Na época natalina não vale a pena ficar produzindo muitos artigos para distribuição ampla, pois os espíritos estão desmobilizados, todo mundo curtindo outra.
Então, posso eu também curtir outra, dando uma de blogueiro propriamente dito. Ou seja, escrevendo mais ao estilo de uma conversa com os leitores e até me permitindo desabafos.
Chamou-me a atenção o artigo A contrarrevolução jurídica, de Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Primeiramente, pela tese correta:
Então, posso eu também curtir outra, dando uma de blogueiro propriamente dito. Ou seja, escrevendo mais ao estilo de uma conversa com os leitores e até me permitindo desabafos.
Chamou-me a atenção o artigo A contrarrevolução jurídica, de Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Primeiramente, pela tese correta:
"Está em curso uma contrarrevolução jurídica em vários países latino-americanos (...) que consiste em neutralizar, por via judicial, muito dos avanços democráticos que foram conquistados ao longo das duas últimas décadas pela via política, quase sempre a partir de novas Constituições".Dentre as frentes dessa batalha, Boaventura cita:
- a reação dos setores oligárquicos à ratificação do território indígena da Raposa/Serra do Sol e à certificação dos territórios remanescentes de quilombos, mediante ações cautelares para dificultar a ratificação de novas reservas e o pedido de súmula vinculante relativo aos "aldeamentos extintos", bem como uma ação proposta no STF para restringir drasticamente o conceito de quilombo;
- a criminalização do MST, que pode chegar até à tentativa de dissolvê-lo sob pretexto de tratar-se de uma "organização terrorista"; e
- a anistia dos torturadores na ditadura, que, se confirmada pelo STF, terá o efeito de "trivializar a tortura e execuções extrajudiciais que continuam a ser exercidas contra as populações pobres e também a atingir advogados populares e de movimentos sociais".
Acertou nas três, mas vacilou feio ao omitir a quarta frente dessa batalha, o Caso Battisti, que nada mais é do que a criminalização dos atos praticados pelos opositores da democracia com pontos cinzentos de alguns países europeus nos anos de chumbo, como primeiro passo para se criminalizarem os atos praticados pelos resistentes que lutaram contra as ditaduras latinoamericanas.
Aliás, eu cantei esta bola da contrarrevolução jurídica no final de fevereiro - há exatos dez meses! E fui olimpicamente ignorado em muitos espaços de esquerda que agora destacam o texto do Boaventura.
Eis o que eu disse, depois de relembrar a trajetória de Gilmar Mendes até que se tornasse o mais desastroso presidente da história do Supremo:
Aliás, eu cantei esta bola da contrarrevolução jurídica no final de fevereiro - há exatos dez meses! E fui olimpicamente ignorado em muitos espaços de esquerda que agora destacam o texto do Boaventura.
Eis o que eu disse, depois de relembrar a trajetória de Gilmar Mendes até que se tornasse o mais desastroso presidente da história do Supremo:
"Catapultado a novo ídolo da direita, Mendes não parou mais de deitar falação reacionária.Depois, no início de novembro, ampliei essa análise, destacando "a intenção da direita de fortalecer o STF, em detrimento dos dois outros Poderes". E escrevi:
"Mendes almeja uma condenação em bloco da luta armada, seja contra democraduras como a da Itália na década de 1970, seja contra as ditaduras nada brandas da América do Sul.
"Last but not least, Mendes acaba também de engrossar a grita direitista contra uma alegada omissão do Governo Lula face a excessos do Movimento dos Sem-Terra.
"Cada vez mais se projeta como um dos líderes informais da oposição ao governo federal, imiscuindo-se em assuntos caracteristicamente políticos e trombeteando opiniões que melhor faria guardando para si."
"Depois do fracasso de sua tentativa de afastar Lula com um impeachment e do novo fracasso quando tentou impedir sua reeleição, a direita desistiu de bater de frente com um presidente cuja popularidade se mantém nos píncaros.
"Passou a comer pelas beiradas: apóia a cruzada do arquirreacionário presidente do STF, no sentido de ampliar cada vez mais a esfera de competência do Supremo, usurpando prerrogativas do Executivo (principalmente) e do Legislativo.
"A hipertrofia do STF tem de ser detida e revertida, o quanto antes!
"Esta, sim, é uma bandeira de espectro amplo:
- "deve ser assumida pela esquerda, para frustrar a escalada reacionária em curso e que provavelmente será intensificada no ano eleitoral, com a criminalização dos movimentos sociais por parte de Mendes e do STF servindo como trunfo propagandístico na campanha; e
- "deve ser assumida pelos verdadeiros democratas que, depois de tanto lutarem e sofrerem para que fosse restabelecido o estado de Direito no Brasil, não devem cruzar os braços face à ameaça de um autoritarismo togado."
Por que meus alertas, cuja pertinência cada vez mais se evidencia, repercutiram tão pouco?
