Estará Dilma lamentando ter-se complicado... |
Faço muitas restrições à ex-presidente Dilma Rousseff, a quem vejo como uma antiga companheira da luta contra a ditadura militar que depois desistiu da revolução e se tornou uma tecnoburocrata de corpo e alma, querendo apenas participar do poder Executivo e, atuando dentro dele como gerentona, aperfeiçoar e tornar menos desumano (isto lá é possível?!) o capitalismo praticado no Brasil.
Cometeu algum pecado? Se ficasse por aí, não. Cada um faz o que quer da sua vida, inclusive trocar Karl Marx pelos economistas neo-keynesianos, adeptos de uma mão forte do Estado para alavancar o desenvolvimento econômico, complementando o papel do mercado.
O inaceitável é que, quando o príncipe Lula lhe deu o beijo que a transformou de rã em presidenta, ela e os marqueteiros resolveram utilizar oportunisticamente seu passado militante para impingir ao eleitorado uma imagem piegas, tipo heroína de telenovela.
Mas, como já tinha, havia muito tempo, deixado para trás nossos valores, Dilma deles discrepou totalmente em episódios cruciais como o da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que ela ignorou, da Lei Antiterrorismo que ela sancionou e do pedido de asilo do Edward Snowden que ela negou.
...para receber, em troca, a ingratidão, essa pantera? |
E, como vestira promocionalmente uma fantasia de revolucionária, sua pusilanimidade respingava em todos nós, os que permanecemos fiéis aos princípios por ela abandonados.
Ainda assim, meu espírito de Justiça me faz lamentar o risco que ela está correndo, de sofrer uma punição mais pesada do que a da maioria dos crápulas atolados até o pescoço nos mares de lama da política brasileira.
Ainda assim, meu espírito de Justiça me faz lamentar o risco que ela está correndo, de sofrer uma punição mais pesada do que a da maioria dos crápulas atolados até o pescoço nos mares de lama da política brasileira.
Eu e quase todo mundo a vemos como uma mulher honesta que não se beneficiou pessoalmente da corrupção, mas fechou os olhos a muita coisa por fidelidade ao seu partido e a alguns dos medalhões petistas.
Na semana passada, contudo, ela passou a ter uma lâmina de guilhotina pendendo sobre sua cabeça: as acusações dos marqueteiros delatores. Dilma teria mantido João Santana e Mônica Moura a par das ameaças que sofriam com os avanços das investigações da Operação Lava-Jato, inclusive alertando-os de que seriam presos se voltassem ao Brasil.
Eis a mensagem cifrada (um tanto canhestra) que, segundo eles, teria enviado a Mônica: "O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo. E o pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora também está doente, com o mesmo risco. Os médicos acompanham dia e noite".
Pela campanha sórdida de 2014 Santana não pagará. Deveria. |
Se a existência de tais e-mails for confirmada pelo Google ou por perícias em computadores, tablets e celulares, Dilma terá cometido um crime gravíssimo para qualquer chefe do Executivo: a quebra da confidencialidade das informações privilegiadas de que dispunha por força do cargo, fornecendo-as a terceiros com o propósito de obstruir a Justiça.
E por que ela teria querido salvar logo os marqueteiros? Certamente deve ter estado ciente de outras situações semelhantes, mas parece não haver-se importado tanto com as desventuras dos envolvidos. Suspeito que o motivo, neste caso, fosse pessoal, uma relação de amizade com a Mônica.
Caso, repito, os promotores consigam provar que as coisas se passaram mesmo como os ingratos marqueteiros alegam, Dilma estará em sérios apuros. A menos que sua cândida mas patética ingenuidade lhe valha alguma boa vontade por parte de quem a for julgar
Fico com a impressão de que, como presidenta, Dilma passou 51 meses no lugar errado, na época errada. Foi mal.
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