terça-feira, 29 de abril de 2014

AO CONTRÁRIO DO SEAN CONNERY, LULA NUNCA DIZ "NUNCA MAIS!"

Ora é uma jornalista que priva da intimidade de muitos figurões garantindo que Lula começou no último fim de semana a comunicar aos amigos íntimos a decisão de candidatar-se à Presidência da República.

Ora são deputados da base aliada a atuarem como porta-estandartes do volta, Lula!

Enquanto isto, o próprio diz à imprensa portuguesa que vai humildemente servir de cabo eleitoral para Dilma, mas se recusa a afirmar que nunca, em circunstância nenhuma, será candidato, deixando aberta a possibilidade de, para o bem de todos e felicidade geral da nação petista, dispor-se ao sacrifício... de fazer aquilo que sempre quis fazer, aquilo que mais quer fazer neste instante. Me engana que eu gosto. 

Fez-me lembrar a relutância de Sean Connery em continuar estrelando a série 007. Depois da quinta missão decidiu parar, mas o fracasso do seu substituto George Lazenby levou os produtores a lhe fazerem uma proposta irrecusável: se voltasse a empunhar a pistola Aston Martin em Os diamantes são eternos, dar-lhe-iam a chance de protagonizar cinco filmes cujas histórias e cujos diretores escolhesse a bel prazer (o ideal para ele provar, como pretendia, não ser ator de um personagem só).

Pacto cumprido de parte a parte, jurou de pés juntos que nunca mais seria James Bond. Só que a dupla de produtores se desfez e um deles resolveu refilmar a única novela de Ian Fleming cujos direitos detinha. Ofereceu um caminhão de grana a Connery e eis que ele, 12 anos depois, já cinquentão, com peruca e uma faixa espremendo a barriga, reapareceu em Nunca mais outra vez. O título (Never say never again no original) foi uma alusão bem humorada a suas duas promessas descumpridas.

Lula é mais precavido do que Connery. Talvez porque, no seu caso, não vá se tratar de uma reconsideração, mas sim da concretização do projeto que acalentava desde que escalou Dilma para tomar conta da cadeira presidencial na sua ausência.

Assim, não causa nenhuma estranheza suas declarações à Rádio e Televisão de Portugal soarem como discurso de candidato.

Só me surpreendeu ele ter deixado o Zé Dirceu, o José Genoíno, o Delúbio Soares e o João Paulo Cunha na rua da amargura: no afã de distanciar-se o máximo possível de qualquer envolvimento com o mensalão, foi ao cúmulo de afirmar que os petistas condenados não eram pessoas de sua confiança.

Ou seja, a responsabilidade pelos 20% do processo juridicamente consistentes caberia a outros, esses inconfiáveis, não a ele. Talvez pretenda apresentar-se ao eleitorado como Lula, o imaculado.

Tendo conseguido tornar-se até doutor honoris causa de universidades, deve estar de olho nos últimos troféus que lhe faltam: o Prêmio Nobel e a canonização. 

Aguardemos os próximos e emocionantes capítulos. Nós, livres. Os quatro companheiros históricos do Lula, na Papuda ou em prisão domiciliar.

Um comentário:

Valmir disse...

Eu já não tenho mais duvidas: o que o petismo vem fazendo (estultices e tonterías de todo tipo... tripudiar sobre as reivindicações da classe média fazendo coisas como pregar que “preocupar com corrupção é coisa da direita”, ignorar a inflação, fazer tabula rasa da questão da segurança publica, abandonar a infra-estrutura; isso tudo e mais não pode ser só burrice e incapacidade).. é proposital. Eles rezam por um golpe incruento que os tire do poder e os livre de ter de explicar – e lidar com - o fracasso (quando a tal..arghhh..eca...“governabilidade” se esfumaçou mesmo com eles vendendo – barato – a alma ao diabo de inúmeras maneiras a titulo de preservá-la). Já escutei de petistas que isso não faz sentido pq bastava aos mandatários renunciar ou não se candidatar a reeleição..não funciona assim: o poder é uma imensa rede de compadrio e clientelismo, de conchavos e acertos dos quais dependem uma infinidade de interesses que o governante nem pode pensar nessa saída.
Ou alguém pensa que o carniceiro da Síria, por exemplo, não tem na Suíça o suficiente pra viver 50 vidas sem se preocupar com o amanha???????? Mas não é assim tão simples: têm empreiteiros, funcionários, parentes, amigos dos parentes, parentes dos amigos, banqueiros, parasitas e vampiros de todo tipo que dependem do esquema que só funciona sob as rédeas de uma oligarquia que conhece seus mecanismos e tem a chave do cofre. Os nazistas no começo talvez acreditassem que podiam mesmo dominar o mundo ou colonizar a Europa como fez o Império Romano, mas depois das primeiras derrotas na Rússia e do desembarque na Normandia só se ocuparam mesmo foi de roubar e saquear... Não estou dizendo que é isso que estão fazendo nossos atuais governantes..mas eles não estão mais preocupados em manter o poder, parecem estar com a cabeça em outro lugar bem longe...

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