sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A PARALISIA DO BRASIL OFICIAL CONDUZ O BRASIL REAL À DEPRESSÃO ECONÔMICA

Enquanto prosseguem na Praça dos Três Poderes as degradantes escaramuças entre um governo que morreu mas resiste a ser enterrado e uma oposição que ainda não descobriu como cravar a estaca no coração do vampiro, no Brasil real a situação se deteriora cada vez mais.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, referentes ao período setembro/novembro de 2015, são simplesmente desoladores:
  • já são 9,13 milhões os desempregados, cujo número aumentou 41,5% no período de um ano;
  • a taxa de desemprego, que era de 6,5% em idêntico período de 2014, saltou para 9%, o pior resultado desde 2012, quando foi iniciada a série histórica do PNAD;
  • a sensível piora do quadro em 2015 se deve ao aumento do número de pessoas que, em função da recessão, passaram a procurar emprego mas não o estão encontrando;
  • no período de um ano, os trabalhadores com carteira assinada diminuíram em 1,1 milhão, ou seja, 3,1%;
  • no período de três meses, a queda da renda real foi de 0,7%.
Evolução positiva? Nenhuma. Os desempregados continuaram no patamar de 9,1 milhões, como estavam um mês antes, mas nem sequer se pode saudar a interrupção da tendência decrescente: o normal seria que, pelo contrário, a taxa de desocupação diminuísse um pouco em função do trabalho temporário no período natalino, mas tal não ocorreu desta vez. Ter ficado estacionária foi prejuízo, não lucro.

Os economistas garantem que, ao longo de 2016, será inevitavelmente atingido o patamar altamente simbólico de 10 milhões de desempregados. Não há medida que possa ser tomada agora, capaz de impedir que continuemos descendo a ladeira nos próximos meses.

Mesmo porque a saída de situação tão crítica não se dará apenas com iniciativas na área econômica. Será necessário o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos no timoneiro da nau Brasil.

A presidente Dilma Rousseff perdeu a credibilidade ao prometer na eleição de 2014 o que não pretendia entregar e nem que a vaca tussa a recuperará em meio à recessão. Vai continuar sendo vista, pela grande maioria dos brasileiros, como a mãe do miserê atual e o primeiro obstáculo a ser removido para o País sair do fundo do poço.

E, enquanto não se desatar o nó político, os grandes capitalistas continuarão jogando na retranca, adiando investimentos e enxugando custos, pois lhes importa mais não sofrerem perdas mínimas do que muitos brasileiros estarem perdendo tudo que têm.

Já que a presidente Dilma Rousseff não admite deixar por suas próprias pernas o Palácio do Governo e nada indica que nele permanecendo conseguirá evitar que mergulhemos numa depressão econômica de efeitos devastadores, a melhor saída para os trabalhadores e excluídos será a cassação da chapa presidencial pelo TSE, com a consequente convocação de uma nova eleição.

Nem vou entrar na questão de se há ou não embasamento legal para tanto, pois sei que, em circunstâncias extremas, os países e os povos sempre encontram justificativas para a adoção de medidas de salvação nacional. E é disto que se trata neste momento!

Mas, seria um caso em que a Justiça Eleitoral escreveria certo por linhas tortas, pois o pior estelionato eleitoral brasileiro de todos os tempo é motivo imensamente mais grave para a anulação do resultado das urnas do que os alegados pelos oposicionistas.

As leis brasileiras são patéticas, atêm-se ao secundário e não punem quem faz campanha prometendo exatamente o contrário do que já decidira fazer, o que se constitui na própria negação da democracia!

Vale repetir: a campanha à moda do Goebbels da Dilma, agressiva e falaciosa ao extremo, tornou extremamente ilegítima sua reeleição, tendo sido a principal causa do ano político catastrófico de 2015, muito mais do que os efeitos da Operação Lava-Jato. O povo não é bobo, percebeu ter sido vítima de uma vigarice eleitoral e não se conforma. Quem será insensível a ponto de negar-lhe tal direito?   

E é porque o poder está suspenso no vácuo que temos de devolvê-lo à sua fonte, o povo. Dar-lhe a oportunidade de indicar uma saída, já que os poderosos se mostram impotentes para tanto: não se entendem e, com suas disputas mesquinhas e canibalescas, estão nos conduzindo para o imponderável.

Dez milhões de desempregados num país cujo povo é muito pobre (nunca deixou de sê-lo apesar da propagandaiada ufanista: está aí o IDH sofrível que não me deixa mentir), significarão miséria, desespero e morte nas periferias, grotões e quebradas do mundaréu. Quem será insensível a ponto de não se comover? 

