segunda-feira, 25 de abril de 2016

"QUANTA CRUELDADE É OBRIGAR UM PRESIDENTE DE FATO DEPOSTO A DEFINHAR EM PRAÇA PÚBLICA!"

Como não levo a sério os partidos e personagens da política oficial, faço questão de tratá-los de forma jocosa, como se fazia no tempo do Barão de Itararé ou d'O Pasquim

É hora de pararmos de superdimensionar os feios, sujos e malvados que atuam na comédia do poder, como a mídia nos incute sub-repticiamente o tempo todo, fazendo crer numa autonomia de decisão que eles verdadeiramente não têm, títeres que são do poder econômico. 

Também neste caso, revolucionário é mostrar a nudez do rei, dos cortesãos e até dos que querem simplesmente substituir o monarca, mas não extinguir a monarquia. 

Neste sentido, o artigo do jornalista Vinícius Mota, Parasitas da agonia, permite uma comparação entre dois textos inspirados pelo mesmíssimo sentimento de compaixão: o de quão cruel é permitir que Dilma Rousseff (merecedora de meu respeito como antiga companheira na luta conta a ditadura, malgrado pareça outra pessoa desde que o beijo do Lula a metamorfoseou em rainha do Planalto) permaneça tanto tempo sob os holofotes como morta-viva, ostentando a perplexidade face ao defenestramento iminente e todo seu descontrole emocional, quando a chance de reversão do quadro e permanência como presidente é zero.  

Eu dei este recado no domingo (24) em clave zombeteira, como de hábito; ele, um dia depois, com o comedimento de um comentarista da grande imprensa. Mas, no fundo, ambos pensamos igual: será uma pena se Dilma não sair de cena com um mínimo de dignidade. Alguém precisa dar-lhe este toque.

Por Vinícius Mota
PARASITAS DA AGONIA

O longo intervalo entre a votação do impeachment na Câmara e o juízo para instalá-lo, no Senado, expõe Dilma Rousseff a um triste espetáculo. O reality show exibe a derrocada física e psicológica da figura que ocupa, sem exercer, o principal cargo da República.

A cada fala em que deslegitima a arquitetura constitucional, a mesma responsável por sua ascensão, Dilma se distancia mais da respeitabilidade. O pior castigo para um mandatário compelido a discursar todo dia é não ser levado a sério.

Quem seria capaz de manter o equilíbrio, a coerência e o sentido de sua missão institucional numa situação como essa? Quanta crueldade é obrigar um presidente de fato deposto –não há volta para quem reuniu contra si mais de 70% dos deputados– a definhar em praça pública!

O erro menor coube ao Supremo, que complicou a leitura deste trecho da Carta: "Admitida a acusação contra o Presidente, por dois terços da Câmara, será ele submetido a julgamento perante o Senado nos crimes de responsabilidade".

O voto derrotado do ministro Edson Fachin, que reconhecia ser da Câmara o papel crucial, ajustava-se melhor à natureza sobretudo política do impeachment. Fachin deveria ser imitado na autocontenção que demonstra em face do Legislativo.

A culpa principal, contudo, é das lideranças que parasitam a lenta agonia de Dilma. Lula e o PT querem uma mártir para evitar o cisma que ameaça retirar da sigla a supremacia na esquerda. Renan Calheiros, Aécio Neves e outros figurões da centro-direita aproveitam o interregno para negociar a adesão ao novo governo.

Nenhum dos dois lados dá a mínima para salvaguardar seja a dignidade de Dilma Rousseff, seja a grandeza da Presidência da República.

Se recobrasse o discernimento, Dilma encontraria na renúncia a chave para explodir o conluio que promove esse impiedoso ritual de sacrifício.

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