Depois que coloquei no ar seu ótimo comentário ao meu post Bento XVI lança a "Teologia do Retrocesso", o jornalista Procópio Mineiro (procopiom@gmail.com} sentiu-se estimulado a escrever um artigo sobre o assunto. E acertou na mosca, novamente. Vale a pena dividi-lo com vocês.
Bento XVI reduziu o conceito de direito à vida a uma pura questão de concepção e prosseguimento ininterrupto da gravidez. Reduziu a questão central da humanidade – direito à dignidade da vida e a uma vida digna – às conseqüências de um ato sexual.
Em nome do que entende ser direito à vida – isto é, em nome de um posicionamento apenas anti-aborto – o papa virou depressa demais muitas páginas dos Evangelhos. E ignorou exemplos de tantos outros papas e de santos e santas – inclusive da candidatos e candidatas à santificação, com a Irmã Dulce, mãe dos pobres das favelas de Salvador.
Ao tentar induzir bispos nordestinos a se meterem na política brasileira do lado errado, o Papa esqueceu-se da dignificação da vida social que Jesus pregou ao estabelecer, em suas falas aos apóstolos e ao povo, que somente o amor a Deus está acima do preceito de amar o próximo – a solidariedade humana radical, suprarracial, supratribal, supranacional, que é a marca transformadora do cristianismo.
Dai de comer a quem tem fome, acolhei o desabrigado, não basta rezar “Senhor! Senhor!”, mas sim fazer a vontade de Deus, que vos ameis como eu vos amei, és responsável por teu irmão. Em tradução rápida: a fraternidade deve superar o individualismo.
Ao longo da Era Cristã, de dois milênios, a humanidade deu saltos gigantescos e viveu convulsões desesperadas em busca da realização desses preceitos - tanto na esfera religiosa, quanto na esfera política.
Lutas impuseram a expansão da dignidade humana às massas, na linha cristã, mesmo quando seus autores ignoravam e até mesmo combatiam o cristianismo.
Outras lutas destruíram avanços já conquistados e impuseram regressões – até com o aval equivocado de papas e bispos católicos, que preferiram e preferem ficar ao lado do individualismo contra a fraternidade, e se puseram e se põem ao lado dos ricos, aqueles que não irão ao reino dos céus, pois mais fácil será um camelo passar pelo furo de um agulha.
São lutas do tempo presente, ainda. São equívocos ainda do tempo atual.
Luta-se em todo o mundo pela dignificação da vida, que depende de mudanças políticas estruturais. Na América Latina, após uma década devastadora dominada pelo neoliberalismo individualista e excludente, os pobres levantaram governos comprometidos com a mudança na linha da fraternidade cristã e da construção de uma realidade emque se torne mais fácil a todos se sentirem humanamente dignos.
A Igreja de João Paulo II e de Bento XVI disse não aos povos latino-americanos empenhados em mudanças igualitárias na linha do pensamento cristão. A Igreja de João Paulo II e Bento XVI aliou-se aos que promovem o individualismo e a exclusão das massas.
A quem serve o papa? A quem o papa manda seus bispos servirem?
Um comentário:
Olá isso vem bem a calhar o que precisava ler , muito bom mesmo. como sempre vc um otimo jornalista e ser humano, parabéns. pena a vida nos prega peça , saudades de vc .
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