Dilma significa um, um mandato a que se apega com unhas e dentes, sem jamais mostrar competência para exercê-lo nem humildade para reconhecer que cometeu erros crassos na gestão anterior e agora os está cometendo piores ainda, ao insistir em impor-nos o receituário econômico da direita apesar de ter sido eleita pela esquerda. Como ela se tornou tão insensível a ponto de não renunciar?

2,7 milhões de desempegados adicionais no espaço de um ano é um número bem maior do que um. Mexe muito mais com meus sentimentos e convicções. 

É pelos 2,7 milhões (e pelos que a eles se somarão) que choro.

São eles que, como homens de esquerda, deveríamos defender em todas e quaisquer circunstâncias, evitando que fossem levados à penúria e ao desespero por governos ineptos.

São eles que me inspiram a pregar, por enquanto no deserto, no sentido de que a esquerda recoloque a solidariedade para com os explorados no centro de suas preocupações.

Estar ao lado dos que vivem nas favelas, cortiços e casebres é muito mais importante para revolucionários do que desfrutar das mordomias dos palácios.

E gerenciar o capitalismo para os capitalistas não nos aproxima um milímetro sequer da revolução.

9 comentários:

SF disse...

Celso,
Li com interesse seu artigo e não o condeno por ver tudo pelo viés político. Gostaria de compartilhar a visão de que é o governo o culpado, só que não.
Os políticos fazem o que sempre fizeram e não há surpresas nos dias atuais. Só uma espetacularização maior.
Para criar empregos, contudo, são incompetentes.
Políticos criam cargos e burocracias.

Posso estar errado, mas o desemprego é estrutural. Decorre do avanço tecnológico que destrói milhares de postos de trabalho todos os dias.

O trabalhador terá cada vez menos lugares aonde vender-se.

A dita recessão atual acontece em meio a super produção. Há muitos bens, só não há quem os compre, porque não tem renda, porque diminuem os postos de trabalho, porque a tecnologia os elimina. É um círculo vicioso. Algo que levará a extinção do trabalhador. E da própria sociedade de consumo.

Cansados de esterilizar capital em luxos, drogas, guerras e orgias talvez os caras que mandam no mundo estejam pensando num genocídio deste povo sem utilidade na reprodução do capital. Parecido com o descrito no seu conto "Gargalhada no Infinito". É bem possível que vc tenha intuido algo...

Só não pelos mesmos motivos (já que não há escassez), mas pelo menmo motor: o egoísmo racionalizado.

Vendo as imagens dos escombros de Alepo na Síria, pergunto: como um ser humano faz de sua missão na terra criar uma paisagem daquelas?

Aquilo não me deixa esquecer que estamos caminhando sempre na borda de um precipício.

O mundo humano parece cada vez mais inviável.

celsolungaretti disse...

Você está certo no atacado, companheiro: persiste e até aumentou o velho desequilíbrio entre a quantidade de bens disponibilizados e o poder aquisitivo dos possíveis compradores. O capitalismo oculta esta contradição por meio dos mecanismos de crédito, até que o elástico arrebenta e temos uma grande crise.

Mas, no caso brasileiro, o que há mesmo é inépcia gerencial. A Dilma acreditou, no governo passado, em reeditar extemporaneamente o nacional-desenvolvimentismo e se deu muito mal.

Aí, apavorada, decidiu neste governo se render incondicionalmente à ortodoxia capitalista e se deu pior ainda.

Estamos no pior dos mundos possíveis: a gestão econômica não é, nem de longe, de esquerda, mas somos nós que levaremos a culpa pelo retumbante fracasso.

E, quando a recessão evoluir para depressão e começar a produzir convulsão social, a Dilma espirrará, de um jeito de outro.

Bem melhor seria se ela saísse agora. Quanto mais ela nos conduzir para o fundo do poço, maior será a dificuldade que teremos para reconstruirmos a esquerda.

Os cinco anos e pouco dela têm sido piores do que praga de gafanhoto.

Apollo disse...

A economia do Brasil sempre esteve esculhambada, desde a Proclamação da República. Nenhum dos seus 48 presidentes até hoje mostrou serviço para consertar. Lula e Dilma são apenas mais dois nessa lista. Nunca a economia esteve tão perto do abismo como no governo Sarney. A inflação chegou a 4.853% quando Collor assumiu. O país vivia verdadeiro flagelo social com cara de guerra civil, que havia passado por cima de quatros planos econômicos fracassados no governo Sarney, fundados em congelamento de preços. Foram chamados Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano da política Feijão-com-Arroz do ministro Mailson da Nóbrega e, finalmente, Cruzado Novo. Em seguida, inventou-se o hoje há muito extinto Plano Real, que significou tão somente pânico e punição para os pobres. Os que conduzem o Brasil para o abismo são sempre os congressistas, deputados federais e senadores, com suas incompetências, mediocridades, disputas mesquinhas, terríveis irresponsabilidades. Apóllo Natali

Luis Venâncio disse...

