sábado, 6 de setembro de 2008

VIDEOTAS UNIDOS DA AMÉRICA

A campanha eleitoral estadunidense merece mais espaço na imprensa brasileira do que, talvez, até nos Estados Unidos. Uma vez colonizado, sempre colonizado...

Afora a ingenuidade em supor-se que algo vá mudar substancialmente para nós se eleito Obama ou McCain, nota-se aquele fascínio embasbacado dos bugres pelo país por eles adotado como modelo do que querem ser quando crescerem.

Mas, é um péssimo exemplo, começando por esse ridículo sobe-e-desce dos candidatos presidenciais na pesquisa de opinião, atestando o que os (poucos) bem pensantes estão carecas de saber: tirando Nova York, San Francisco e alguns outros oásis de vida inteligente, os EUA são uma jequeira só.

É o país dos videotas, capazes de acreditar em qualquer bobagem que apareça na maldita telinha (que agora está virando telona, para melhor mesmerizar os bobos). Mudam de opinião umas 50 vezes por mês, a partir do impacto dos eventos de campanha e das espertezas dos Dudas Mendonças de lá.

Então, neste sábado resolvi dar uma dica de literatura: o sarcástico O Videota, do escritor polonês Jerzy Kosinski, que mostra como é patético um cidadão com a cabeça feita pela TV; e como é patética uma sociedade que já não distingue idiotas de sábios.

Em tempo: não pensem que o livro foi fielmente transposto por Hal Ashby para o cinema. Nem remotamente. Muito Além do Jardim segue a norma de Hollywood de, ao adaptá-las para o cinema, atenuar as críticas mais corrosivas que certas obras literárias fazem ao american way of life.

É o retrato sem retoques de uma sociedade em que a máquina de fazer doidos transforma a todos em cérebros de galinha, para que nada mude nunca. Exatamente o que boa parte de nossa grande imprensa almeja para o Brasil.

3 comentários:

Unknown disse...

Tenho 23 anos e nao tem como negar que a televisao foi e é presença marcante na vida de pessoas com mesma faixa etária que a minha.
Lendo seu artigo, reflito, Quão videiota serei? quais sao ideias e sentimentos verdadeiramentes meu?.
Pode parecer confuso, mas são reflexoes sempre bem vindas ne.
Parabens pelo Blog
.dePasarga.

Anônimo disse...

Sua premissa inicial (de que as eleições americanas recebem mais espaço aqui do que lá) não poderia, nunca, ser verdadeira. Só o diz quem talvez não tenha passado um minuto assistindo à FOX ou à CNN, e se não o fez, não o afirme.
A segunda afirmação (de que nada substancialmente muda se eleito um candidato ou outro) é também falaciosa. Muda claramente pelo fato de que, goste ou não goste o autor, a economia mundial funciona em alto grau de interdependência. Os EUA são um parceiro econômico importante e um grande comprador do que se produz aqui. Uma recessão lá ecoará, cedo ou tarde, aqui. Isso sem falar nos incentivos e vícios advindos do uso do petróleo que afetam o meio ambiente. Meio ambiente este que, creio, seja o mesmo que o nosso.
A terceira ressalva talvez seja o hábito, quase sempre proposital, de confundir o meio com a mensagem e atribuir à tela (de qualquer dimensão) a estupidez de seu conteúdo. Quem produz conteúdo para TV dignamente se ofenderá com razão.

celsolungaretti disse...

DePasargada,

se você está refletindo sobre isso, é porque não pretende ser teleguiado. Bom sinal.

Recomendo-lhe a leitura de "A Ideologia da Sociedade Industrial", do Herbert Marcuse. Mostra bem como os meios de comunicação de massa atuam, minando a capacidade crítica nos cidadãos.

Fernando, fiz uma ironia sobre o espaço descomunal que a mídia brasileira concede às chatíssimas eleições dos EUA, só isso.

Haveria uma longa discussão a travarmos sobre a autonomia dos presidentes. Mas, com certeza, em assuntos secundários (como o Brasil), prevalece mesmo é a orientação do stablishment. Presidente, quanto muito, decide o que para eles é sério.

Quem produz conteúdo sério para TV tem audiência irrisória. Ontem mesmo, na espera de um pronto-socorro, fiquei assistindo ao Faustão. Máquina de fazer doido é uma qualificação caridosa para quem coloca AQUILO no ar...

Um abração a ambos!

Related Posts with Thumbnails