Sempre tive a humildade de reconhecer que não me é possível ser experto em todos os assuntos. Ainda mais agora que, impedido de atuar profissionalmente por preconceitos em relação a minhas idade e convicções, não tenho mais acesso às fontes de alto nível que tanto facilitam o trabalho da imprensa.
Então, para informar bem os meus leitores, só me resta recorrer, em alguns casos, a textos alheios --quando são daqueles que pegam no breu.
P. ex., o assunto principal da coluna do Elio Gaspari (foto acima) neste domingo, 27: o terrorismo praticado pelos bancos, por meio dos economistas e escribas que gravitam em sua órbita, com o deplorável apoio do BC, para evitar que os trabalhadores recebam o que lhes foi surrupiado no passado.
VEXAME, A BANCA NÃO SABE CONTAR
No final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal esteve prestes a julgar o litígio dos poupadores das cadernetas de poupança que se sentiram lesados com a correção monetária de seus depósitos durante os planos econômicos fracassados do fim do século passado.
Com o apoio do Banco Central, a banca desencadeou uma operação de terrorismo político-financeiro, argumentando que se os depositantes prevalecessem, provocariam um desastre bíblico na economia nacional. Seriam R$ 150 bilhões, talvez R$ 180 bilhões, quem sabe, R$ 441 bilhões. Uma empresa de consultoria falou em R$ 600 bilhões.
Um manifesto assinado por Guido Mantega e cinco ex-ministros da Fazenda, inclusive aqueles que ajudaram a produzir a ruína da hiperinflação, foram na mesma linha.
Um dos advogados da banca chegou a mandar uma carta ao ministro Ricardo Lewandowski prevendo que uma decisão a favor dos poupadores "lançará o país numa coorte de horrores que, sem exagero, irão do desemprego em massa à fome da população mergulhada nos sortilégios de uma crise econômica que afetará toda a nação." Os ilustres causídicos da banca, que já haviam tentado tenebrosas tentativas no escurinho de dois recessos do STF, conseguiram adiar para este ano o julgamento do caso.
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O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor sustentava que isso era um exagero e argumentava que esses mesmos bancos haviam provisionado apenas R$ 11 bilhões. Na conta do Credit Suisse o litígio custaria R$ 26,5 bilhões.
A Procuradoria-Geral da República informou que as contas catastrofistas estavam erradas. A cifra certa, para a PGR, está em R$ 21,9 bilhões. Em vez de aterrorizar o país com uma conta doida para não pagar coisa alguma, os bancos poderiam ter feito a conta certa, como fez o Credit Suisse. Afinal, eles a conheciam.
Ficará na história da banca brasileira o fato de terem inventado um apocalipse para ganhar um dinheirinho à custa da boa-fé do público e da sua capacidade de atemorizar os ministros do Supremo.
Tudo indica que o Supremo decide a questão ainda neste ano. (por Elio Gaspari, em artigo para a Folha de S. Paulo, O Globo e outros jornais)
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