Não acredito que seja ainda em função das falsas acusações que me lançavam sobre eventos de 1970. Já provei cabalmente que a principal delas era falsa e as outras, exageradíssimas.
Fui o bode expiatório sobre quem muitos descarregaram as próprias culpas, acreditando que sairiam bonitos na foto da História. Esqueceram que a verdade sempre acaba aflorando e não contavam com a criação de algo como a internet, fatal para os que guardam esqueletos no armário...
E quem realmente continua interessado nisso, quase quatro décadas depois? Só a extrema direita, à falta de trunfos melhores para reagir às acusações que lhe faço nos meus artigos.
Mais sérias são as restrições a quem encarna os ideais de 1968 e até hoje os defende, como Battisti e eu. Infelizmente, há pessoas ditas de esquerda que preferem ignorar alguns textos oportunos que eu produzo apenas para não levantar a minha bola.
Ou seja, o que escrevo pode até cair como uma luva para as lutas do momento, mas prevalece o critério de não convir que o prestígio de um neoanarquista como eu cresça mais do que já cresceu nos dois últimos anos.
Não sou boicotado apenas pelos macartistas da grande imprensa. Também estou em algumas listas negras da esquerda, embora ninguém mais assuma isso de público. Pega mal.
Finalmente, há o fato de que não sou autoridade acadêmica nos temas que abordo. Esta rendição inconsciente aos valores do stablishment era quase total antes de 1968, foi pulverizada pela geração das flores e das barricadas, mas voltou com tudo no refluxo revolucionário das últimas décadas.
Não importa quantas vezes eu acerte na mosca, apontando e dissecando tendências em seu nascedouro, até para facilitar o esmagamento dos ovos das serpentes.
Sou apenas um autodidata que me graduei em jornalismo e nada mais quis cursar, por não ver proveito nem necessidade. Em 1968 tal atitude era in. Agora é out. Azar meu.
Como bom malandro, não chio.
Agradeci aos céus quando o Carlos Lungarzo me procurou, com seu currículo de professor ilustre e de membro histórico da Anistia Internacional. Distribuí seus primeiros artigos e os avalizei publicamente, abrindo-lhe todas as portas.
Porque sabia que, mesmo quando afirmasse as mesmíssimas coisas que eu, ele seria muito mais aceito do que eu. Os idiotas da objetividade, como os qualificava Nelson Rodrigues, se curvariam à sua autoridade certificada. E, para mim, o que conta é conseguirmos que o Caso Battisti tenha o desfecho justo, não melindres de adolescente.
Aliás, foi a melhor dessas apostas que fiz até hoje. Já ajudei a projetar muitos companheiros de ideais e colegas do jornalismo. Nenhum se mostrou tão valioso para as causas justas quanto o Lungarzo.
É claro que, como ser humano, não deixo de ficar um pouco decepcionado com a sequência de advertências que lancei e caíram no vazio. Erros e perdas poderiam ter sido evitados.
Mas, trata-se de um destino recorrente para os que veem um pouco mais longe.
Se os contemporâneos de Kafka houvessem assimilado O Processo (1925) como uma antevisão dos horrores que o nazismo começava a engendrar, quanta barbárie teria sido evitada!
E se os contemporâneos de Trotsky não houvessem ignorado a cruzada que ele lançou logo na década de 1920 contra o desvirtuamento da revolução soviética, os horrores do stalinismo também poderiam ter sido evitados, bem como suas sequelas (a falência do socialismo real, a queda do muro de Berlim, etc.).
Perto disso, minhas frustrações são nada.
Não acredito que seja ainda em função das falsas acusações que me lançavam sobre eventos de 1970. Já provei cabalmente que a principal delas era falsa e as outras, exageradíssimas.
Fui o bode expiatório sobre quem muitos descarregaram as próprias culpas, acreditando que sairiam bonitos na foto da História. Esqueceram que a verdade sempre acaba aflorando e não contavam com a criação de algo como a internet, fatal para os que guardam esqueletos no armário...
E quem realmente continua interessado nisso, quase quatro décadas depois? Só a extrema direita, à falta de trunfos melhores para reagir às acusações que lhe faço nos meus artigos.
Mais sérias são as restrições a quem encarna os ideais de 1968 e até hoje os defende, como Battisti e eu. Infelizmente, há pessoas ditas de esquerda que preferem ignorar alguns textos oportunos que eu produzo apenas para não levantar a minha bola.
Ou seja, o que escrevo pode até cair como uma luva para as lutas do momento, mas prevalece o critério de não convir que o prestígio de um neoanarquista como eu cresça mais do que já cresceu nos dois últimos anos.
Não sou boicotado apenas pelos macartistas da grande imprensa. Também estou em algumas listas negras da esquerda, embora ninguém mais assuma isso de público. Pega mal.
