quarta-feira, 20 de julho de 2011

UMA PRAGA JORNALÍSTICA: A INFORMAÇÃO SEM FONTE

Carl Bernstein e Bob Woodward,
os repórteres do Caso Watergate...
A colunista social da Folha de S. Paulo escreveu:
"Profissionais que tiveram acesso aos exames de Hugo Chávez no Brasil dizem não ter dúvidas: ele tem mesmo um câncer de próstata. Além de mostrar as avaliações, diplomatas venezuelanos que conversaram com o governo e com médicos brasileiros fizeram a revelação - mas não abriram informações sobre a extensão da doença".
O embaixador venezuelano no Brasil replicou:
"...o corpo diplomático não transmitiu absolutamente nenhuma informação sobre a saúde do presidente Hugo Chávez a médicos brasileiros. As informações publicadas pela coluna são mera especulação, sem qualquer corroboração do governo venezuelano ou dos médicos efetivamente responsáveis pelo tratamento do presidente".
Não houve tréplica, o que significa apenas uma coisa: Mônica Bergamo se viu impedida de citar o nome do seu informante. Então, teve de engolir um calaboca  público -- sapo dos mais indigestos para o profissional de imprensa.

Por que, afinal, decidira encampar o que lhe havia sido soprado por algum fofoqueiro?

É uma prática das mais frequentes na nossa mídia: o jornalista relatar o que não presenciou, sem explicar como ficou sabendo nem revelar quem lhe contou.

Para quem quer saber como as boas práticas jornalísticas mandam processar as  informações de cocheira, uma boa aula é o livro/filme Todos os homens do presidente. Woodward e Bernstein comiam o pão que o diabo amassou para desencavar quem corroborasse aquilo que seu informante lhes confidenciava. Só as dicas do  Garganta Profunda  não bastavam.

...foram interpretados no cinema
por Dustin Hoffman e Robert Redford.
Eis outro exemplo, também pinçado da Folha, do que não se deve fazer:
"A Globo resolveu jogar um balde de gelo nos gays de 'Insensato Coração'.

A Folha apurou que os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, foram chamados na semana passada para uma conversa com o diretor-geral de entretenimento da emissora, Manoel Martins. Na pauta: a determinação da Globo para que a história dos homossexuais Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) fosse completamente esfriada no folhetim.

As novas cenas de Hugo e Eduardo, assim como as cenas de conversa sobre o assunto entre Eduardo e sua mãe, vivida por Louise Cardoso, serão inutilizadas.

Aos autores e atores a Globo pediu silêncio..."
Evidentemente, o autor ou ator que deu com a língua nos dentes jamais assumirá que o fez, caso contrário vai acabar no olho da rua. Então, se a emissora refutar a notícia, novamente não haverá resposta. E se processar o jornal, vencerá.

Alguém pode contrapor que, por linhas tortas, é uma maneira de se informar o leitor do que realmente se passa nas altas rodas e nos círculos do poder.

Minha experiência de mais de quatro décadas no jornalismo, entretanto, ensinou-me que este tipo de informante é altamente inconfiável. Ele não  dá o serviço  para contribuir com a nobre causa da transparência das informações, mas sim por ser parte interessada na questão.

Então, poderá estar revelando apenas a parte da história que lhe convém. Ou, até, acrescentando ponto ao contar o conto.

Quando se trata de pessoal ligado a ministérios, secretarias e órgãos de governo, staff de empresas, etc., existe uma hipótese a mais: pessoas que preparam o terreno para dar o  pulo do gato  adiante.

Transmitem fielmente o que rolou em algumas reuniões a que a imprensa não teve acesso, escaramuças de bastidores, etc.

Depois de conquistarem a confiança do jornalista, contudo, impingem-lhe uma mentira cabeluda, que alavanca seus interesses maiores (fragiliza rivais, influencia mercados, etc.).

E  o  caçador de furos, qual perfeito otário, acaba servindo de  laranja  para o manipulador esperto...

Um comentário:

P. P. P. disse...

Recomendo fazer o ‘download’ deste vdeo.

A Guerra de Murdoch Contra o Jornalismo

no site

http://bitshare.com/?f=lihwr5na

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