Dá-me tédio ler os augúrios sinistros, inclusive do FMI, sobre o derretimento dos mercados nos próximos dias úteis. O que mais se poderia esperar? Está apenas acontecendo o previsível e o inevitável
Vêm-me à lembrança os versos de uma velha canção do Gilberto Gil: "quem sabe tudo, diz logo/ fica sem nada a dizer".
Já no comecinho de julho eu dizia que a turbulência nos mercados nada mais era do que a volta das velhas crises cíclicas do capitalismo que Marx tão bem dissecou.
Antes, os hiatos eram menores. Hoje, com a profusão de recursos à disposição do sistema, consegue-se retardar muito mais sua eclosão. Mas, não indefinidamente. E o que é represado, desencadeia-se com virulência redobrada.
O certo é que a desigualdade básica do capitalismo impede que os consumidores potenciais tenham recursos para adquirir todos os bens almejados.
Então, como um dos imperativos para o bom funcionamento do sistema é aumentar-se cada vez mais a produção de bens e a oferta de serviços, a solução foi oferecer-se aos cidadãos créditos e mais créditos, para comprarem imediatamente e pagarem nos meses ou anos seguintes.
Cidadãos, instituições e países passaram a conviver com uma contabilidade maluca, pois a tendência é ficarem sempre correndo atrás do que gastaram a mais. Saldam as dívidas antigas e vão contraindo novas, ainda mais impagáveis. Até que perdem o pé e afundam.
O pior é que a artificilidade dos descaminhos do dinheiros acaba comprometendo o real: a produção, distribuição e consumo dos bens de que os seres humanos carecem.
Quando desaba a economia de papel, a economia real entra em recessão, como entrará agora.
Sabe-se lá quantos anos passaremos apertando os cintos por causa da desordem inerente ao capitalismo e cujos culpados imediatos são os agentes financeiros.
E, depois que sofridamente sairmos da recessão, sabe-se lá quantos anos de trégua teremos, até que tudo aconteça de novo.
O certo é que não há guerras, catástrofes nem quaisquer empecilhos REAIS impondo a redução da produção e a penúria das pessoas. Os seres humanos pagam pela irracionalidade de um sistema econômico baseado na ganância e na competição.
E pagam, principalmente, por não terem se decidido a instaurar outro, baseado no bem comum e na cooperação.
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