quinta-feira, 21 de junho de 2018

A DISTOPIA MUNDIAL E A VOLTA DAS PRÁTICAS NAZIFASCISTAS – 2

(continuação deste post)
Gueto de Varsóvia, 1943: modelo para Trump?
AFUNDANDO NUM OCEANO DE INIQUIDADES – Diante da distopia atual o capitalismo tira a sua máscara de respeito aos direitos humanos pelo chamado Estado democrático de direito. Tal como na Alemanha nazista, utiliza-se agora a própria lei e os argumentos de defesa da economia nacional como argumentos falaciosos para a repulsa aos não nacionais, como se fossem seres humanos diferentes dos demais.

Não são poucos os exemplos que podem ser citados, tudo praticado democraticamente por governantes eleitos em eleições nas quais vontade popular é manipulada pela via de um discurso xenófobo segundo o qual nós não podemos pagar pelos erros dos outros e precisamos de quem defenda os nossos interesses

Não se compreende que o mundo economicamente globalizado é uma grande nau que faz água por muitos dos seus lados e que nos levará a todos para o fundo de um mesmo oceano de iniquidades.

Não se compreende que, sob o capitalismo, a vitória de uns poucos implica a derrota da maioria; e que, diferentemente desse nefasto contrato social, deveríamos viver sob a égide de um modo de mediação social diferenciado, no qual sejam a solidariedade humana e a apropriação da capacidade da natureza de prover a subsistência global nas suas variações climáticas e territoriais, os pontos fundamentais da nossa existência social.
Cena que se torna corriqueira: refugiados lançando-se ao mar

Ao contrário disso, o que se observa mais recentemente é que:

— o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, adepto do discurso xenófobo nacionalista, teve a insensibilidade de negar acolhida a 629 pessoas, dentre elas mulheres grávidas, crianças e velhos, que, em desespero, se lançaram ao mar;  

— o presidente dos Estados Unidos, maior país capitalista do mundo e que costuma ditar regras morais e éticas para as demais nações (como se o capitalismo fosse um modo de produção capaz de promover minimamente prosperidade geral e equilíbrio social!), é o primeiro a barrar os empobrecidos do planeta que tentam chegar à grande ilha de acumulação de riqueza capitalista. 

Que mundo é esse, que não nos cabe a todos?

Comparo a prisão de pessoas que imigram em desespero de sobrevivência e sua separação dos filhos, sob Trump, ao que fazia a Alemanha nazista: mandava as crianças judias para campos de concentração!    

Como se explicar a diáspora africana, americana central, asiática, árabe, e até mesmo dentro do continente europeu, sem que se coloque a culpa disso tudo num sistema que encontrou o seu limite interno absoluto de coexistência social graças à disfunção entre forma e conteúdo?
A lógica do capitalismo impõe a restrição dos direitos previdenciários 

Como aceitar que pessoas idosas sejam privadas de seu sustento após anos de trabalho em razão do déficit da previdência social, que ocorre até mesmo nos países economicamente desenvolvidos como a França (vale lembrar que o próximo presidente do Brasil e o parlamento a ser eleito em outubro herdarão a incumbência, imposta pela lógica capitalista, de restringirem direitos previdenciários)?

A concentração de valor (dinheiro e mercadorias) no organismo social capitalista sem capacidade de auto-reprodução está condenando ditos capitais a virarem pó; diante dessa iminência, os Estados cada vez mais recorrem à força militar para manutenção da ordem sistêmica capitalista decrépita e, assim, cada vez mais opressora (sob os auspícios da lei!).   

Entretanto, como tal problema de natureza econômica não se resolve pela força bruta, corremos o risco de assistirmos nas próximas décadas a lutas fratricidas, a guerras civis entre os que querem manter os seus privilégios por trás de muros e armas e aqueles que buscam a sobrevivência a qualquer custo.

Por Dalton Rosado
Sem que atentemos para as questões subjacentes à miséria social mundial que se amplia, nós corremos o risco de entrarmos definitivamente na barbárie, que nunca foi e nem será a solução para os problemas que nós mesmos criamos. 

Barbárie corporificada na eleição de Donald Trump e na sua política anti-imigratória que encarcera crianças.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre morde a língua o açodado em vituperar o semelhante.
Pois não é que o FMI condicionou o empréstimo de 50 bilhões à Argentina a preservação e aumento da rede de segurança social! E seu incremento, caso necessário.
O "monstro" Trump voltou atrás graças às pressões da imprensa livre e das pessoas sensatas.
Fatos nunca observados nos líderes esquerdistas, que sempre se acham o último bastião da verdade.
Utopias, distopias e idealismos padecem do defeito básico de achar que são os outros os culpados dos seus próprios erros.

celsolungaretti disse...

Caro anônimo,

o Fundo Monetário Internacional funciona sempre como um organismo que fornece ajuda aos governos capitalistas em fase de déficit fiscal e depressão econômica, o que é coisa muito comum. O preço de tal “ajuda”, como tudo no capitalismo, costuma ser medidas de arrocho fiscal cujo objetivo é sempre preservar a integridade financeira do Estado em rota de falência, pois, afinal, é o Estado o guardião institucional de uma ordem social que cada vez mais é opressora.

O compromisso com a questão social é cláusula de disfarce da verdadeira função financeira internacional desse fundo.

Embora tardiamente, agora se esboçam entendimentos de que somente com a superação das categorias capitalistas (entre elas o sistema financeiro internacional), ora em fase de visível decomposição, entendimento que implica na verdadeira superação do capitalismo, poderemos formar um sentimento emancipacionista, digno de uma teoria e ação revolucionárias.

Obrigado pela intervenção, Dalton Rosado.

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