Celso Lungaretti |
Uma preocupação constante deste blogue é a de apontar para que lado sopram os ventos da política, antecipando o desfecho provável dos episódios em curso. Trata-se de um conhecimento crucial para nortear a atuação da esquerda.
Nem sempre nos agrada o futuro adivinhável. Mas, enfiarmos a cabeça na areia, como avestruzes supostamente fariam, nunca foi solução para nada. E me acusarem de desejar os cenários negativos que designo como tendências dominantes é de um primarismo atroz, mentalidade típica de torcedores de futebol, fãzocas de artistas e fanáticos da política.
Agora, p. ex., a tendência é todos os sujos, unidos num bloco, conseguirem neutralizar a Operação Lava-Jato, conforme detalha o jornalista Vinícius Torres Freire em seu artigo abaixo reproduzido.
É uma perspectiva repulsiva? Sem dúvida! Mas, não esqueçamos a verdade óbvia que os acontecimentos nos vêm ensinando desde os mares de lama do século passado: a corrupção é intrínseca ao capitalismo.
Quando se coloca o enriquecimento pessoal como objetivo supremo da existência, é inevitável que os mais ousados utilizem atalhos à margem da lei para o obter. Cruzadas moralistas ocorrem quando a desfaçatez é demasiada e dá nas vistas, aí alguns bodes expiatórios pagam pelos pecados de todos e, adiante, a coisa é retomada com mais discrição (pelo menos no início). Finalmente, o ciclo inteiro se repete.
E não serão iniciativas do Judiciário nem da polícia que vão estancar de vez a corrupção amalgamada com a política. Será, como cansa de repetir nosso companheiro Dalton Rosado, nos redimirmos do pecado original (a extorsão da mais-valia, que eterniza a exploração do homem pelo homem), reconstruindo nossa sociedade sob perspectiva bem diferente: a colaboração livre e solidária de todos os seres humanos para a concretização do bem comum, com a igualdade como norma e a felicidade coletiva como fim. O resto são paliativos.
Articulistas e porta-vozes da direita à esquerda criticam o autoritarismo crescente do partido da Justiça e a demonização da política. Regentes auxiliares de Michel Temer lideram o basta!, como Gilmar Mendes, entre outros.
O acordão do baixíssimo clero no Congresso ora conta com apoio explícito do clero rebaixado de PSDB e PT. Companheiros de viagem desses dois partidos e outras figuras mais respeitáveis na opinião pública elaboram a defesa intelectual do armistício.
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CRESCE A REVOLTA
CONTRA A LAVA-JATO
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A maré contra o partido da Lava Jato não virou. Mas o apoio a jacobinos de Procuradoria, Justiça e polícia faz água na elite.Articulistas e porta-vozes da direita à esquerda criticam o autoritarismo crescente do partido da Justiça e a demonização da política. Regentes auxiliares de Michel Temer lideram o basta!, como Gilmar Mendes, entre outros.
O acordão do baixíssimo clero no Congresso ora conta com apoio explícito do clero rebaixado de PSDB e PT. Companheiros de viagem desses dois partidos e outras figuras mais respeitáveis na opinião pública elaboram a defesa intelectual do armistício.
Misturam-se os objetivos de conter extravagâncias do partido da Justiça, de evitar a destruição de empresas enroladas, de sufocar salvadores da pátria e de preservar a viabilidade eleitoral de partidos ditos menos podres.
Os jacobinos deram a deixa. A lambança policial na Carne Fraca e o pega um, pega geral das delações deflagram revoltas.
Há empecilhos legais e judiciais a um acordão pacificador amplo e geral, além de pedras no caminho político. O ódio mortal entre PSDB e PT, ainda os polos achatados da política partidária, atrapalha conversas desenvoltas.
Desde 2014, a estratégia é de destruição mútua. Desgraças comuns levaram os dois partidos, cada um por sua conta, a aderir a teses assemelhadas de salvação, uma comunhão involuntária de interesses.
Os dois partidos aceitam o que se pode chamar de doutrina Aécio Neves: se pegarem todos os ruins, sobram apenas os piores. Isto é, querem algum plano de anistia.
Um acordão pacificador de amplo espectro, que inclua também o PT, tem pelo menos três empecilhos maiores.
Primeiro, as pontes de diálogo foram queimadas.
Desde o fim de 2014, quando começou a campanha para depor Dilma Rousseff, o PSDB imaginava que sairia limpinho da história com que amaldiçoou o PT.
Os tucanos levavam vantagem na luta livre até que o partido passou a ser vítima dos mesmos golpes. Procuradores, polícia e juízes ameaçam cabeças do PSDB, com apoio das ruas.
O PSDB baixou a bola desse jogo anti-PT, mas ainda diz que não vale "misturar todos na vala comum". Falta diálogo para dar efeito prático ao acordão tácito.
Segundo empecilho: como fazer com que as bases engulam o acordão? O que o PSDB vai dizer às ruas da ética na política? Como explicar que casou em comunhão total de bens com o PMDB e deu gorjeta ao PT? O que o PT vai dizer às suas bases Fora, Temer! ao embarcar no trem da alegria dos golpistas?
Com jeitinho se inventaria mentira palatável. Mas então se chega ao terceiro problema: falta liderança capaz e legítima o bastante para acertar o armistício entre partidos e vender esse peixe para as ruas.
O acordão quer zerar o jogo, permitindo aos menos piores que comecem de novo. Mas tem também de entregar algumas cabeças e conseguir algum perdão do eleitor mediano.
Os partidos de podridão mais histórica podem até passar o acordão na marra, talvez deixando o PT de fora. Essa solução bruta atiçaria os jacobinos. O povo ficaria em revolta maior, muda ou não. A fúria daria força a salvadores da pátria e à desmoralização da política. Que era o que se pretendia evitar.
Um comentário:
Celso,
Gosto muito da elegancia matemática da Teoria dos Jogos que descreve o dilema presa/predador. Os caras escreveram equações relacionando distância entre predador e presa com o momento da percepção da presa da presença do predador. A presa só será abatida se não perceber a tempo o seu caçador. São jogos de soma zero, onde sempre há um perdedor.
Foi o caso da primeira lista do Janot. Os caras só souberam dela um dia antes dos pedidos de investigações irem para o Supremo.
Foram predados, pois, como consequência, escancarou-se a obsolência e incompetência total do STF e a corrupção generalizada, garantida pela impunidade relativa do foro privilegiado.
Essa foi a vitôria da Lava-jato.
A segunda lista já não contava com o elemento surpresa, dando tempo para a "presa" preparar sua fuga.
Como vc já percebeu, escaparão quase ilesos.
O brilho de J. F. Nash foi perceber que há jogos cooperativos e elaborar os conceitos mini-max e de ganho ótimo.
A política é um jogo cooperativo e (esse jogo) tende a resultado ótimo com o mínimo dano e o máximo ganho.
Portanto, vc tem razão, vai tudo dar em nada e o predador ficará saboreando algumas das presas conseguidas na primeira e bem sucedida investida.
Discordo, porém, que seja culpa do capitalismo. Atribuo a intervenção excessiva do Estado nos assuntos da sociedade e ausência de livre concorrência, pois uma das características dos jogos honestos é a simetria da informação. Coisa que só existe nos semáforos.
Em todos os demais jogos a assimetria da informação revela o seu caráter desonesto.
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