terça-feira, 22 de março de 2011

LÍBIA: RUIM COM A INTERVENÇÃO, PIOR SEM ELA

Este tirano sinistro merece ser derrubado...
Em meio ao simplismo futebolístico com que se discute a crise da Líbia, um artigo consistente é o do filósofo Vladimir Safatle, Armas para o povo.

Primeiramente, por acertar na mosca quanto ao papel do vilão maior dessa crise:
"...dificilmente encontraremos hoje um ditador tão patético quanto Gaddafi.

Na verdade, Gaddafi é a figura mais bem-acabada de um imperador que deteria um poder soberano em situação de exceção e que se demonstrou capaz de pagar mercenários para esmagar manifestações de seu povo".
Segundo, por avaliar com perspicácia o comportamento dos desnorteados de esquerda, insensíveis ao estrago que causam à credibilidade de nossa causa ao defenderem tiranos sanguinários e repulsivos:
...junto com o reizinho do Bahrein e outros que tais...
"Aqueles que têm para com ele alguma complacência, normalmente em nome da luta anti-imperialista, dão prova de acreditarem no primarismo de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo".
Finalmente, ao destacar a má fé com que agem as grandes potências, só colocando os "crimes contra os direitos humanos" acima da soberania nacional nos casos de "países escolhidos a dedo", o que perpetua "a velha parcialidade que minou o discurso democrático do Ocidente no Oriente Médio":

...pondo fim à tradicional condescendência
com os "ditadores amigos", como Pinochet
"Se o interesse é, realmente, uma intervenção humanitária em defesa dos manifestantes líbios, é difícil entender por que a proposta não valeria ainda para a defesa dos manifestantes do Bahrein, já que esses também são objetos da truculência de um monarca absoluto que tem, agora, apoio das tropas sauditas.
A única explicação plausível é o monarca do Bahrein ser um 'ditador amigo'. Já Gaddafi é louco demais para ser amigo de alguém".
Até aí, tudo perfeito. Assino embaixo.

Só discordo do professor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP num ponto: ainda que a intervenção autorizada pela ONU permita a Gaddafi maquilar seus esforços para conservar o poder como uma cruzada anticolonialista, pior ainda seria cruzar os braços quando o povo líbio se revoltou depois de 42 anos de submissão à mais férrea tirania... e estava sendo dizimado.

A alternativa sugerida pelo articulista -- a distribuição de armas à população -- é ingênua. Mesmo armados, civis não são páreo para tropas exaustivamente treinadas e profissionalmente comandadas. Tudo indica que as potências ocidentais agiram na enésima hora, quando, em termos militares, os rebeldes marchavam inexoravelmente para a derrota.

E aí entra um valor importante que os desnorteados de esquerda esquecem ou fingem esquecer: que efeito teria, para os povos do mundo inteiro, a aniquilação dos rebeldes líbios e o previsível banho de sangue com que Gaddafi os puniria? Quem, submetido ao mesmo despotismo, não passaria a encarar com temor bem maior a perspectiva de lutar por sua libertação?

Enfim, melhor e mais coerente do que impugnarmos uma iniciativa que, sejam quais forem as reais motivações dos seus autores, acaba ajudando o povo líbio a reconquistar a liberdade, seria cobrarmos das potências ocidentais a mesma atitude no caso dos 'ditadores amigos', começando pelo reizinho de Bahrein.

Isto para não falar na brutal opressão a que Israel submete o povo palestino.

Um comentário:

Haroldo Mourão Cunha/São Gonçalo/RJ. disse...

Pobre povo líbio, estão entre o pelotão de fuzilamento e a cadeira elétrica. Essa revolta foi tramada e armada (em todos os sentidos) por "organismos" internacionais. Não estou a defender ditadura alguma, nunca farei isso, mas o custo para o povo simples será altamente desfavorável. No século XXI cada vez mais me convenço que nas revoluções por intermédio de balas de canhões e urdidas de fora, sobrará as misérias nossas de cada dia. Não existe de maneira alguma ajuda humanitária à Libia, nada me faz, ou fará, pensar em algo parecido com isso!

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