segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ELEIÇÃO PAULISTANA É PIOR DO QUE APOCALIPSE ZUMBI

Não tenho ilusões quanto ao que devamos esperar dos políticos profissionais: nada. Isto porque os escolhidos nas urnas não passarão de farsantes, fingindo que mandam enquanto estiverem dançando os minuetos que o poder econômico lhes impõe. 

A grande maioria, sem sequer elegância. Deveriam encenar o teatro da política, mas suas performances grotescas estão mais no nível dos mafuás de periferia.

Em 1976, quando foi lançada no Brasil a obra-prima do diretor italiano Ettore Scola, Feios, sujos e malvados, o título foi a própria piada pronta: muita gente logo passou a assim qualificar os candidatos a prefeito e vereadores que desfilavam na propaganda eleitoral gratuita. Brincalhões faziam listas de quem eram os feios, quais os sujos e quais os malvados. É óbvio que a terceira categoria predominava.

Eu desisti de analisar a sério as propostas dos candidatos, pois estaria, na verdade, avaliando o trabalho dos marqueteiros que bolaram o blablablá por eles repetido exaustivamente. E sempre considerei lapidar a frase do genial Zé Celso, "os publicitários são filhos de Goebbels". Taí uma afirmação que eu morro de inveja por não ter-me ocorrido antes...
Capacete de ciclista ou penico do Menino Maluquinho?

Mas, há certas falsetas morais que me irritam profundamente. Elas, sim, me levam a detestar especialmente alguns candidatos, vendo-os como piores ainda do que a vala comum geral.

Caso, p. ex., do candidato à releição para a prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Sua primeira gestão foi, em termos administrativos, menos do que mediana, mas isto não me importou; suponho que qualquer outro ficaria num limbo semelhante.

Ter usado factoides (ciclovias implantadas onde não cabiam, redução do limite de velocidade sem embasamento técnico, etc.) para garantir espaço no noticiário é velho como andar pra frente. 

De intelectuais, mesmo os chinfrins, espera-se que hajam lido qualquer coisa. O Haddad deve ter devorado alguma biografia do Jânio Quadros, o homem da vassoura, aquele que condecorou Che Guevara só para que os bobos falassem mal de si; o da proibição dos monoquínis e da rinha de galos; o dos arcos resgatados que não eram nada do outro mundo mas, bem propagandeados, viraram grandes relíquias arquitetônicas...

Há algo, porém, que deve parecer insignificante para quem tem cabeça feita pela grande imprensa e seus farisaicos critérios, mas para mim é fundamental: caráter.
Jânio era o rei dos factóides

Nunca perdoarei o Haddad por ter recebido a ajuda voluntária da Neca Setubal na campanha municipal de 2012 e depois haver lavado as mãos enquanto seu partido (o PT) massacrava a dita cuja por prestar o mesmíssimo auxílio à Marina Silva na campanha presidencial de 2014. 

Ele, mais do que ninguém, sabia que a fulana não passava de uma herdeira que nunca apitou nada no Grupo Itaú e está sempre procurando causas nobres para preencher sua vida mansa e, provavelmente, um tanto tediosa. 

Mas, Haddad não teve a dignidade de a defender da rede fascistoide de assassinato de reputações que o PT invariavelmente aciona quando o jogo limpo não é suficiente para seus interesses prevalecerem. Lamentável.

VOTARAM NA SRª SUPLICY E ELEGERAM A SRª FAVRE...

A Marta Suplicy é outra que não me passa pela garganta, primeiramente por haver tido como seu maior trunfo (e era fajuto!) na eleição para a prefeitura paulistana no ano 2000 o prestígio do marido, o bom e um tanto folclórico Eduardo Matarazzo. Até então ela havia sido somente deputada federal e ainda não tinha cacife para um voo maior, tanto que, na eleição para o governo do Estado, dois anos antes, não chegara nem ao 2º turno.

No pleito municipal chegou, e justamente contra Paulo Maluf, que então era tido como o corrupto-mor da política brasileira. Daí, evidentemente, a merecida aura de honestidade do Suplicy lhe haver sido benéfica ao extremo. 
O casamento com Favre ficou para depois da eleição...

Boa parte dos seus eleitores deve ter-se sentido ludibriada quando, mal se fechavam as urnas, ela comunicou que já não era mais a mulher do Suplicy desde alguns meses antes, mas sim do Luis Favre. 

Ter sonegado tal informação enquanto lhe foi conveniente representou um feio estelionato eleitoral (é verdade que depois a Dilma Rousseff a superaria em muito neste quesito...) e, no mínimo, de uma demonstração explícita de amoralidade.

É também inesquecível, no mau sentido, o episódio em que ela, quando prefeita, destratou uma pequena comerciante cuja loja fora inundada pelo córrego Aricanduva, uma enchente que acontecia ano após ano no mesmíssimo lugar. A fulana, desesperada, tinha todo direito de cobrar-lhe as providências que não haviam sido tomadas. E a Marta a tratou a pontapés, algo indesculpável em quem, teoricamente, pertencia a um partido dedicado a defender os humildes contra os abusos dos poderosos.

[Mesmo paradoxo que se verificou no caso do Antonio Palocci x Francenildo Costa: um ministro de Estado servir-se tão grosseiramente do seu cargo para violentar os direitos de um humilde caseiro. Era tudo que não se esperaria de um petista que começara sua trajetória na esquerda.]

Então, para mim, seria melhor que se elegesse prefeito(a) de São Paulo qualquer outro que não o Haddad e a Marta? Não, apenas os considero os últimos na minha escala de valores moral.
Será que desta vez ele ganha?

Mas, sendo o que é a Igreja Universal do Reino de Deus (uma instituição que vem driblando há décadas, sabe-se lá como, as acusações de estelionato, lavagem de dinheiro, curandeirismo e lavagem cerebral), a eleição do Celso Russomanno, somada à provável vitória de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro, mais me parece um augúrio de catástrofe. Os filmecos de apocalipse zumbi nem chegam perto...

E do João Dória Jr. cansei desde que ele foi um dos principais articuladores do Cansei!, aquela ridícula tentativa de reviver em 2007 a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, cujo rotundo fracasso só serviu para confirmar que a História só se repete em farsa. 

[Falsificadores da História, por sinal, andaram comparando tal marcha de 1964 com o Fora Dilma, mas as linhas mestras se diferenciaram muito. A derradeira tentativa de reeditar a histeria anticomunista retrô foi mesmo o Cansei!].

São estes quatro os candidatos com chances reais de conquistarem a prefeitura de São Paulo. Dá para tomar uma kaiser antes?

Melhor ainda será se o leitor seguir este bom conselho, que, ao contrário do Chico Buarque, eu lhe dou de graça: vote nulo ao invés de votar nos nulos!

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails