domingo, 30 de novembro de 2014

NO PRESENTE, A ESTAGNAÇÃO. À FRENTE, A PERSPECTIVA DE ANO(S) PERDIDO(S).

Não digam que não avisei. Durante a campanha presidencial, cansei de alertar que o PT já tinha encerrado seu ciclo de contribuições positivas ao Brasil e se tornara um partido sem ideias nem ideais. 

Bastaram 30 dias para isto ficar mais do que evidenciado, com a montagem do novo Ministério decepcionando terrivelmente os eleitores de esquerda que acreditaram nas promessas de Dilma e obtendo a aprovação sarcástica das forças conservadoras e reacionárias que tudo fizeram para evitar a sua reeleição (as quais, para não perderem o hábito, mantém-na pressionada, entoando aos berros o coro de "quero mais!"). 

Trata-se do preço que ela está pagando para escapar de um processo de impeachment (submeter-se ao poder econômico para não ser por ele expelida)? Então, melhor seria encarar os riscos da batalha no Congresso Nacional. Ou deixaria de amargar uma agonia lenta ou adquiriria condições políticas e morais para governar de verdade, não precisando prostrar-se ao deus mercado de forma tão abjeta. 

O veteraníssimo Clóvis Rossi, na sua coluna dominical (Um começo bem medíocre, vide íntegra aqui), diz tudo que havia para se dizer sobre as escolhas de Dilma no fundamental, qual seja a condução da política econômica. Leiam e avaliem: 

Não poderia ser mais medíocre o primeiro ato do segundo mandato de Dilma Rousseff. 

...Se a candidata dizia, durante a campanha, que a governo novo correspondem ideias novas, o primeiro ato teria, obrigatoriamente, que ser o enunciado das tais novas ideias, no pressuposto de que elas de fato existam. 

Medíocre também foi o anúncio de que a prioridade do novo/velho governo será obter um superavit fiscal. Dou o devido desconto ao fato de que não cabia mesmo a Joaquim Levy/Nelson Barbosa/Tombini anunciar ideias novas que fossem além da economia. 

Essa era a tarefa inalienável da presidente. 

Ainda assim, há alguém aí que acredita que o Brasil terá todos os seus problemas resolvidos graças à prioridade concedida ao superavit fiscal anunciado? 

Levy fez apenas o papel para o qual foi convocado, o de falar aos agentes de mercado, que, de resto, nem sequer foram eleitores de Dilma. Nem pensar em falar aos eleitores da própria presidente e ao público em geral, que não fazem parte do que os argentinos gostam de chamar de "patria financiera".

É a fala de um burocrata, quando a estagnação em que se encontra a pátria --e não apenas na economia, mas também em educação, saúde, mobilidade urbana, segurança pública, infraestrutura e um vasto etc.-- exige um estadista. 

O novo governo mostrou-se refém dos detentores dos papéis da dívida pública. São eles que exigem um superavit fiscal que permita continuar tratando a dívida como algo sagrado que não se pode tocar.
  
...não estou pregando o calote, embora ache que, se empresas e indivíduos podem renegociar suas dívidas, por que o governo não pode? 

O que estou defendendo é que pelo menos se pense nas tais "ideias novas" do slogan de campanha. 

Ideias, como, por exemplo, uma taxação excepcional sobre o patrimônio, cujo resultado seria dedicado a eliminar ou reduzir a dívida pública. É a proposta de Thomas Piketty, a nova estrela da economia mundial, em seu livro "O Capital no Século 21". 

Manter o piloto automático (aumentar ou manter o superavit primário para pagar a dívida) é condenar o país à mediocridade por sabe-se lá quanto tempo. 

Até a "Economist", a revista que pediu a cabeça de Guido Mantega e saudou, com muitas ressalvas, a escolha da nova equipe econômica, diz que "o crescimento [da economia] cairá a princípio e pode não se recuperar por um ano ou dois". 

Você acha que o país está em condições de jogar fora nem que seja apenas um ano?

3 comentários:

Anônimo disse...

De João R. Vicente;
Meu avô, homem de muitos ofícios, aos amigos e parentes que pretendiam construir um segundo imóvel para garantir uma complementação da aposentadoria aconselhava comprar ações da Petrobras.
"Numa emergência vocês não precisam vender a segunda casa, basta vender as portas, a varanda, o quintal" dizia.
Isso deu tão certo que, mais tarde, alguns parentes entusiasmados venderam imóvel para comprar ações. Um parente comprou a PN a R$ 35,00. Hoje vale R$ 13,00.

Hoje leio que a dívida da Petrobras chega a R$ 300 [trezentos] bilhões e precisa endividar-se mais ainda.Não sairá tão fácil desse atoleiro, se não for impossível.

Os governos Lula e Dilma erraram com enorme competência e deixaram roubar com gigantesca complacência, pois não é possível não estarem sabendo da magnitude dos desvios na empresa.

Isso sem falar na covardia em enfrentar os bancos, as grandes redes de supermercados, em fazer a reforma agrária, em taxar as grandes fortunas.

O povo está percebendo que os grandes méritos do PT está mesmo junto ás classe dominantes,pois nada mais fez do que segurar os movimentos sociais, fazendo das centrais sindicais meras entidades burocráticas dando a paz para os capitalistas se enriquecerem mais.

Convulsões virão com o povo nas ruas. Novos tempos. Novas lideranças de esquerda surgirão para guiar o povo.

Valmir disse...

"Novas lideranças de esquerda surgirão para guiar o povo."
e novas decepções esperarão as novas gerações logo ali na esquina, pq é muito simples o que ocorre e só não vê quem não quer. Percebendo que precisam manter a farsa da democracia e não tem votos a direita chamou alguns dos seus (todos são seus) e disse " agora vcs se denominam esquerda" e ficamos mais um século enganando todos que querem ser enganados. (isso de chamar parte da classe dominante de " esquerda" pra tudo continuar na mesma tem muitas versões menores na vida pratica...exemplo: comandante de unidades militares da repressão não tendo onde alojar presos possuidores do tal "curso superior" com direito a prisão especial, mandavam o cabo escrever uma placa PRISÃO ESPECIAL, pregava na entrada da estrebaria e o problema estava resolvido.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Olá, João Vicente.

Para que novas lideranças surjam, é necessário todo um renascimento da esquerda, com um grande nível de autocrítica, e muito conhecimento científico sobre a atual etapa do capitalismo, e assim sobre a sociedade. Uma linha política, portanto, de grande inteligência e de grande coragem, capaz de mobilizar os trabalhadores por meio da grande inteligência e da grande coragem.

Vai demorar.

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