segunda-feira, 16 de agosto de 2010

HÁ 70 ANOS TROTSKY ERA ASSASSINADO NO MÉXICO

A Liga Bochevique Internacionalista, em longo artigo, assinala o transcurso do 70º aniversário da morte de Leon Trotsky, no próximo sábado (21). Boa lembrança!

Foi um dos maiores revolucionários do século passado, tendo comandado a tomada de poder em outubro/1917, pois Lênin, a principal liderança do Partido Bolchevique, estava distante do palco dos acontecimentos.

Depois, para salvar a nascente república soviética, realizou um dos maiores prodígios militares da História, ao conseguir levantar praticamente do nada um exército capaz de vencer as forças reacionárias internas e as tropas intervencionistas estrangeiras.

Tirou proveito estratégico do fato de que os inimigos, embora tivessem enorme superioridade numérica e logística, atuavam praticamente cada qual por si, sem concertarem sua ação.

Quando esteve no poder, incorreu em excessos como a repressão aos marinheiros do Kronstadt. Mas, depois de perder a luta interna para Stalin, voltou ao papel de crítico maior do autoritarismo.

Já o havia sido na sua fase menchevique, quando denunciava a concentração de poder para a qual convergiriam as teorizações leninistas:
  • de início, o partido substitui a classe trabalhadora;
  • depois, o comitê central substitui o partido;
  • finalmente, um tirano substitui o comitê central.
Foi exatamente o roteiro que o mundo testemunhou, só que com Stalin no papel de tirano.

Analisando corretamente que uma  nomenklatura  estava se apossando tanto da revolução soviética quanto da condução do movimento comunista mundial, Trotsky lançou a IV Internacional, sem resultados significativos em meio à radicalização das décadas de 1930 e 1940.

Mesmo os que estavam cientes dos crimes e falácias stalinistas, temiam enfraquecer a primeira nação dita socialista (Marx provavelmente a consideraria mero capitalismo de Estado...) em meio à luta contra o nazifascismo.

Caçado de país em país pelos assassinos de Stalin, Trotsky foi assassinado por Ramon Mercader no México.

Autor da teoria da  revolução permanente, ele deixou como principal legado a defesa intransigente da revolução mundial como único caminho para se concretizarem os ideais de liberdade e justiça social (postura alternativa ao  socialismo num só país  de Stalin, que admitia a possibilidade de construção do socialismo no varejo e subjugava os movimentos revolucionários de outras nações aos interesses e conveniências da URSS).

Ele e Che Guevara foram os símbolos máximos do internacionalismo revolucionário no século 20.

Para quem quiser saber mais sobre este personagem, no mínimo, fascinante, recomendo três obras fundamentais: Minha Vida e História da Revolução Russa, do próprio Trotsky; a a trilogia O Profeta Armado/O Profeta Desarmado/O Profeta Banido, de Isaac Deutscher.

Seu drama inspirou também uma obra-prima ficcional, o igualmente obrigatório A Segunda Morte de Ramon Mercader, de Jorge Semprún.
 
O atentado de Mercader (Alain Delon)  contra o velho revolucionário 
(Richard Burton) no filme dirigido por Joseph Losey em 1972.

4 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Então quer dizer se Lênin continuasse vivo seria ele o "ditador"?

celsolungaretti disse...

Trotsky pensava que sim, antes da reconciliação entre ambos, às vésperas da revolução de 1917.

O certo é que, indignado com a brutalidade que Stalin começara a mostrar, Lênin, já bem doente, escreveu uma carta para detonar a carreira do georgiano.

Recomendou a Trotsky que a utilizasse sem piedade numa reunião ou congresso do partido que estava prestes a ocorrer.

Subestimando o adversário, Trotsky contentou-se com o recuo tático de Stalin e não usou a arma que Lênin lhe fornecera.

O resto são especulações. Mas, com certeza, Lênin jamais produziria uma tirania tão grotesca quanto a de Stalin, com sua mistura indigesta do avançado ideal marxista com os atrasadíssimos chauvinismo da Santa Mãe Rússia e ortodoxia religiosa (Stalin chegou a estudar para monge).

O culto à personalidade, p. ex., derivou diretamente da mentalidade religiosa. O ateu Lênin jamais se deixaria idolatrar daquela forma, era civilizado demais para isso.

wilson cunha junior disse...

Em recente visita ao México visitei a casa da Frida Kahlo e foi emocionante ver o quarto, e alguns pertences, onde ele viveu por um tempo.

Anônimo disse...

Acho que no mundo sonhado / lutado por Trotsky e Guevara eles não serão mais lembrados. Tinham interesses diversificados demais para virar estatuas pesadas como Stalin, Mao e outros piores. Acho os livros citados extremamente enriquecedores de uma visão reavaliadora da história. Fiquei feliz pela citação do livro do Jorge Semprun, que não só indiquei à editora do Gasparian, Paz e Terra, como traduzi com Marcus Penchel. Julio Cesar Montenegro - jcmontenegro@globo.com

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