quinta-feira, 16 de junho de 2011

'FOLHA' ABOLIU O DIREITO DE RESPOSTA, NÃO TEM OMBUDSMAN, NEM JORNAL É...

A Folha de S. Paulo colocou num editorial que Cesare Battisti, no Brasil, "despertou uma solidariedade fora de época e de propósito entre ex-militantes de esquerda e antigos adeptos da luta armada".

Solicitei direito de resposta à Folha, provando  ad nauseam  que era eu quem melhor se enquadrava, simultaneamente, nessas três especificações (ser ex-militante de esquerda, antigo participante da resistência armada à ditadura militar e figura destacadada dos movimentos de solidariedade a Cesare Battisti).

Não vem sequer ao caso se a Folha quis mesmo se referir a mim ou a convergência para meu perfil foi casual. O certo é que, sendo uma pessoa conhecida, muitos haveriam de ver em mim -- e viram! -- o alvo de tal citação.

E, até como o idoso que eu não poderia deixar de ser (na condição de veterano de uma luta travada quatro décadas atrás), não me agrada nem um pouco ser confundido com alguém que perdeu a noção do presente e desperdiça seu tempo com iniciativas despropositadas. O linguajar eufemístico não altera nem atenua o conceito, que é óbvio:  velho caduco.

Pedi, portanto, espaço para expor aos leitores da Folha os motivos que me levaram a assumir a defesa pública de Battisti e, assim, dar-lhes possibilidade de avaliar se tais motivos eram plausíveis e pertenciam a esta época.

A resposta da ombudsman foi patética: ofereceu-se para encaminhar uma mensagem resumida que eu escrevesse à seção de cartas de leitores, ou um artigo aos editores de Opinião, enfatizando carecer de poder para determinar sua publicação ou não.

Obrigado por nada: em poucos minutos qualquer pessoa com inteligência mediana consegue levantar os respectivos e-mails e, assim, enviar seu texto a uma ou outra seção.

Quando alguém recorre à ombudsman queixando-se de haver sido atingido por algo publicado, cabe a  ela providenciar a retificação com igual destaque ou provar a improcedência da reclamação. Alegar que não tem poder para desempenhar sua missão é vexatório para ela e para a Folha.

Ante minha insistência, ela se saiu com este arremedo de argumentação: "não se trata de direito de resposta já que o seu nome não foi citado".

Se o nome de um cidadão não é mencionado, mas se trata de figura pública e a descrição da pessoa insultada corresponde exatamente à sua, negar-lhe o direito de resposta seria abrir a porta para todo tipo de ataques dissimulados e covardes.

Caso eu disparasse as piores ofensas contra "um barão da mídia" que cedia viaturas para o trabalho imundo dos torturadores e "seu filho" que esmerou-se em atenuar atrocidades ditatoriais... precisaria citar nomes?

E, não citando nomes, ficaria totalmente isento de responsabilidade por minhas afirmações?

Caracterizou-se, enfim:
  • a inexistência de direito de resposta para quem, como eu, não se verga aos constantes estupros das boas práticas jornalísticas por parte da Folha;
  • a inexistência de ombudsman na Folha, salvo como figura decorativa;
  • e a existência de um  house organ  da direitalha ocupando o espaço que um dia foi de um verdadeiro jornal, sob o comando do inesquecível Cláudio Abramo.
 
Obs.: o editorial citado e todas as mensagens trocadas podem ser acessados em DIREITO DE RESPOSTA DESFEITO; e violações  anteriores das normas jornalísticas por parte da mesma empresa, em MINHA LUTA SEM FIM CONTRA A FOLHA DE S. PAULO.

3 comentários:

Blog do Euler disse...

Caro Celso,

Não constitui novidade esta prática manipuladora e autoritária da FSP e demais órgãos da grande mídia. Felizmente, os espaços livres na Internet têm aumentado, contrapondo-se, pelo menos em parte, ao monopólio da mafiosa mídia controlada por barões serviçais do grande capital.

Contudo, gostaria de chamar-lhe a atenção para um fato que ocorreu anteontem, no programa do Jô, quando este entrevistava o sr. Marcos Azambuja, do Iphan.

