Maduro só salvará seu governo revertendo este quadro... |
Infelizmente, o previsível começa a acontecer: pipocam na mídia global os textos sugerindo uma intervenção na Venezuela para dar um fim à tragédia humanitária em curso. Trata-se, evidentemente, de uma preparação psicológica para a opinião pública aceitar com mais facilidade uma operação que os donos do mundo já devem ter decidido lançar.
Sendo Maduro quem é, prevejo que priorizará a preparação de suas forças militares para resistirem à tentativa de deposição. E, com isto, vai bisar o erro que foi fatal para Dilma.
Assim que o processo de impeachment começou a engatinhar na Câmara Federal, ela virou samba de uma nota só: desistiu de governar e passava dia e noite obcecada em lutar contra ele. Seu governo se reduziu a uma prioridade única: evitar o defenestramento.
Cansei de alertar que a penúria, o desemprego e o encolhimento econômico eram os motores do impeachment. Que ela deveria, isto sim, propor algum pacote de medidas para evitar que o bolso dos brasileiros ficasse mais vazio a cada mês, caso contrário jamais conseguiria segurar o rojão.
...não pela via militar. |
Incrivelmente, ela nada fez para dar o mínimo alento aos que arrancavam os cabelos. Insistiu na prioridade errada até o mais amargo fim.
Maduro também não conseguirá salvar seu governo se não tomar alguma iniciativa política ousada para começar a pacificar o país e tirar a economia do fundo do poço. Pela via militar, perderá.
É mais uma tragédia que se desenha nitidamente e eu não vejo como evitar, pelo menos com os atores políticos que estão no palco; falta-lhes discernimento e jogo de cintura para tanto. A chance de que desviem o Titanic venezuelano da rota que conduz ao iceberg é mínima, quase nula.
Isso trará consequências as mais funestas, como uma reestreia do malfadado intervencionismo estadunidense das décadas de 1960 e 1970 e o aprofundamento da guinada à direita na América do Sul.
2018 começa melancólico.
4 comentários:
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Celso,
Existe uma coisa negligenciada no ser humano e que causa a maioria das dores evitáveis.
Eu denomino essa coisa de ego.
O desejo de ser diferente.
Parece que os acadêmicos dão a isso o nome de alteridade: você só é você "em relação a" outrem.
Assim, as pessoas se explicam como sendo alguém que é isto ou aquilo.
Pensam que são diferente dos demais.
Quase todo mundo é assim.
Egocentrado, egoísta e narcisista.
Ocorre que a maioria leva umas lambadas da vida e dá um relativizada.
Chega a saber que não somos tão diferentes uns dos outros como dizem. E que a gente não é aquilo que pensa que é.
Ainda assim, não perdemos a mania do rótulo, da querela, do julgar...
Temos que fazer alguma algaravia, procurar ser alguém "em relação a"...
O tal do "poder" (que na verdade é comando) inflama o ego.
Os bajuladores açulam o narcisismo do comandante e ele acaba acreditando que é mesmo alguém especial.
Então, por uma coisa ilusória os caras fazem e desfazem, quase sempre com consequências funestas para todos, inclusive o ególatra.
O Madurão caiu na armadilha do ego.
Ficará preso nela até o fim final.
Fazendo pose. Numa algazarra sem fim. Querendo provar que não "vaza pelo pito" como todos nós.
Há momentos em que o único jeito é recuar. Foi o que a Rússia teve de fazer com o Tratado de Brest-Litovsk, em março de 1918, engolindo cláusulas humilhantes para não ter de continuar enfrentando a Alemanha nos campos de batalha. Deu sorte, porque a derrota alemã na 1ª Guerra Mundial lhe permitiu escapar do cumprimento do tratado.
Então, se revolucionários do calibre de Lênin e Trotsky recuavam quando não havia opção melhor, por que o Maduro não faz o mesmo? Vai causar muitas perdas de vida e grande destruição no seu país sem a menor chance de sustentar um confronto com qualquer grande nação capitalista.
Política se faz com o cérebro, não com os culhões.
Celso, você acha que Allende errou ao não recuar diante dos golpistas em 1973?
Não. Foi-lhe oferecida apenas a possibilidade de voar para o país que escolhesse, levando no avião os auxiliares que escolhesse. O poder estava perdido e dificilmente ele o recuperaria com campanhas no exterior. Melhor imolar-se como uma denúncia extrema da barbárie que se abatera sobre o Chile.
Maduro, pelo contrário, poderia dar o famoso passo atrás, na esperança de depois dar dois para frente depois. A situação está insustentável e se a coisa descambar para confronto armado, eke perderá. Precisa de uma trégua para reorganizar suas forças. E só a conseguirá fazendo concessões políticas.
A boa estratégia militar manda que se escolha o momento certo para combater o inimigo e o terreno mais propício para alcançar a vitória. No atual momento, a iniciativa necessariamente partiria do inimigo e seria ele que faria tais escolhas. Para virar esse jogo, Maduro precisaria de uma sutileza que até agora não tem demonstrado.
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