O melhor filme brasileiro de todos os tempos é exatamente aquele que com mais fidelidade retratou o mundo cão da nossa política, transmitindo todo o nojo/horror que nos causa: Terra em Transe.
No longínquo ano de 1967 Glauber Rocha já dissecava com precisão cirúrgica o comportamento de líderes que frustram insensivelmente as esperanças por eles despertadas entre os humilhados e ofendidos.
Caso do populista Felipe Vieira (José Lewgoy): na primeira oportunidade em que se vê obrigado a optar entre o clamor das ruas e as alianças oportunistas que, para eleger-se, firmou com os sempre podres e sempre poderosos, causa decepção imensa aos eleitores e, quando protestam, ainda responde com repressão policial.
Na obra-prima glauberiana, pelo menos o poeta Paulo Martins (Jardel Filho) toma a atitude digna de abrir mão do seu cargo, de preferência a abrir mão de sua consciência.
Com imenso pesar, constato que a presidente Dilma Rousseff, 44 anos depois, também está abdicando, por um péssimo motivo, da aura de simpatia que cercou o início do seu governo.
Até agora, havia quem apostasse na possibilidade de ela vir a se mostrar uma ave rara na infame política oficial brasileira.
Mas, ao transformar em prioridade da semana a salvação a qualquer preço (o termo aqui cai como uma luva...) de Antonio Palocci, ela bisou, em tudo e por tudo, o pior momento de Lula: aquele em que evitou o merecido ostracismo de José Sarney.
São duas malas sem alça que ninguém deveria jamais carregar: o trotskista que trocou a revolução permanente pela permanente subserviência ao grande capital e o coronelão que prestou bons serviços à ditadura e agora presta os piores possíveis à democracia.
Para encerrar com mais um paralelo cinematográfico e evocando outra obra-prima, lembro o desprezo de Thomas More (Paul Scofield), em O Homem que não vendeu sua alma (d. Fred Zinneman, 1966), ao saber que o canalha que o condenara à morte com seu falso testemunho (John Hurt) tivera como paga do seu perjúrio um insignificante cargo de coletor de impostos no País de Gales: "Trocar sua alma imortal pelas maiores riquezas do universo já seria um péssimo negócio... mas, por Gales?!".
Da mesma forma, a Dilma deixar de ser vista como o novo e cair na vala comum do mais do mesmo seria um péssimo negócio em qualquer circunstância... mas, por Palocci?!
3 comentários:
É... Como o rapaz ministro não preza a limpeza, era só questão de tempo até começar a feder. Agora a limpeza terá de ser feita em condições vexatórias.
É o preço a pagar pela irresponsabilidade de ter colocado o cara no governo.
concordo e numero gênero e grau.
É Lungaretti, Palocci é Palocci, não espere de Dilma o que Dilma nâo pode fazer nesse momento. Dilma é um esfíngie; quem é hoje o fardado jobim? Palocci segue para o mesmo buraco, certamente.Talvez seja o jeito feminino de exercício do poder. No mais....
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