Finalmente, há o fato de que não sou autoridade acadêmica nos temas que abordo. Esta rendição inconsciente aos valores do stablishment era quase total antes de 1968, foi pulverizada pela geração das flores e das barricadas, mas voltou com tudo no refluxo revolucionário das últimas décadas.
Não importa quantas vezes eu acerte na mosca, apontando e dissecando tendências em seu nascedouro, até para facilitar o esmagamento dos ovos das serpentes.
Sou apenas um autodidata que me graduei em jornalismo e nada mais quis cursar, por não ver proveito nem necessidade. Em 1968 tal atitude era in. Agora é out. Azar meu.
Como bom malandro, não chio.
Agradeci aos céus quando o Carlos Lungarzo me procurou, com seu currículo de professor ilustre e de membro histórico da Anistia Internacional. Distribuí seus primeiros artigos e os avalizei publicamente, abrindo-lhe todas as portas.
Porque sabia que, mesmo quando afirmasse as mesmíssimas coisas que eu, ele seria muito mais aceito do que eu. Os idiotas da objetividade, como os qualificava Nelson Rodrigues, se curvariam à sua autoridade certificada. E, para mim, o que conta é conseguirmos que o Caso Battisti tenha o desfecho justo, não melindres de adolescente.
Aliás, foi a melhor dessas apostas que fiz até hoje. Já ajudei a projetar muitos companheiros de ideais e colegas do jornalismo. Nenhum se mostrou tão valioso para as causas justas quanto o Lungarzo.
É claro que, como ser humano, não deixo de ficar um pouco decepcionado com a sequência de advertências que lancei e caíram no vazio. Erros e perdas poderiam ter sido evitados.
Mas, trata-se de um destino recorrente para os que veem um pouco mais longe.
Se os contemporâneos de Kafka houvessem assimilado O Processo (1925) como uma antevisão dos horrores que o nazismo começava a engendrar, quanta barbárie teria sido evitada!
E se os contemporâneos de Trotsky não houvessem ignorado a cruzada que ele lançou logo na década de 1920 contra o desvirtuamento da revolução soviética, os horrores do stalinismo também poderiam ter sido evitados, bem como suas sequelas (a falência do socialismo real, a queda do muro de Berlim, etc.).
Perto disso, minhas frustrações são nada.
2 comentários:
Blogar é uma atividade solitária,,,
Umaa dica: que tal vc configurar a caixa de comentários deste blog para aparecer abaixo do texto, isto facilita comentar, não precismos estar voltando ao texto para relermos o que foi escrito. Melhor ainda sem aquelas letras para eliminar SPAM, claro,,,se os SPAM incomodam o tal filtro tem que voltar
Não concordo que vc seja ignorado não, volta e meio vejo seus textos sendo linkados em blogs de esquerda, bem como vc sendo citado,,, talvez algumas rusgas em decorrência da sua independencia enquanto neoanarquista,,, mas isso é o de menos,,no final estamos sempre juntos...afetividades são sentidas embora nem sempre percebidas...
Segue uma nota interessente sobre o caso Battisti:
Por Gilson
O Lula elevando o tom, com o STF
‘Decisão sobre Battisti é minha’, diz Lula
BEATRIZ ABREU E VERA ROSA – Agencia Estado Tamanho do texto? A A A A
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar se irá ou não extraditar o ex-ativista italiano Cesare Battisti, mas reagiu com firmeza aos questionamentos sobre como analisava a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). “Não me importo com o que disse o STF. Ele teve a chance de fazer e fez. Eu não dei palpite”, afirmou. “A decisão é minha. Tomo a decisão que for melhor para o País. Até lá não tenho o que comentar.”
Na semana passada, a Corte retificou a proclamação do resultado do julgamento de Battisti para explicitar que o tribunal autorizou a extradição, e que o presidente Lula pode ou não entregá-lo ao governo italiano. A retificação foi motivada por um questionamento da Itália e, por entendimento da maioria dos ministros, Lula não teria o poder discricionário para se recusar ou não a extraditar Battisti – decisão deve estar respaldada pelo tratado firmado entre Brasil e Itália.
O tratado relaciona algumas exceções que impedem a extradição, entre elas o fato de Battisti responder a um processo em que é acusado de falsificar documentos. Lula comentou ainda que a decisão do Supremo não foi encaminhada ao Planalto. “Preciso analisar os autos. Só me pronuncio nos autos”, afirmou o presidente, ao se referir à expressão comum entre juízes quando abordados sobre decisões.
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/12/21/lula-no-caso-battisti/
O fato de você se colocar como anarquista já faz com que a direita a esquerda te ignorem. Tanto uma como a outra querem o poder e se você é contra o poder... ganhou inimigos de ambos os lados.
A história da "esquerda" sempre foi reducionista e ignorou qualquer movimento contra o poder, tanto a ditada pelos vencedores da direita, quanto pelos autoritários da esquerda.
Ser anarquista é caminhar sozinho, irremediavelmente.
Continue. Admiro tua luta.
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