domingo, 25 de dezembro de 2016

ASSISTAM AO FILME DEFINITIVO SOBRE O PINOCHETAZO. É DE ARREPIAR!

Chove sobre Santiago (Il pleut sur Santiago, 1975) é um filme superlativo, simplesmente obrigatório para quem quer entender o ciclo das ditaduras direitistas instaladas na América Latina, com beneplácito estadunidense, nos anos 60 e 70. 

Mostra o desencadeamento do pinochetazo no dia 11 de setembro de 1973, seus antecedentes desde a vitória eleitoral da Unidade Popular (incluindo o acalorado debate no seio das forças direitistas, sobre a aceitação ou não do veredicto das urnas), as realizações do novo governo, a escalada de sabotagem que foi sofrendo, o golpe e o banho de sangue subsequente.

A opção pelo drama histórico  (ao invés de um simples documentário) foi felicíssima: o diretor chileno Helvio Soto conseguiu prender a atenção dos espectadores com uma narrativa tensa, contundente e emocionante, sem prejuízo dos aspectos didáticos do filme, que se propunha a esclarecer o mundo sobre o que realmente aconteceu no Chile.

É de arrepiar a sequência do assassinato do grande Victor Jara num estádio de futebol utilizado como centro de detenção de milhares de prisioneiros políticos. Desafiado pelos militares golpistas a cantar para seu público lá presente, ele ousadamente o fez, até ser morto (não a coronhadas, como se acreditava na época em que o filme foi feito, mas a tiros, tendo uma autópsia efetuada em 2009 constatado marcas de 44 disparos —as mãos, sim, foram esmagadas pelas coronhas dos soldados). 

Idem a do enterro do Prêmio Nobel de Literatura Pablo Neruda, de câncer de próstata e muito mais de desgosto, dez dias após o golpe. É difícil conter as lágrimas ao vermos os acompanhantes, em meio a todo aquele desalento e intimidações, no auge do terror fascista, terem forças e coragem para gritar: "Companheiro Neruda? Presente! Agora e sempre!".

Idem a do último discurso de Allende, consciente de que a morte era inevitável, depois de ter recusado a oferta de lotar um avião com seus seguidores mais próximos e partirem ilesos para o exterior.

O título do filme é a senha utilizada pelos golpistas para informar a seus cúmplices do país inteiro que era aquele o momento de estuprar as instituições. As rádios noticiavam a cada momento que chovia sobre Santiago, embora tal não estivesse ocorrendo.

Destaque para as magníficas atuações dos atores consagrados que colaboraram solidariamente para a viabilização do projeto de Soto -- Jean-Louis Trintignant, Bibi Andersson, Annie Girardot, Riccardo Cucciolla e Bernard Fresson, dentre outros-- e para as músicas inspiradíssimas de Astor Piazzola.

Recomendo fortemente aos leitores que não deixem de ver Chove sobre Santiago, mesmo com uma qualidade de imagem menos satisfatória que a habitual. 

E, para quem quiser saber mais sobre o sangrento golpe de estado que extirpou um dos mais belos experimentos socialistas de nosso continente, recomendo este esclarecedor artigo do repórter e documentarista australiano John Pilger.

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