terça-feira, 6 de outubro de 2009

FARISAÍSMO - II

Francesco Scavolini, especialista em direito canônico, recebe espaço opinativo na Folha de S. Paulo para criticar a ascensão de José Antonio Toffoli ao Supremo Tribunal Federal a partir de uma argumentação simplesmente risível, de tão preconceituosa:
"Numa recente entrevista (...), o então advogado-geral da União defendeu a descriminalização do aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

"Estamos vivendo numa época em que a sociedade está muito preocupada com a violência que atormenta a convivência social e atinge especialmente as crianças e os adolescentes. Como poderemos resolver esse gravíssimo problema se formos institucionalizar comportamentos que aumentarão a violência e a fragmentação social?"
Ele diz que a mulher, ao abortar, "está matando um ser humano inocente e indefeso"; e qualifica a união homossexual de "antinatural".

Nem vou discutir o aborto em si, pois seria blablablá ocioso. O xis da questão é que, hoje em dia, simplesmente não há como impedir-se as mulheres de abortarem, quando tomam tal decisão.

Então, o que está em jogo é se as mulheres pobres poderão abortar com alguma segurança. Pois, para as ricas, isto nunca foi problema.

Quanto ao casamento gay, trata-se apenas da institucionalização de uma união que já existe, para melhor proteger os direitos envolvidos. Que mal há nisto?

Sobre o que é ou deixa de ser natural, já faz um tempinho que os povos civilizados chegaram a um consenso: não cabe ao Estado determinar o que adultos podem fazer entre quatro paredes, desde que haja consentimento mútuo.

E qualquer pessoa esclarecida percebe que tais medidas em nada contribuiriam para aumentar "a violência e a fragmentação social". É o tipo do papo engana-trouxa.

Um artigo ridículo como esse caberia melhor num panfletinho da TFP do que nas páginas do autodenominado maior jornal do País.

3 comentários:

Naty disse...

Como dizia Che Guevara "no dia que o extraordinário se tornar cotidiano, aí sim será revolução"...é uma das minhas frases favoritas.

Abração

Anônimo disse...

Gostaria de saber da posição dos evangélicos e católicos conservadores, sobre a entrevista com Sheila Ribeiro. Trata-se de depoimento de uma ex-aluna de Monica Serra na UNICAMP, onde a professora falou do aborto que fizera em 1992. O casal não desmentiu o fato, apenas uma nota da campanha negou o ocorrido O assunto está circulando na Internet e foi publicado na Folha. O que me dizem?

celsolungaretti disse...

Companheiro,

quanto à minha posição, está no artigo A MORAL DELES E A NOSSA (17/10/2010): sou totalmente contrário à invasão da privacidade das pessoas durante uma campanha política.

Dar quilometragem a algo tão íntimo é se igualar moralmente a Fernando Collor.

Temos de ser melhores do que Serra, não travar guerra de lama com ele.

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