"Em Rondônia, há uma pequena cidade chamada Presidente Médici. Este é o mesmo nome de um estádio de futebol em Sergipe.
Os paulistanos que quiserem viajar de carro para Sorocaba conhecerão a rodovia Castello Branco. Aqueles que procurarem uma via sem semáforos para o centro da capital paulista poderão pegar o elevado Costa e Silva.
Há mesmo alguns paulistanos que moram na rua Henning Boilesen: nome de um empresário dinamarquês, radicado no Brasil, que financiava generosamente a Operação Bandeirante e que, em troca, podia assistir e participar de torturas contra presos políticos na ditadura militar.
Há alguns anos, os são-carlenses foram, enfim, privados da vergonha de andar pela rua Sérgio Fleury: nome de um dos torturadores mais conhecidos da história brasileira. Estes são apenas alguns exemplos da maneira aterradora com que o dever de memória é praticado no Brasil.
Se monumentos, cidades e lugares públicos podem receber o nome seja de ditadores que transformaram o Brasil em um Estado ilegal resultante de um golpe de Estado seja de torturadores sádicos é porque muito ainda falta para que a memória social sirva como garantia de que o pior não se repetirá.
Sem esta garantia vinda da memória, os crimes do passado continuarão a destruir a substância normativa do presente, a servir de ameaça surda à nossa democracia."
(Vladimir Safatle, no artigo Insultos à memória)
(Vladimir Safatle, no artigo Insultos à memória)
OBS: sobre o mesmo assunto, vale a pena ler também meu artigo Uma rua (que não é mais) chamada torturador, de 2009.
2 comentários:
Celso, Vladimir Safatle foi muito feliz com o artigo e você por postá-lo em seu blog. Exemplos não faltam como o Elevado Costa e Silva. Já levei esse debate a alunos de oitava série nas minhas aulas de História. Há uma escola em Diadema que leva o nome de Filinto Müller. Como pode uma escola levar um nome desses? É um costume das escolas realizar pesquisas a respeito da origem de seus nomes; imagine o que os alunos daquela unidade poderiam encontrar na realização de uma pesquisa séria. Sem contar as menções feitas a batalhas da Guerra do Paraguai como a rua Cerro Corá, um autêntico genocídio praticado pelas tropas brasileiras.
Prezado Celso, o Vladimir esqueceu da Rua Dan Mitrione, em Belo Horizonte.
Postar um comentário