domingo, 14 de novembro de 2010

QUANDO OS BRUTOS SE DEFRONTAM...

...é um clássico do western italiano, infelizmente só disponível no Brasil em DVD amputado: faltam 13 minutos da versão original e os cortes foram, ademais, grosseiros.

Tratou-se da segunda obra-prima -- duas moedas que caíram em pé -- resultante da parceria entre um típico diretor-artesão (Sergio Sollima) e um grande roteirista que enxertava abordagens políticas em filmes de ação (Sergio Donati). A outra: O Dia da Desforra (La Resa dei Conti, 1966).

A primeira incursionara pela Revolução Mexicana, mostrando com quantas injustiças se forjavam os revoltosos.

Em Faccia a Faccia (1967), o foco foi a gênese de lideranças do tipo fascista, ao mostrar como um sofisticado professor de História (Gian Maria Volonté), em contato com uma sociedade primitiva, absorve o pior dos dois mundos: torna-se tão violento quanto os piores bandidos e a todos eles manipula para obter poder sem limites.

Mas, por que estou falando de Quando os Brutos se Defrontam?

Porque este título imediatamente me veio à mente ao constatar que Elio Gaspari e Gilmar Mendes estão travando uma daquelas brigas de foice no escuro... nas quais a opção mais sensata para nós é sermos imparciais, concordando com tudo que um diz sobre o outro.

Assim, Gaspari abriu as hostilidades no último domingo (07/11), em Gilmar atirou no Congresso e no STF:
"... Na última sexta feira, depois de ter sido derrotado no julgamento da vigência da Lei da Ficha Limpa, ele [Gilmar Mendes]... disse o seguinte:

'O Congresso estava de cócoras. Por quê? Porque não queria discutir isso racionalmente, porque ninguém queria se dizer contra a Ficha Limpa.'

"...Como o ministro classificaria a decisão do STF em 1936, negando um habeas corpus a Olga Benário, cujos advogados argumentavam que ela tinha no ventre uma criança concebida no Brasil?

"É fácil espancar o Congresso, mas em 1968 a Câmara dos Deputados negou ao Executivo a licença para a abertura do processo de cassação do mandato do deputado Marcio Moreira Alves. Até os sorveteiros sabiam que com isso ele seria fechado pelos militares. Foi. No Supremo, onde dois ministros foram imediatamente cassados, dois outros deixaram a Corte. Os demais ficaram sentados.

"Em 1974, foi o Supremo quem transferiu da Câmara para a cadeia o deputado Francisco Pinto, por ter chamado o general chileno Augusto Pinochet de ditador.

"O doutor Gilmar deveria deixar de lado as flexões dos joelhos alheios...

"Na mesma entrevista, referindo-se à decisão do STF pela imediata vigência da Lei da Ficha Limpa, Gilmar acrescentou: 'Foi um erro ter colocado isto em julgamento.'

"De quem foi o erro? De um 'capinha' que esqueceu o processo sobre a mesa do presidente Cesar Peluzo? Dos ministros que votaram numa posição contrária à de Gilmar?

"Pode-se sonhar com o dia em que o Supremo Tribunal Federal brasileiro funcione com a etiqueta da corte americana, onde (...) ministro criticando colega ou decisão da Casa é algo impensável".
A resposta veio hoje (14/11), em Gaspari, a ditadura e a Suprema Corte:
"...designado embaixador em Washington pelo governo de 64, o general Juracy Magalhães, entusiasmado pelo estilo de vida dos 'irmãos do norte', soltou a frase infeliz: 'O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil'. Até hoje faz escola.
"Admirador da ditadura brasileira e macaqueador dos americanos, Elio Gaspari gosta muito de comparar modos e feitos da Suprema Corte com o nosso Supremo Tribunal. Erra feio...

"Além da disparidade dos sistemas jurídicos (...), beira o nonsense confrontar a aplicação da vetusta Carta americana de seis artigos com a da imberbe Constituição pátria de quase 300 dispositivos...

"Se, por teimosia, despreparo ou autoindulgência, o jornalista persistir em traçar paralelos entre instituições ou culturas tão díspares, deveria - a exigir-se um mínimo de honestidade intelectual - citar também algumas das vicissitudes que acabaram por fazer a corte americana avalizar, durante décadas, regimes de intolerância, como a terrível escravidão...

"...não sobram desculpas às desinformações que o colunista veicula em artigos que mais servem ao escracho do que ao esclarecimento. Se houvesse assistido às sessões relativas à constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, Gaspari saberia que a autocrítica - e não crítica - que fiz acerca da oportunidade do segundo julgamento teve lugar no plenário da corte, perante meus pares.

"...na pressa em escancarar a notória americanofilia, Gaspari prefere incorrer em distorções grotescas, na já bem conhecida avidez de apontar, à patuleia, as falhas de Pindorama...

"...o velho Supremo (...) bancou sucessivos habeas corpus para os dissidentes da ditadura, enquanto áulicos do regime bajulavam generais.

"Esses e outros aspectos importantes passam batido na visão imediatista e popularesca de gente como Gaspari, mais preocupada em criticar do que em compreender a realidade brasileira".
Se ambos decidirem resolver dignamente suas divergências no campo de honra, terei prazer em providenciar as pistolas.

Mas, por motivos óbvios, não serei o padrinho de nenhum deles.

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