segunda-feira, 21 de maio de 2018

CIRO GOMES É O PRESIDENCIÁVEL MAIS HÁBIL, NA AVALIAÇÃO DE UM DOUTOR EM SOCIOLOGIA POR OXFORD. SERÁ MESMO?

Por Celso Lungaretti
Uma das propostas deste blog é disponibilizar textos inteligentes, que nos ajudem a compreender os episódios em curso, mesmo que não coincidam com a posição da equipe.

Nenhum de nós –eu, o Dalton, o David, o Apollo, o Rui Martins– aprecia o Ciro Gomes, nem quer vê-lo chegar ao Palácio do Planalto.

Mas, como editor, decidi reproduzir o artigo abaixo do Celso da Rocha Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, porque faz uma análise bem diferente das que circulam por aí. 

Como não considero realmente importante uma eleição presidencial (o poder que manda e desmanda no Brasil é o econômico), encaro a coisa mais como um exercício lúdico. Gosto de analisar o que os contendores fazem com os trunfos de que dispõem, pois isto me dá uma antevisão de como cada um agirá no caso de vitória.

E fiquei surpreso quando o Rocha Barros apontou o Ciro Gomes como o melhor enxadrista dentre os presidenciáveis; parecia-me, isto sim, um dos piores.

CIRO ESTÁ JOGANDO COMO PROFISSIONAL
Por Celso da Rocha Barros

Até o momento, nenhum candidato nas eleições presidenciais de 2018 jogou tão bem com as cartas que tinha na mão quanto Ciro Gomes. 

As cartas que recebeu da sorte eram, diga-se, bem ruins. Se Lula fosse candidato, Ciro entraria na disputa como nanico. Seu partido não é grande o suficiente para lhe oferecer muita coisa em termos de tempo de TV ou dinheiro do fundo partidário. 

E, no entanto, desde o início do ano, Ciro tem dado sorte e tem sabido aproveitá-la. 

Sua campanha começou, efetivamente, quando Lula foi preso. A maior parte do legado de Lula ainda está em disputa, mas Ciro conseguiu atrair lulistas suficientes para empatar tecnicamente com Alckmin no segundo pelotão, logo depois de Bolsonaro e Marina. 

Pouco depois, foi um dos beneficiados pela desistência de Joaquim Barbosa, um candidato de temperamento semelhante que também concorreria pela centro-esquerda. 

E Ciro fez duas jogadas que, se derem certo, podem lhe dar a presidência.

A primeira foi manter distância do discurso petista contra a Lava-Jato. Ciro não tem contra si acusações de corrupção. Em 2018, depois da Lava-Jato, é uma tremenda vantagem, talvez a única carta boa que Ciro tinha desde o início. 
Dos fora da Lava-Jato, Ciro seria o profissional...
Se Ciro comprar o discurso a Lava-Jato é uma mentira, estará abdicando dessa vantagem. Por que faria isso? Lula jamais faria, se estivesse na mesma situação.

Enquanto isso, Ciro espera que os apoios petistas venham naturalmente. Os governadores petistas vêm namorando o pedetista. A última coisa que desejam, no momento, é ir para o martírio em protesto contra a prisão do ex-presidente Lula. Precisam fazer alianças, precisam ter candidato a presidente, e Ciro parece uma alternativa razoável.

Essa aproximação também é importante por outro motivo: o discurso atual do PT é bastante radical, e muito incentivado pelos candidatos a deputado petistas. Os governadores não têm o menor interesse nisso, e, em suas administrações, têm feito ajustes fiscais significativos. Se a disputa entre parlamentares e governadores petistas se acirrar, Ciro pode sair ganhando.

Por outro lado, Ciro já declarou que não fará aliança com o PMDB. Nós aqui, eu, você, lemos isso como Opa, aqueles picaretas todos do Temer vão sair do governo!

Mas os picaretas do baixo clero (PP, Solidariedade, etc.) ouvem isso e pensam: Opa, aqueles cargos todos que estão com o PMDB podem vir pra gente!.
...destinado a prevalecer sobre os amadores.

Talvez Ciro não lhes deixe roubar, mas o Centrão se pergunta se não vale a pena testar isso. Também se pergunta a mesma coisa com relação a Bolsonaro.

O fato é que, ao contrário de Marina, Ciro tem disposição para negociar com os partidos políticos tradicionais brasileiros, que devem manter sua maioria no Congresso no ano que vem.

Tudo isso pode dar errado, e Ciro pode ficar pelo caminho. Se os governadores petistas ameaçarem romper com o PT, Lula vai ter que mudar sua estratégia. Alckmin e/ou Temer devem ter meios para pressionar o Centrão.

Mas persiste o fato: na turma da frente, só Bolsonaro, Marina e Ciro estão fora da Lava-Jato. E, entre esses, só Ciro Gomes está jogando como profissional. 

O que ainda não sabemos é o quanto isso vale em 2018, quando o ceticismo popular com relação ao próprio jogo é intenso. Duvido que não valha nada.

2 comentários:

Roberto Cabral Fernandes disse...

"Nenhum de nós aprecia o Ciro,
nem quer vê-lo chegar ao Planalto"

Isso já me bastá.

celsolungaretti disse...

Sei lá o que vc está querendo dizer, se explicar-se melhor, responderei melhor.

O fato é que estou tentando trazer para o blog textos perspicazes e inteligentes, mesmo que eles não expressem a minha posição e a da equipe.

Mas, há internautas tão habituados a ler, noutros lugares, textos que não passam de apologia e "wishful thinking", quis apenas deixar claro de que não estamos tentando impingir o Ciro para ninguém.

Para os leitores habituais, que conhecem a linha do blog e de cada membro da equipe, tal esclarecimento seria desnecessário.

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