sábado, 24 de dezembro de 2016

ANTES TARDE DO QUE NUNCA, O 'NÁUFRAGO' EXIBE 2 FILMAÇOS SOBRE OLIMPÍADAS: "RAÇA" E "CARRUAGENS DE FOGO".

Nem mesmo a Rio-2016 fez os brasileiros atentarem para a excelência do filme Raça (2016, d. Stephen Hopkins, c/ Stephan James), sobre o lendário Jesse Owens, atleta negro que conquistou quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, encaradas pelos alemães como uma oportunidade para exporem triunfalmente ao mundo os valores nazistas, um dos quais era o da superioridade da raça ariana.

Produção canadense-alemã, Raça mostra (esplendidamente!) como era difícil para um negro chegar aonde seu talento poderia conduzi-lo nos EUA de então. Owens, percebe-se, foi uma moeda que caiu em pé.

E acrescenta muitas informações interessantíssimas, além daquela que todos conhecem: Hitler deixava a tribuna quando Owens triunfava, para não ter de cumprimentá-lo pessoalmente.
Isto, claro, é uma fotomontagem. Até que engraçada...

[Aliás, o atleta declararia depois à imprensa que, numa dessas ocasiões, o führer fez-lhe, à distância, um discreto aceno de aprovação. Talvez até haja admirado suas proezas, sendo, contudo, obrigado a manter  a pose que se esperava de sua persona política...]

Eu mesmo ignorava, e fiquei sabendo graças ao filme, que racista foi também a Casa Branca, ao deixar que passasse totalmente em branco o magnífico feito de Owens, não lhe prestando as homenagens devidas. 

Papelão do Franklin Delano Roosevelt, cuja persona política certamente deu mais importância aos preconceituosos votos sulistas!

Mais tarde, quando o politicamente correto e as relações públicas passaram a prevalecer nas decisões dos governantes, Owens foi, finalmente, reconhecido como um grande herói dos EUA. Pena que tivesse morrido em 1980, dez anos antes.

Melhor sorte teve o pugilista negro Rubin Carter, aquele do filme Hurricane e da música homônima do Bob Dylan (veja o vídeo clicando aqui), que pegou prisão perpétua em processo totalmente distorcido pelo racismo de acusadores, juiz e jurados.
O Owens real x o ator que o interpreta (Stephen James)

Passou 15 anos em cativeiro, deixou de ser o campeão mundial que poderia ter sido, e acabou sendo inocentado pela Corte Suprema. 

Este, pelo menos, recebeu em vida um cinturão de ouro honorário da principal entidade organizadora do boxe, a CMB, como desagravo pela carreira injustamente interrompida.

E, saindo do terreno do esporte, os anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, eletrocutados em 1927, também tiveram sua inocência proclamada oficialmente pelo governador de Massachusetts meio século depois. Infelizmente, deles já não restava nem pó.

Voltando ao filme, há outras revelações indigestas, que dificilmente entram no auê midiático sobre como Owens humilhou Hitler. Cito a principal:
  • os EUA se curvaram às pressões nazistas para restringirem a participação de judeus, só convocando dois deles para os Jogos. E mesmo estes, em função de novas pressões, acabaram sendo retirados à última hora da corrida final de revezamento;
  • o dirigente que tomou tal decisão não foi punido e até teria carreira ascendente;
  • paradoxalmente, foi o que permitiu a Owens conquistar a quarta medalha de ouro, como substituto de um deles. Noutras circunstâncias ele ficaria só com as três que ganhou em competições individuais, duas como velocista e uma no salto à distância.
Gostaria de ter publicado este post completo (ou seja, dando aos leitores a possibilidade de assistirem ao filme) durante a Rio-2016. Não houve jeito. Enfim, antes tarde do que nunca.

E, até para efeito de comparação, estou incluindo abaixo o vídeo de outro filme magnífico sobre os Jogos Olímpicos: Carruagens de fogo (d. Hugh Hudson, 1981). Como é difícil saber qual o melhor, recomendo aos leitores que assistam a ambos...
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