segunda-feira, 24 de outubro de 2011

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM - 1

Embora tenha sido dos mais repulsivos o papel que a CartaCapital desempenhou no Caso Battisti, fazendo lobby descarado pelo linchamento do escritor italiano, eu seria injusto se inculpasse o elenco da revista como um todo.

A responsabilidade por esse capítulo vergonhoso da imprensa brasileira cabe unicamente a Mino Carta, fanático defensor do Partido Comunista Italiano, a ponto de querer que fosse atirado numa masmorra quem era testemunha articulada e eloquente da suprema traição do PCI aos ideais revolucionários na fase do  compromisso histórico, quando acumpliciou-se com a reacionária, mafiosa e corrupta Democracia Cristã; e a Walter Maierovitch, juiz aposentado que, sabe-se lá por quê, nessa perseguição se comportou como legítimo herdeiro de Torquemada.

Nada do que tais cidadãos escrevam ou declarem, até o fim dos dias deles ou dos meus, será aqui destacado, salvo no sentido negativo.

É o que posso fazer. O saudoso Henfil decerto os despacharia para o  cemitério dos mortos-vivos do cabôco mamadô...

Mas, nem só de caçadores de bruxas vive a CartaCapital. Há também reportagens e artigos de grande peso, além da inestimável coluna do dr. Sócrates.

P. ex., a visão equilibrada que o advogado e professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Estevam Serrano, deu das circunstâncias da morte de Muammar Gaddafi, batendo numa tecla em que sempre bati: tirando o povo líbio, todos os personagens deste drama eram vis e indefensáveis. 

Algo com que nossa esquerda maniqueísta não soube lidar, ao  absolver  um déspota execrável para melhor condenar a Otan. Só faltou sugerir sua canonização...

Concordo em gênero, número e grau com o artigo Morte foi queima de arquivo, do qual reproduzo os trechos principais:
"Kaddafi é um líder que não deixa saudades. Um terrorista de Estado, exemplo fácil de ser lembrado em sala de aula para ilustrar as formas de se usar o poder para cometer crimes lesa-humanidade.

Entretanto, o grau de civilização de um sociedade é medido pela forma como trata seus culpados. E, convenhamos, a morte de Kaddafi, na forma como ocorreu, em meio a um tratamento indigno, degradante e cruel com o prisioneiro (como registraram as imagens divulgadas) foi o retrato de uma governabilidade global que cada vez mais se aproxima em métodos do mais rasteiro banditismo.
Se as forças internacionais, agindo como força policial e não como Forças Armadas, optaram, corretamente ou não, ao arrepio da soberania do povo líbio, por intervir militarmente no conflito civil daquele país, por evidente haveriam de se responsabilizar pelo tratamento jurídica e humanamente adequado dos prisioneiros que de alguma forma contribuíram para com seu aprisionamento.
...Da mesma forma que ocorreu na morte do terrorista Bin Laden, não apenas direitos humanos fundamentais do prisioneiro foram desconsiderados, mas suprimiu-se algo que seria de todo interesse público: o legítimo processo junto ao Tribunal Penal Internacional

No caso de Kaddafi a situação é mais instigante. Kaddafi foi chefe de Estado por décadas. Durante este período contou com o apoio, suporte ou tolerância de Estados ocidentais às atrocidades que praticou.

Seria de toda importância para a opinião publica global ouvir seus depoimentos na Corte Penal Internacional. As culpas de Kaddafi são conhecidas e evidentes, mas não as de seus parceiros em diferentes momentos históricos. Certamente lideres de países ocidentais de diferentes matizes ideológicas ao menos teriam suas biografias maculadas

Por conta deste evidente e relevante interesse político em eliminar Kaddafi é que a utilização da expressão 'queima de arquivo', jargão usado para designar o homicídio de testemunha ou comparsa para evitar seu depoimento, me parece adequada ao menos como suspeita a ser verificada com relação à morte do prisioneiro".

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