terça-feira, 3 de outubro de 2017

INDEPENDÊNCIA CATALÃ... POR QUE NÃO?

Por Carlos Lungarzo

"...havia tempo que a Europa Ocidental não experimentava uma revolta realmente autonomista.

A Espanha é um caso especial dentro dos países europeus. O que mais surpreende os pesquisadores sérios é que todos os movimentos progressistas na longa história desse país foram sangrenta e sadicamente derrotados. Nem os comuneros da Castela, nem os efêmeros movimentos liberais, nem as precárias repúblicas puderam tornar-se estáveis por algum tempo. Todos eles foram vítimas imediatas do absolutismo. 

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um fenômeno de extrema crueldade, comparável com o posterior nazismo, do qual os franquistas espanhóis foram cúmplices e subservientes. Na Guerra Civil, as tropas fascistas se chamavam oficialmente nacionalistas, e elas chamavam os republicanos de los rojos, uma maneira de referir-se à esquerda, embora a maioria dos antifranquistas fossem liberais de centro.

Outro detalhe importante (o mais sombrio!): o longo e ainda robusto poder do obscurantismo teológico na vida nacional, algo que no resto da Europa estava em visível decadência já no século XVIII. [Pensemos na Carta pela Tolerância, de Locke; na Era da Liberdade na Suécia; na Revolução Francesa e no Iluminismo Italiano, entre outros eventos.]
"Quem não se sente à vontade tem todo direito de ir embora"

A Espanha não teve Revolução Gloriosa, nem jacobinismo, nem revoluções como a holandesa ou a escandinava. Aliás, desde o século XV os ibéricos tiveram sua própria Inquisição, que se mostrou mais duradoura que sua colega romana. 

Até a aparição do nazismo, em país nenhum os judeus foram tão perseguidos, e também a ciência e a educação foram tão proibidas. Em nenhum outro lugar a população nativa foi quase totalmente exterminada quanto nas colônias espanholas nas Américas, e as instituições tribais (muitas das quais eram pacíficas) foram tão duramente arrasadas.

Se alguém não se sente à vontade dentro de uma comunidade, tem todo o direito a sair dela, mesmo se seus objetivos são irracionais e espúrios, como no caso do Brexit. Quando a separação implica enfraquecer um império, a cisão é ainda mais positiva e legítima. Já quando o império é truculento e fascista, a cisão é louvável.

Se não for esmagada pelo governo opusdeista da Espanha, se não houver outro massacre como o de Bangladesh em 1970 ou da Bósnia nos anos 90, a Catalunha pode tornar-se uma pequena nação independente, como aconteceu com a Noruega e a Suécia há dois séculos.

Agora, a principal decisão provém da União Europeia. Se ela é tão democrática como desejamos acreditar, deveria reconhecer a independência de Catalunha. Porém, talvez isto seja improvável. Bem sabemos que na sociedade capitalista o dinheiro é muito mais importante que a paz, os direitos humanos e a democracia.

Não pode negar-se, porém, que alguns dos separatistas defendem a independência da Espanha também por motivos econômicos, pois as indústrias catalãs são um enorme gerador de riqueza. 

O argumento de que parte do povo espanhol poderia ser privado dessas riquezas é razoável, mas a dominação imperialista no mundo sempre deixou opções duríssimas, então o mais sensato é adotar a menos perigosa. Uma plutocracia liberal é melhor que um fascismo falsamente democrático."

Um comentário:

marcosomag disse...

É verdade que os catalães foram muito reprimidos durante o franquismo. Mas, o uso de um passado não tão distante pelos separatistas é desonesto. Na verdade, são os "coxinhas" de lá, reunidos na frente de direita "Convergência e União" que querem a separação da Espanha. Como os paulistas, acham que "carregam o peso do país" e querem deixar de serem submissos a Madri para serem submissos a Bruxelas. Pesquisas realizadas antes da votação pirata de domingo passado mostraram que a maioria dos habitantes da Catalunha é contra a secessão. E os trabalhadores mais pobres são os principais apoiadores do unionismo. Portanto, não romantizemos a "Questão Catalã".

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