UM BRASILEIRÃO NA LIXEIRA

Campeonatos por pontos corridos só dão certo em países onde a esportividade ainda existe, ou seja, onde a ganância e a obtusidade não a extirparam do futebol. Não é o caso do Brasil.

Para começar, nossos clubes cada vez mais priorizam determinadas competições em detrimento de outras, travadas simultaneamente.

Assim, p. ex., se o Internacional vai disputar uma partida importante da Copa Libertadores da América na 4ª feira, poupa vários titulares no jogo de domingo do Brasileirão.

Ora, essa prática, adotada quase sempre por quase todos, transforma o Campeonato Brasileiro numa loteria. Um clube pode ser campeão apenas por haver tido a sorte de disputar mais jogos contra os reservas dos adversários.

Depois, há as pirraças ridículas e ultrajantes: o Corinthians entregou um jogo para o Flamengo na reta final do Brasileirão de 2009, para prejudicar o Palmeiras; agora em 2010, recebeu o troco, com o Palmeiras entregando o jogo para o Fluminense; e o São Paulo, sem sequer a mesma atenuante, também facilitou a vitória do tricolor carioca.

Finalmente, para cúmulo dos cúmulos, o Palmeiras resolveu antecipar as férias de 16 dos seus jogadores para esta 5ª feira (2), liberando-os da partida final contra o Cruzeiro, que ainda tem chances, embora remotas, de ser campeão.

Essas aberrações desfiguram a competição e lesam os apostadores na Loteria Esportiva, pois estes baseiam seus palpites no desempenho provável de equipes completas e motivadas.

Se o Brasil fosse um país sério, o Brasileirão 2010 teria de ser simplesmente anulado, tamanho foi seu desvirtuamento. Por culpa dos exibidos, incompetentes e grotescos cartolas; de técnicos preocupados apenas em conservar o emprego, sem noção do seu verdadeiro papel; e de jogadores que se igualam aos torcedores mais tacanhos.

Como isto não será feito, que, pelo menos, se mude imediatamente a fórmula da disputa, restabelecendo a decisão em mata-matas.

Assim, os times serão campeões em função de seus méritos e do seu suor, e não porque adversários jogaram desfalcados ou não suaram suas camisas, desonrando-as e desonrando-se, sem nem mesmo terem noção de quão ignóbill é tal atitude.