E questão de pouco tempo para a recessão evoluir e produzir a convulsão social. O povo está sofrendo muito. Os produtos alimentícios estão absurdamente caro. Não digo os industrializados; comidas congeladas, prontas,etc., falo dos produtos básicos num mercado ou feira livre em São Paulo, capital.

Na feira: banana; R$ 5,00/6,00/7,00 a dúzia. Maço de couve/agrião, rúcula: R$ 4,00. Dúzia de ovos médio: R$ 6,00. Batata doce/inglesa : R$ 5,00/6,00 o quilo.

Estes preços são de feiras em bairros pobres. Nos mercados são mais caros ainda.

O preço da passagem de ônibus/metrô é abusiva: R$ 3,80, atualmente. No entanto, no ano passado comprava-se qualquer produto mencionado a custo menor que uma passagem.

Caindo o movimento nos supermercados os capitalistas procuram manter seus lucros aumentando exageradamente os produtos básicos.

Se está difícil o trabalhador empregado manter sua família,imagine a situação trágica de um desempregado.

O governo do PSDB paulista prevendo as convulsões sociais treina sua polícia assassina reprimindo violentamente os movimentos populares até de menores estudantis. Dá uma mostra da carnificina que será quando o povo sair às ruas para valer mesmo.

E o atual prefeito, cuja reeleição, segundo os graúdos do partido,é primordial para que o PT continue respirando politicamente ou mesmo existindo, é alheio a todo esse sofrimento da população pobre. Ao contrário, em comum acordo com Alckmin subiram as passagens dos coletivos no mesmo índice [ônibus e metrô].

Sua maior preocupação e feito foi até agora infernizar a população com faixas vermelhas de bicicletas com rotas totalmente sem sentido.

No tocante a velocidade no trânsito,a burocracia tiraniza impondo os 50km.

Observem: nos velocímetros dos carros os números da marca da velocidade vem 20/40/60/80/100....Para observar limite dos 50 temos que estar de olho numa tênue risca entre os 40 e 60. Qualquer desatenção são multas e mais multas. Nunca vi tanta sadismo burocrático.

Não haverá milagre, a situação ficará pior, as convulsões sociais serão consequências.

Só temo que não chegue numa situação vivida pela Argentina algum tempo atrás: as casas das famílias com dispensas bem abastecidas eram invadidas por outras passando fome. O povo contra o povo. É o que pode dar devido o desarmamento ideológico das massas; ação contínua do PT e suas instâncias nesses treze anos.

celsolungaretti disse...

Meu caro Apollo,

foram tempos de consecutivos altos e baixos na economia. O Plano Cruzado, p. ex., emplacou num primeiro momento e parecia funcionar, tanto que o povão o apoiou entusiasticamente. Depois de nove meses começou a fazer água e as tentativas de correção de rumo também não funcionaram.

O certo é que, como você bem lembrou, lançaram-se muitos pacotes econômicos, mas o único que acabou resultando foi o Plano Real do FHC.

O que não houve foi uma recessão de tão longa duração como a atual, que já completou dois anos, com todas as projeções apontando para mais um ano de vacas magras, no mínimo.

Ou seja, tínhamos descontrole inflacionário e alternância de períodos de euforia e pessimismo. Hoje temos uma recessão permanente e crescente, que logo atingirá o limite do que os mais pobres podem suportar.

Percebe-se claramente que marchamos para a depressão econômica e a convulsão social. E nada do que está sendo feito neste momento o evitará.

Mais: a presidente está sem credibilidade nenhuma para ser a responsável por uma hipotética reversão do quadro. Não dá para a imaginarmos articulando um gabinete de crise ou lançando as bases de um governo de salvação nacional. Sua imagem já se deteriorou demais, hoje ela é parte do problema e não da solução.

De um governante com outro passado poderíamos até esperar que se agarrasse compulsivamente ao poder, pouco se importando com quantos trabalhadores e coitadezas estariam sofrendo por causa de sua teimosia.

De quem um dia se dispôs a sacrificar a vida pelo povo, não! Pois o que se pede a ela hoje é um sacrifício muito menor para qualquer idealista: o da vaidade pessoal. Não é possível 2,7 milhões estarem na rua da amargura apenas porque a Dilma não quer reconhecer que errou, que continua errando e que não tem capacidade para nos tirar do buraco onde nos colocou.

Não tente ser advogado do diabo, mestre. A Dilma é indefensável. Ninguém consegue bater todos os recordes de impopularidade presidencial sem motivo.

