Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu.
Os versos de "Roda Viva", do Chico Buarque, são de quatro décadas atrás -- e nos inspiram reflexões ainda mais melancólicas hoje.
Naquele tempo, quem carregava nosso destino pra lá, impedindo-nos de ter voz ativa, era a ditadura.
Nós, que íamos contra a corrente até não podermos resistir, tínhamos, pelo menos, a esperança de que tudo mudaria adiante.
Mesmo que alguns militares da linha dura, a exemplo de seus inspiradores alemães, sonhassem com um reich de mil anos, sabíamos que um projeto desses jamais vingaria entre nós.
Estávamos certos... e errados.
A ditadura reagiu ferozmente contra os poucos que tinham ânimo para confrontá-la de peito aberto, mas os que não acompanharam esses poucos também não gostavam de levar a vida a ferro e fogo.
Não num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Entre nós, tudo que é sólido desmancha no ar.
O desânimo dos muitos, dia após dia, foi corroendo as bases do regime.
Até que um milicão mal humorado, que se fingia de presidente, deu fim à pantomima: devolveu a chave do palácio aos paisanos e foi para uma cavalariça, mandando que o esquecessem.
De todas as ordens que ele deu, foi a única que quisemos cumprir.
Só que o ânimo, até hoje, não voltou para ficar.
Já dera as caras com as diretas-já, sendo logo espantado por um conchavo podre de elites.
Reapareceu, de leve, na Nova República... mas as tibiezas e lambanças o fizeram minguar.
Derrubou Collor, só que restaram os colloridos e até o próprio acabou voltando, sob as bençãos de quem o havia esconjurado.
Chegou ao Planalto de macacão suado e saiu quando o traje mudou para terno perfumado.
E, enquanto o ânimo hiberna, o País respira o ar rarefeito do mal menor.
Já estão dados os meios para se fazer todos felizes, mas a felicidade dos muitos é pouca, e dos poucos é muita.
Enfim, com aves de mau agouro e demônios seria pior, dizem.
E, também dizem, é melhor conservarmos o pouco do que corrermos o risco de querer muito e ficar sem nada.
Então, a cada quatro anos, mudam-se (ou não) as caras, mas o corpo continua o mesmo.
E como esse corpo é o de sempre, não inspira mais tesão. Tipo aqueles casamentos que viram rotina, mas os cônjuges estão acomodados demais para sair da relação.
Então, lembrando a metáfora do Henfil no final da ditadura, precisamos, primeiramente, recuperar o tesão de querer o muito.
E, aos poucos, fazermos os muitos perceberem que podem ter muito, não precisando se resignar -- até agradecidos, coitados! -- com tão pouco.
Os versos de "Roda Viva", do Chico Buarque, são de quatro décadas atrás -- e nos inspiram reflexões ainda mais melancólicas hoje.
Naquele tempo, quem carregava nosso destino pra lá, impedindo-nos de ter voz ativa, era a ditadura.
Nós, que íamos contra a corrente até não podermos resistir, tínhamos, pelo menos, a esperança de que tudo mudaria adiante.
Mesmo que alguns militares da linha dura, a exemplo de seus inspiradores alemães, sonhassem com um reich de mil anos, sabíamos que um projeto desses jamais vingaria entre nós.
Estávamos certos... e errados.
A ditadura reagiu ferozmente contra os poucos que tinham ânimo para confrontá-la de peito aberto, mas os que não acompanharam esses poucos também não gostavam de levar a vida a ferro e fogo.
Não num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Entre nós, tudo que é sólido desmancha no ar.
O desânimo dos muitos, dia após dia, foi corroendo as bases do regime.
Até que um milicão mal humorado, que se fingia de presidente, deu fim à pantomima: devolveu a chave do palácio aos paisanos e foi para uma cavalariça, mandando que o esquecessem.
De todas as ordens que ele deu, foi a única que quisemos cumprir.
Só que o ânimo, até hoje, não voltou para ficar.
Já dera as caras com as diretas-já, sendo logo espantado por um conchavo podre de elites.
Reapareceu, de leve, na Nova República... mas as tibiezas e lambanças o fizeram minguar.
Derrubou Collor, só que restaram os colloridos e até o próprio acabou voltando, sob as bençãos de quem o havia esconjurado.
Chegou ao Planalto de macacão suado e saiu quando o traje mudou para terno perfumado.
E, enquanto o ânimo hiberna, o País respira o ar rarefeito do mal menor.
Já estão dados os meios para se fazer todos felizes, mas a felicidade dos muitos é pouca, e dos poucos é muita.
Enfim, com aves de mau agouro e demônios seria pior, dizem.
E, também dizem, é melhor conservarmos o pouco do que corrermos o risco de querer muito e ficar sem nada.
Então, a cada quatro anos, mudam-se (ou não) as caras, mas o corpo continua o mesmo.
E como esse corpo é o de sempre, não inspira mais tesão. Tipo aqueles casamentos que viram rotina, mas os cônjuges estão acomodados demais para sair da relação.
Então, lembrando a metáfora do Henfil no final da ditadura, precisamos, primeiramente, recuperar o tesão de querer o muito.
E, aos poucos, fazermos os muitos perceberem que podem ter muito, não precisando se resignar -- até agradecidos, coitados! -- com tão pouco.
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