Estava até gostando da entrevista, quando no meio da conversa Jô Soares lascou uma pergunta capciosa sobre o caso Battisti.

O entrevistado tratou logo de criticar a atitude do STF, argumentando que o Brasil deveria respeitar a decisão soberana da Itália. E a decisão soberana do Brasil, não conta não?

E o Jô, em coro com o reacionário entrevistado, ainda teve a cara de pau de dizer que entre as democracias deve haver este respeito pela decisão soberana de cada país.

Ora, que democracia havia na Itália nas décadas de 60 e 70? E mesmo hoje, com essa manipulação midiática, com os Berlusconis da vida a tripudiar da nossa inteligência?

Jô ainda elogiou a fala do presidente do STF, não fazendo qualquer menção ao fato de que a maioria do STF fez uma clara opção pelo respeito à Constituição brasileira.

Essa é a mídia que temos, composta por crápulas que recebem milhões de 30 dinheiros para venderem suas almas.

Um abraço.

Anônimo disse...

Esperar o quê desse Jô Soares? Mais um capacho do PIG a serviço do deus-dinheiro, não importando a origem deste.

celso disse...

Prezado xará (ou tocaio, como dizemos os gaúchos)

Eis a minha correspondência trocada com a porta-voz do Frias (vulga ombudsman)

To: ombudsman@uol.com.br
Sent: Tuesday, May 31, 2011 11:26 AM
Subject: TORTURADOR ESCREVE NA FOLHA

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador declarado pela Justiça de São Paulo como o responsável pela tortura de Maria Amélia de Almeida Teles, seu marido César Augusto Teles e sua irmã Criméia Schmidt de Almeida (sentença do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo em 9 de outubro de 2008), ex-comandante do DOI-CODI de São Paulo, o principal centro de tortura da ditadura militar onde deixou uma galeria de crimes brutais, é o novo COLUNISTA da FOLHA DE S. PAULO. Sua estreia deu-se na última sexta-feira, 27 de maio, ocupando metade da página 3, onde defende a excelência dos serviços de hotelaria que dispunha para seus hóspedes naquele que ele chamava de Tutóia Hilton.

Brilhante Ustra tem passado na Folha:
Já em 24 de maio de 2006 a jornalista Mônica Bergamo na sua coluna na Folha de S. Paulo convidava seus leitores a prestigiar seu futuro colega de redação: "Carlos Alberto Brilhante Ustra lança amanhã o livro 'A Verdade Sufocada', às 19h, no restaurante Fior D'Itália".
(segue um histórico das açoes da Fo;ha em defesa da ditadura).
Ao final, perguntei:

1) A OMBUDSMAN ESTÁ PROIBIDA DE ESCREVER AOS DOMINGOS SOBRE A PRESENÇA DE BRILHANTE USTRA NO FOLHA?
2) AS CARTAS DE LEITOR QUE A FOLHA PUBLICOU SÃO REPRESENTATIVAS DA OPINIÃO GERAL?
3) SE SUAS RESPOSTAS SÃO SIM (para a pergunta 1) E NÃO (para a pergunta 2), pergunto:

A SENHORA NÃO TEM VERGONHA DE SE PRESTAR A ESSE PAPEL SUJO DE SUPOSTA "OUVIDORA" DOS LEITORES?

A resposta da porta-voz do Frias foi:

Caro Celso,

1) não estou proibida de escrever sobre Ustra, que não é colunista do jornal. Escreveu um artigo, respondido hoje.
2) não sei dizer se as cartas são representativas, porque não há um levantamento sobre a opinião geral dos leitores
3) não tenho vergonha, porque não há nada sujo nem suposto no meu trabalho.



Suzana Singer
Ombudsman - Folha de S.Paulo

Após esta insólita, mas esperada, resposta ela defendeu, na sua coluna dominical, o direito de Brilhante Ustra escrever na Folha. Obviamente, ela nunca defenderia o seu direito e você, como eu, perdeu o seu tempo "gastando pólvora com chimango" (como, também, dizem os gaúchos).

Um abraço
Celso

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