É melancólico constatar que o stalinismo continua bem vivo em agrupamentos e espaços da esquerda brasileira, servindo para afastar de nossas causas muitos cidadãos que prezam, acima de tudo, a liberdade.
Como alvo que sou do macartismo da grande imprensa, impedido de exercer meu ofício nos veículos patronais, tenho recorrido a todos os respiradouros existentes para continuar exercendo o papel de formador de opinião, na contramão do sistema.
Num desses espaços, o Centro de Mídia Independente, minhas posições (elas sim!) independentes começaram a despertar a ira dos reacionários... e também dos que se julgam porta-vozes da única linha política correta, aspirantes a grandes timoneiros extemporâneos.
No último mês de março, cansei de ter de reagir tanto aos inimigos de classe quanto ao fogo amigo e, indignado com a censura a um meu artigo sobre futebol com enfoque crítico (sobre jogadores espremidos e jogados fora pela engrenagem que explora o esporte das massas), deixei o CMI.
No entanto, continuava a ser lá citado por admiradores que reproduziam meu textos, e também por detratores a quem me repugnava deixar sem resposta.
Então, no último trimestre acabei voltando, não para publicar tudo que eu achava pertinente, mas, apenas, os artigos referentes a lutas em curso e a fatos políticos de maior gravidade.
Nem assim o CMI manteve a coerência com seu papel de alternativa ao PIG. Pelo contrário, reproduz seus piores vícios, com destaque para o vezo autoritário.
Assim, fornece tribuna a ataques destrambelhados como o que me fez um cidadão obcecado em pegar carona no meu prestígio e no de outros esquerdistas conhecidos (Laerte Braga e João Pedro Stedile são outros alvos frequentes de suas sandices invejosas): Mobilizações Pró Cesare Battisti: Não Chamem o Celso Lungaretti.
Citado nominalmente inclusive no título dessa tosca catalinária, eu deveria, ao menos, ter garantido meu direito de resposta.
Não foi, entretanto, o que ocorreu: no meio do debate, um comentário meu, postado várias vezes, nunca foi ao ar.
Insisti, postando o comentário como se fosse um novo tópico; censuraram-no (ou, no eufemismo orwelliano do CMI, foi escondido).
Enquanto isto, permanecia publicado, pelo segundo dia consecutivo, uma grosseria inqualificável de um direitista, com insultos e baixo calão, CELSO LUGARETTI FORA DO CMI. Talvez agora escondam tambem tal post, para salvar as aparências...
Lamentavelmente, o CMI se mostra território tão minado para mim quanto a mídia patronal. Só me resta descartá-lo em definitivo, já que seus aprendizes de censores não conseguem conviver com a diversidade de opiniões no campo da esquerda.
É que eles estão estimulando, inclusive em editoriais, as mobilizações em favor da libertação imediata de Cesare Battisti e parecem não ter gostado de minha colocação -- que, aliás, só fiz para colocar os pingos nos ii, respondendo às falácias assacadas contra mim -- de que, embora seja necessário e válido mantermos a pressão, o caso já está decidido, com a certeza de que os ministros do Supremo, por confortável maioria, resolverão não discutir o mérito da decisão do presidente Lula, reconhecendo-a e ordenando o fim do sequestro do escritor.
De resto, causou-me extrema repugnância o covarde ataque ao blogue Quem Tem Medo do Lula? , utilizado como "exemplo" de que eu seria um aderente ao "lullo-petismo".
De um lado, quem acompanha meu trabalho sabe muito bem que sempre elogiei ou critiquei o presidente Lula exclusivamente do ponto de vista de sua coerência ou não com os valores fundamentais da esquerda, deixando de lado quaisquer avaliações sobre o modo como geriu o estado burguês, já que não é essa a minha praia.
Por conta disto, na verdade, cito-o bem pouco nos meus artigos. Mas, sempre me mantendo fiel à linha que tracei e não deixando de reconhecer os méritos de suas decisões acertadas, como a de livrar definitivamente Battisti da vendetta neofascista. No campo da esquerda, só imbecis e/ou antilulistas hidrófobos desmerecem tal decisão.
De outro, o blogue da companheira Ana Helena Tavares é digno e exemplar, nem de longe se constituindo num espaço de proselitismo primário.
Ecumenicamente, ela convidou articulistas de várias tendências, que mantêm assídua colaboração: Carlos Lungarzo, Fernando Soares Campos, Gilson Caroni Filho, Laerte Braga, Mário Jakobskind, Raul Longo, Rui Martins e Uraniano Mota, dentre outros. Estou em boa companhia.