Anônimo disse...

Todas as economias do mundo sempre estiveram bagunçadas. Em seu comentário, o leitor que se identifica como SF aponta muito apropriadamente o porquê. O desemprego é estrutural,causado pelo avanço tecnológico, que destrói postos de trabalho. Na Espanha, atinge a 32%. No resto da Europa, perto disso. A recessão acontece em meio à superprodução, desequilíbrio entre os bens produzidos e a baixa capacidade de compra.Os políticos criam cargos e burocracia.Os poderosos tramam o genocído do povo, cansados de transformar capital em luxo, drogas e guerras. Ou seja, todos esses males do capitalismo, que você,Celso, vem alardeando de cabo a rabo em suas eternas predições. Qual dos 48 presidentes brasileiros, inclusive Lula e Dilma, inclusive o Congresso, vai mudar essa situação dantesca do nosso planeta azul?
apóllo natali

celsolungaretti disse...

Apóllo,

o problema da Dilma foi o de nem haver tentado confrontar o capitalismo (cada vez mais nefasto e predador), nem ter desenvolvido uma gestão capitalista rotineira, como, p. ex., a do Chile. A Dilma pretendeu fazer o capitalismo brasileiro voar alto... usando as asas do Estado. Ou seja, quis reeditar o velho nacional-desenvolvimentismo de 60 anos atrás.

Foi um erro crasso, conforme o Delfim Netto (que de capitalismo entende) cansa de repetir. Endividou o Estado e, por não ter controle sobre a roubalheira dos "bons companheiros", destruiu várias empresas que ficaram mais expostas ainda ao saque, começando pela Petrobrás.

O segundo erro crasso foi, no atual mandato, tentar corrigir as trapalhadas do primeiro (o Brasil já atravessara 2014 em recessão) mediante uma capitulação incondicional ao capitalismo, com a adoção do dantesco receituário neoliberal.

Embora injusta e desumana, tal política econômica talvez até segurasse a onda por uns tempos, se pudesse ser aplicada ipsis litteris. Mas, claro, jamais um partido de trabalhadores poderia respaldá-la, pois seus candidatos a postos eletivos (no Executivo, Legislativo, sindicatos, associações, etc.) seriam crucificados e expelidos na eleição seguinte. Daí a resistência da CUT, MST, MTST, UNE, etc., ao ajuste fiscal.

Mesmo assim, depois de passar 2015 inteiro tentando inutilmente socar-nos o ajuste garganta adentro, a Dilma, como vitrola quebrada, continua insistindo nele em 2016. Quer porque quer ressuscitar a detestada CPMF, chegando ao ponto de tentar subornar estados e municípios com a promessa de entregar-lhes um quinhão do butim, o que implicaria aumentar a garfada e empurrar ainda mais a economia para a recessão! Quão baixo ela desceu!

Quanto à reforma da Previdência, é outra ignomínia inominável. Nem preciso dissecá-la, pois o André Singer já o fez magnificamente:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/02/andre-singer-indaga-compete-um-suposto.html

Enfim, por tudo que vimos nesses malfadados 5 anos e oito semanas de Dilma, não dá para esperarmos absolutamente nada dela em termos de reverter o quadro atual, extremamente preocupante.

Então, alguma outra solução tem de ser encontrada. E a melhor saída possível será a impugnação da chapa presidencial pelo TSE, com a realização de nova eleição em 60 dias, já que a última foi conspurcada pelo pior estelionato eleitoral já ocorrido neste país.

Se nosso voto não servir mais para definir a política econômica a ser adotada e os candidatos se puserem a fazer o contrário do que haviam prometido mal acabam de ser empossados, para que eleições, afinal?

Carol Brasil disse...

Adorei seu Blog! Realmente estamos com muitos desempregados e encontrei um ótimo site de vagas de emprego para ajudar o Brasil a sair dessa lama: http://vagadeemprego.liste.com.br/

celsolungaretti disse...

Obrigado, Carol.

Passei 32 anos atuando profissionalmente como jornalista e sempre procurei fazer bem o meu trabalho, pois os leitores e os personagens dos episódios que eu noticiava não deveriam ser prejudicados pelo meu desleixo.

Muitos colegas trabalhavam bem quando eram bem pagos e faziam de qualquer jeito quando a remuneração era insatisfatória. Eu, não.

Hoje, mantenho a mesma postura: nunca ganhei um centavo com meus blogues e com os artigos que distribuo por e-mail, mas há uns 10 anos venho fazendo o melhor que posso.

Temos de tentar ser melhores do que o capitalismo, prezando o nosso trabalho e mantendo a auto-estima.

Bem-vinda!

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