Quando os discípulos do reacionário Ali Kamel acreditaram que o brilho de suas assinaturas seria suficiente para barrar as ações afirmativas em benefício dos negros, lancei o artigo As Cotas Raciais e os 113 Tolos Pomposos ( http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/search/label/cotas%20raciais ), no qual os aconselhei a baixarem a bola, adotando uma postura menos beligerante:
"...para os seres humanos justos e solidários, pouco importa se os negros estão em desvantagem por causa da escravidão passada ou por encontrarem-se hoje sob o fogo cruzado do capitalismo e de um racismo dissimulado, mas não menos real. Merecem, sim, que os pratos da balança sejam reequilibrados em seu favor.
"Quanto à eficácia das políticas compensatórias, ela só poderá ser realmente aferida depois de um período razoável de implementação. Por que, afinal, abortarmos essa tentativa no nascedouro?"
Também destaquei o fato de que os 113 tolos pomposos trombeteavam um problema menor e esqueciam o pior de todos, incidindo naquele velho erro de fixarem-se numa única árvore (no caso, as cotas raciais) e ignorarem a floresta inteira (a mercantilização do ensino) por trás dela:
"...em meio às terríveis distorções que o ensino superior vem sofrendo em função de seu atrelamento aos interesses capitalistas – começando por sua ênfase na especialização castradora que forja meros profissionais, desprezando a formação crítica e universalizante que engendra verdadeiros cidadãos –, eles magnificaram um problema menor, em detrimento, exatamente, 'dos desafios imensos' que dizem existir".
Foram observações decorrentes apenas da visão geral que eu tenho da sociedade e das injustiças que o homem comete contra o homem. Não sou particularmente interessado nesse assunto nem nunca me dediquei a esmiuçá-lo em profundidade. Longe de mim a empáfia de me pretender experto na totalidade dos temas em destaque no noticiário.
Mas, a julgar pelo que Élio Gaspari escreveu na sua coluna de hoje (24/11), parece que andei certo (ou erramos os dois, avaliem e decidam vocês mesmos):
"No dia da Consciência Negra, as bancadas do governo e da oposição na Câmara dos Deputados aprovaram o projeto de lei que estabelece cotas sociais e raciais (...) para o preenchimento de vagas nas universidades públicas federais. O projeto foi mandado ao Senado.
"...Nada melhor do que o encaminhamento dessa questão na rotina das instituições republicanas. Quando a Casa Grande falava sozinha e a Senzala não votava, o Brasil tornou-se o último país livre das Américas a abolir a escravatura.
"As políticas de ação afirmativa foram condenadas porque acordariam o gênio do racismo. Não acordaram. (...) As cotas criariam constrangimentos, levando alunos negros mal preparados para os cursos universitários. Não criaram.
"...Entre 2001 e 2008, 52 mil vagas foram oferecidas em 48 escolas que adotaram políticas de ações afirmativas em benefício de alunos da rede pública, negros e índios. Passaram-se sete anos e até hoje não apareceu um só episódio ou estudo relevante capaz de desqualificar essas políticas."
O certo é que continuarei me guiando pelos meus princípios, amadurecidos em mais de quatro décadas de luta pela liberdade e justiça social. O que disse naquele artigo de seis meses atrás, repito agora, com orgulho:
"Entre os partidários da competição insensível entre seres humanos movidos pela ganância e os cidadãos decentes que procuram minorar as mazelas do capitalismo, eu me alinharei sempre com estes últimos. Mas, sem ilusões: as injustiças só serão realmente erradicadas quando o bem comum prevalecer sobre os interesses individuais, numa nova forma de organização social."
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