Três notícias da semana sobre o premiê italiano Silvio Berlusconi, que estará chegando ao Brasil ainda neste mês de fevereiro:
- em visita oficial a Israel, qualificou de "injusto" o Relatório Goldstone, já aprovado pela ONU, segundo o qual o estado judeu "cometeu crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade", no início do ano passado, quando de seus ataques devastadores na faixa de Gaza. Para Berlusconi, Israel tinha "direito de se defender dos foguetes lançados contra seu país";
- também somou sua voz à dos que pregam uma intervenção estrangeira no Irã, além de cometer o exagero de comparar Ahmadinejad a Hitler ("O problema de segurança é fundamental para Israel. Agora ainda mais, porque há um Estado que prepara uma bomba atômica para usá-la contra alguém. Um Estado com um líder que nos recorda personagens nefastos do passado");
- enquanto isto, na Itália, sua bancada na Câmara dos Deputados conseguiu fazer aprovar um projeto de lei que, caso obtenha a anuência também do Senado, lhe permitirá driblar eternamente a Justiça, pois bastará alegar compromissos oficiais para não ser obrigado a atender as convocações judiciais.
Berlusconi, que já escapou pela tangente de ser punido pela cobertura política que dava à Máfia siciliana nos anos 90, aspira à impunidade sem inocência também nos processos de fraude fiscal e suborno dos quais é reu.
Abusando vergonhosamente de sua condição de primeiro-ministro, tenta escapar da Justiça mudando as regras do jogo, ao impulsionar a introdução de leis que o beneficiam.
Caso do projeto para que seja reduzido o prazo de prescrição de processos judiciais cujas penas totalizem menos de dez anos, à espera de votação na Câmara. Se transformado em lei, por coincidência, fará com que os processos contra Berlusconi prescrevam imediatamente.
A primeira tentativa que o Executivo e o Legislativo italianos fizeram para atar as mãos do Judiciário foi a promulgação de uma lei conferindo imunidade penal aos ocupantes dos quatro cargos mais altos da administração pública do país.
Isto mantinha Berlusconi a salvo dos processos judiciais até 2013, quando findará seu patético mandato. Mas, o Tribunal Constitucional, instância suprema do Judiciário do país, varreu essa imundície -- que, entretanto, também estão tentando retirar da lixeira...
P.S.: antecipando-me às críticas de quem se posiciona politicamente com o primarismo das torcidas organizadas de futebol, esclareço que, em nome do direito de autodeterminação dos povos, repudiarei qualquer invasão do Irã, assim como minha oposição intransigente à pena de morte me leva a repudiar as execuções em curso no Irã. Eu sempre defendo princípios, não governos.
2 comentários:
Pois é, enquanto isso um dos maiores debates políticos que se trava na Itália é sobre a extradição de Cesare Battisti - e não por coincidência, além da degradação total da democracia parlamentar italiana, tanto à direita quanto à esquerda, ainda por cima estão usando a liberdade de seres humanos como cortina de fumaça para toda a patifaria; como se bastasse tudo isso, essa conjuntura se casou com a degeneração severa aguda pela qual passa nosso STF, o que traz à tona o fantasma da opressão estatal, um agente quase sempre velado.
A proposito do caso Cesare Battisti, o Mino Carta deve estar se remoendo. Explico: ele sempre alegou que a Itália não era o caos jurídico igual ao Brasil, que não havia de leis de exceção, quando foi comprovado exatamente o contrário. E agora com Berlusconi, ao que se deve essas extrepolias legais? Não vou jurar de pés juntos a inocência de Battisti, mas os fatos são todos muito nebulosos para que se extradite um "cabra marcado para morrer" nas prisões italianas.
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