sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O FIM DO GADDAFI E O FIM DE FEIRA NAS TRIBUNAS DA ESQUERDA

Pelo número de visitas ao meu blogue nesta 6ª feira, talvez seja melhor eu nem postar mais material novo. O desempenho foi melhor assim... ou as estatísticas do Google estão malucas!

Afora as prosaicas atribulações cotidianas, o que me faltou mesmo foi ânimo, na meia horinha que tive livre durante o dia.

Um amigo certa vez se queixou de que, deixando-nos massacrar durante a ditadura militar, nós o obrigamos a reconstruir a esquerda a partir do quase nada: "O que sobrou para mim foi a borra do fundo do tacho..."

O que a esquerda diria se fosse Pinochet o
modelo desta foto-exaltação do militarismo?
Isto me veio à lembrança ao ler os  textículos  que infestam os espaços virtuais da esquerda, sobre a queda de Gaddafi. 

Um antigo crítico roqueiro, p. ex., apresenta sua nova versão para  simpathy for the devil: não defende o capeta (não há como), porém lança a mais furibunda catalinária contra os inimigos do capeta.

Omite o fundamental: se os cidadãos líbios sentiram alguma coisa, foi alívio.

O povo cubano não deixou que Fidel Castro fosse derrubado quando da invasão da Baia dos Porcos, em 1961. O povo líbio assiste impassível à derrubada de Gaddafi e até foi à praça comemorar.

Só não vê quem não quer. Ou quem, como avestruz, enterra a cabeça na areia.

Também me lembrei de como eram perspicazes e brilhantes os artigos que a esquerda outrora produzia sobre o bonapartismo militar e o caudilhismo.

Um Gamal Abdel Nasser, lider incomensuravelmente maior que Muammar Gaddafi, apanhava como Judas em sábado de Aleluia, dos brilhantes analistas que nosso lado possuía.

Correr riscos? Não é comigo...
Hoje, por dizer que o regime de Gaddafi nada mais foi do que uma tirania pessoal com tinturas anticolonialistas, só faltou me lançarem à fogueira dos hereges.

Provavelmente, daqui a alguns meses todos perceberão que eu estava certo, assim como ninguém  mais contesta que Manuel Zelaya seja um bunda mole.

Compreendi isto no exato momento em que soube da sua expulsão de Honduras trajando pijamas. Um Allende preferiria morrer a ser humilhado dessa forma.

Os atos subsequentes de Zelaya só confirmaram a tibieza que fui  herético  em identificar logo de cara (isto sem deixar de protestar contra sua deposição -- não preciso heroicizar um  banana, nem mesmo gostar dele, para defendê-lo de um golpe de estado, uma coisa não tem nada a ver com a outra).

Diziam os antigos que, em terra de cego, quem tem um olho é rei.

O mais provável é os cegos tentarem furar o olho do único que vê.

2 comentários:

Galvão disse...

A esquerda vai mal e sem rumo: Depois do Alon Feuerwerker ter virado um esquerdista sionista; temos o esquerdista pró-Otan. O que vai dar no mesmo. O Alon defendeu o ataque Israelense ao comboio que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza. Você defende o ataque da OTAN à Líbia em busca de petróleo para mover sua máquina de guerra.

celsolungaretti disse...

Não, Galvão, eu apenas defendo um princípio que os revolucionários de todos os tempos têm adotado: o repúdio às tiranias.

É um valor muito maior do que conveniências e miudezas como a que você citou. Importa-nos muito mais evitar que seres humanos sejam torturados e assassinados, do que o destino do petróleo.

Essa deturpação grotesca dos ideais marxistas, anarquistas e de todos os verdadeiros revolucionários nos tem feito perder nosso maior patrimônio: a superioridade moral.

Se não personificarmos os ideais de justiça, igualdade e liberdade aos olhos do cidadão comum, nunca conquistaremos as vitórias que realmente nos importam: aquelas que mudam o mundo.

Pois recursos, o inimigo sempre terá mais do que nós. Temos de ser melhores na conquista dos corações e mentes.

Associarmos nossa imagem às dos Gaddafis da vida é simplesmente desastroso.

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