Finalmente, deixo aqui, como registro, o comentário que o CMI censurou. Que cada um tire suas conclusões:
UNS ASSUMEM RESPONSABILIDADES, OUTROS FICAM GRASNANDO
Engraçado, na hora de se botar o guizo no pescoço do gato sempre há falta de voluntários. Depois, quando o serviço já está feito, vêm criticar a maneira como penduramos o guizo.
Lá por 2007, a direita estava muito mais ativa na internet e nenhum dos nossos enfrentava o Olavo de Carvalho, cantado em prosa e verso como o grande "filósofo" dos reaças. Ele lançava artigos desafiando os companheiros de esquerda, que não respondiam, preferindo o ignorar.
Apanhei a luva, polemizei com ele e, sabendo como era importante a vitória para virarmos o jogo que até então nos era desfavorável, joguei no erro do inimigo. Em vez de atacar, simplesmente voltei os ataques do OC contra ele. É o que um amigo, professor de lutas orientais, sempre me recomendava...
Enfim, de um jeito ou de outro, botei-o pra correr. E aí houve quem dissesse que eu deveria ter sido mais contundente, mais afirmativo, bla, bla, bla.
Não chegava ter derrotado e humilhado um porta-voz dos reaças, mesmo sendo ele professor e acadêmico e eu não passasse de um jornalista? Ainda precisaria ter dado lições disto e daquilo?
Depois, assumi esta luta extremamente desigual, num momento em que quase ninguém na esquerda defendia o Cesare e a direita deitava e rolava na grande mídia.
Foram mais de 2 anos e meio de trabalho duro, viagens, contatos com Deus e o mundo, entrevistas, debates públicos com os reaças, "panfletagem", estresse, cerca de 200 textos escritos, etc.
Por força das minhas características pessoais, acabei sendo sempre quem reagia aos acontecimentos de batepronto, nos momentos mais difíceis, correndo o risco de opinar sobre o que ninguém havia ainda se pronunciado.
Discutia assuntos legais unicamente com o que aprendi na minha vida de lutas e no exercício do jornalismo. Mesmo assim, nos meus prognósticos e avaliações, acertei muito mais do que errei.
Isto sempre tendo bem presente o fato de que, se perdêssemos, o Cesare não aceitaria ser extraditado. Dava para perceber claramente que, a esse fim, ele preferiria optar por outro, mais digno. Era esta a responsabilidade que eu carregava e da qual estava bem consciente.
Chegamos a estar a um passo da derrota, na 3ª votação do STF. Desenvolvemos um esforço sobre-humano (a Fred, o Lungarzo, o Barroso e eu) para salvar a situação, na bacia das almas. E conseguimos.
Agora, vocês vêm aqui dar lições sobre a forma como deveríamos ter conquistado esta vitória?! Dizer que deveríamos ter nos preocupados mais com a IMAGEM da vitória do que com a vitória em si?!
Para quem estava no centro dos acontecimentos, nunca houve grandes opções do nosso lado. Fizemos o que dava, reagindo a cada desafio da melhor maneira possível, contra inimigos que contavam com recursos infinitamente superiores.
Qualquer vitória, nessas condições, tem de ser saudada como algo bem próximo de um milagre.
E comemorada como o que foi: uma luta de Davi contra Golias, que a esquerda venceu, num momento em que precisava vencer.
Havia uma ofensiva direitista para colocarem o Executivo sob tutela do STF, com apoio ostensivo da mídia. Nós quebramos a espinha dos reaças, abortando definitivamente esse plano e desmoralizando a dupla Mendes/Peluso. Daqui para a frente, eles não serão mais a vanguarda de britzkrieg nenhuma...
E salvamos um companheiro valoroso, merecedor de todo nosso apoio. Honramos a tradição da solidariedade revolucionária.
Não foi pouco.
Obs.: acabo de constatar que meu post Problemas técnicos ou censura dissimulada?, que havia sido escondido pelo CMI, voltou para a página principal. Então, a partir desse reconhecimento implícito do erro cometido, manterei minha postura de utilizar todas as mídias alternativas disponíveis para levar aos companheiros as mensagens que considero relevantes. Nossas lutas importam mais do que mágoas pessoais, mesmo justificadas.
7 comentários:
O CMI é do PSOL,,,parece
Andre
Parabéns Celso! Ainda bem que sóis livre! Ser sectário é viver num Gueto.David Rodrigues da Silva, de Belo Horizonte.
