No início da década passada, trabalhando na Agência Estado, eu era escalado semana sim, semana não, para o plantão dominical.
Naquele tempo em que inexistia TV por assinatura e não se permitia que a televisão transmitisse o jogo para a mesma praça em que era disputado, a única forma de acompanharmos a partida de futebol da própria capital paulista era a transmissão radiofônica.
Os clientes da agência pressionavam: queriam receber o quanto antes a notícia sobre o clássico de domingo, para fecharem suas edições de 2ª feira.
Então, não dava para esperarmos que os repórteres de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde voltassem do estádio e redigissem suas matérias.
O jeito era colarmos o ouvido no rádio e criarmos um texto a partir do que conseguíamos depreender do blablablá de locutores e comentaristas.
É claro que, vez por outra, caíamos feio do cavalo, escrevendo algo bem distante do que realmente havia acontecido.
E ficávamos amaldiçoando as gambiarras que éramos obrigados a executar, ao invés de exercermos nossa função de jornalistas como manda o figurino.
Isto me veio à lembrança ao ler a matéria da Folha de S. Paulo de domingo sobre a luta de boxe cujo resultado foi anunciado no início da madrugada.
Evidentemente, deve ter sido o último texto a entrar naquela edição. E o redator, claro, o escreveu assistindo à luta pela TV.
Devido ao apuro de tempo, ele deve ter preparado previamente alguns parágrafos que poderiam ser utilizados, como este:
"Com o resultado de ontem, 'Big' George Foreman, deixou de ser o mais velho campeão dos pesos-pesados de todos os tempos. Aos 45 anos, nocauteara o compatriota americano Michael Moorer para se tornar campeão da FIB e da AMB".
Só serviria, claro, no caso de Evander Holyfield ser o vencedor, arrancando tal primazia de Foreman. Não foi o que ocorreu.
Mas, na correria de fechamento, o coitado do repórter acabou colando-o por engano, o que tornou sua matéria um verdadeiro samba do crioulo doido.
É o padrão Folha de qualidade, versão 2008...
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