim da tirania é simbolizado pela desdita do Ustra macumbeiro de lá.
Dos principais cineastas do gênero terror nas últimas décadas, Craven é o menos brilhante, ficando vários pontos abaixo de Dario Argento, George A. Romero e John Carpenter. Acertou na loteria ao roteirizar e dirigir A hora do pesadelo (1984), o primeiro título da interminável série do Freddy Kruger, mas nunca repetiu a dose, pelo menos em termos qualitativos (para encher seus bolsos a franquia Pânico também serviu, mas não passava de terrir caça-niqueis...).
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