Caro Celso, seria interessante você dar alguma nota a respeito das manifestaçoes contra o aumento da tarifa do onibus em Sao Paulo. Seria uma boa forma de divulgar nossa luta e denunciar a repressao descabida que sofremos no dia de ontem... Semana que vem tem mais... abraço
Estive no site do CMI e vi as propostas de mobilização para libertar Battisti: me pareceram puerís e inócuas, cuja única motivação é servir de pedestal para a semostração dos organizadores, que falarão falarão falarão, sem qualquer proveito prático para o refém que os reacionários mantém preso.
Está claríssimo que há um enfrentamento político neste episódio da extradição, que nada tem a ver com a pessoa do Cesare Battisti e nem com os acontecimentos de décadas passadas.
Eis porque há alguns dias propus aqui mesmo no Náufrago da Utopia uma forma de confrontar o encastelamento reacionário do STF e ao mesmo tempo tentar obter juridicamente a ordem de soltura.
Como não obtive qualquer adesão, imaginei que talvez não tenha ficado claro na proposta que cada cidadão que se dispusesse impetraria um habeas corpus em seu próprio nome, sendo que a repercussão se daria com centenas de pedidos de habeas corpus impetrados por centenas de cidadãos.
Em todo o caso, já passou da hora.
A proposta colocada no post NOVA ARBITRARIEDADE: PELUSO PROLONGA SEQUESTRO DE BATTISTI
Marcelo Rodrigues disse...
Caro Celso,
Como você sabe, o pedido de habeas corpus pode ser impetrado por qualquer cidadão, não é preciso ser advogado. Pode ser impetrado até mesmo verbalmente e sem procuração, tão grande é o apreço pela liberdade, que provém da consciência humana, muito antes de qualquer Constituição.
Assim, explicito a proposta de que cidadãos - quantos se dispuserem, centenas, quanto mais melhor - se dirijam até o STF e impetrem o habeas corpus diretamente perante a única autoridade responsável pelo constrangimento ilegal, o Sr. Peluso.
Se o ministro se recusar a receber o pedido, talvez seja possível o cidadão dar voz de prisão a ele, convém averiguar esta possibilidade, eu particularmente não hesitaria.
Moro longe de Brasília, mas me disponho a pegar o meu carro e andar 700 quilômetros para fazer a minha parte.
Meu caro Marcelo,
às vezes temos de nos conformar com nossa impotência para produzir as soluções ideais.
O fato é que, com uma luta insana, chegamos à presente situação: logo no início do mês o STF se recusará a discutir o mérito da decisão do Lula e determinará a libertação do Cesare.
O baralho não é nosso, nem somos nós os carteadores. Então, se o que foi acertado pelos poderosos uma vez na vida contempla nosso principal objetivo, temos é de não atrapalhar.
Estou enojado com as vaidades exacerbadas que afloraram depois que a vitória se tornou evidente.
Vencemos a parada, verdadeiramente, em dois momentos:
1) quando conseguimos, na 3ª votação do STF, que a última palavra continuasse sendo dada pelo presidente da República;
2) quando Lula decidiu, DEFINITIVAMENTE, recusar o pedido italiano.
No próprio dia 31, já escrevi que o Peluso tentaria ainda especular com outras possibilidades, SEM ÊXITO. No presidencialismo brasileiro, não se derruba a decisão do presidente. Ponto final.
Sei que é chato esperar o prato feito dos grãos senhores, mas tivemos quase quatro anos para produzirmos nós mesmos o resultado justo. Não conseguimos.
Então, é hora de pensarmos no Cesare. A politicalha não deve, de forma nenhuma, comprometer o que significará o recomeço da vida para ele.
Se todos que correm agora atrás de louros tivessem se mexido antes, quando a luta estava realmente sendo decidida, talvez a libertação do Cesare tivesse vindo como resultado de nossa mobilização.
Houve muita omissão nos momentos decisivos. Tanto quanto está havendo agora busca de holofotes, depois que já está tudo decidido.
Enfim, Marcelo, agradeço sua intenção, sei que você quer sinceramente ajudar.
Mas, não esconderei que estou profundamente decepcionado com certos comportamentos por aí. A derrota é sempre órfã e todos querem ser o pai da vitória.
Um forte abraço!
Lello,
vocês têm, claro, minha solidariedade, pelo que ela valer.
Neste momento, sinceramente, preciso refletir sobre muita coisa antes de abraçar novas causas.
Inclusive se a internet é o veículo ideal para o que me proponho e se não deveria me voltar mais para a definição dos grandes objetivos de nossa luta, ao invés de interferir pessoalmente em cada batalha.
Como disse na outra resposta, estou precisando refrescar a cabeça por uns tempos.
Abs.
Marcelo,
a idéia do habeas corpus em massa foi posta em movimento.
Talvez se concretize, dependendo ainda de algumas questões.
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