sábado, 12 de julho de 2014

APRESENTO-LHES O PARLAPATÃO MIDIÁTICO LAMBANCEIRO

Um personagem pitoresco dos textos, papos e piadas de outrora era o Juquinha, que só pensava em sexo. Hoje o trepa-trepa ficou tão generalizado que os Juquinhas não estão mais obcecados com isso; fazem sexo quando querem.

Também não existe mais nenhum Brasilino preocupado com os vampiros das multinacionais a sugarem-no o tempo todo, nem paranóicos como o Ubaldo temendo os agentes da ditadura, ora (os que ainda não foram para o inferno) reduzidos a provectos anciãos.

E perdeu o sentido criticarmos a Maria-vai-com-as-outras, que talvez fosse exceção, mas se tornou regra. Pouquíssimos têm a coragem de divergir das besteiras em que a maioria momentaneamente acredita. Tomei muito pau no lombo por escrever antes o que todos escreveriam depois -p. ex., que o Felipão era incompetente para dirigir a seleção brasileira e a conduziria a novo fiasco, pouco importando a conquista da copinha das Confederações que os europeus nunca disputaram a sério.

Enfim, como tantas figuras que davam colorido à nossa retórica de outrora saíram de cena, talvez seja a hora de bolarmos novas, para ver se colam.

Que tal o Parlapatão Midiático Lambanceiro, ou, simplesmente, PML? Seria aquele jornalista ou articulista de internet que faz elucubrações as mais estapafúrdias, na linha das teorias da conspiração, e ainda por cima incongruentes com as posições que defende, equivalendo a tiros no pé.

Alguém como o Paulo Moreira Leite (que coincidência, as iniciais são as mesmas!). Ele corretamente discorda dos nossos preconceitos, futebolísticos e outros mais contra os argentinos, mas os vê sendo insuflados por vilões tão mefistofélicos quanto o Dr. No do filme de James Bond:
"Os argentinos acumularam quatro Prêmios Nobel. Também fizeram um papa. Brasil é zero nestes quesitos. Tem gente que se sente menor por isso. Pode?
Claro que pode. Essa é a esperança de quem sonha em transformar uma vitória argentina, domingo, numa derrota brasileira.
...o que se quer é estimular baixos instintos para ganhar votos em outubro.
Honestamente... nem o mais pessimista iria imaginar um programa de campanha (?!) tão rasteiro. Enquanto se estimula de todas as formas uma rejeição contra os argentinos, se torce secretamente pela vitória de Messi & seus companheiros na esperança de prejudicar Dilma Rousseff.
É com este tipo de debate político que a oposição quer chegar ao Planalto? Deve ser".
O PML é, portanto, uma mistura de Juquinha que só pensa em eleição com Ubaldo que procura inimigos até embaixo da cama. E acaba tornando suspeitos os brasileiros que torcem pela Argentina, pois estariam secretamente urdindo a desgraça da presidenta. Então, acaba dando força aos que preferem os filhos da Merkel, embora pregue o contrário em vários parágrafos.

Bem, antes que me acusem de fazer parte da satânica tramoia futebolistico-eleitoreira, esclareço que desde os 11 anos, na Copa de 1962, torço sempre para os pobretões da América Latina contra a opulência européia, por pertencer ao 3º mundo e não ao 1º. Foi uma lição que aprendi com meu pai: ele tinha muitas broncas futebolísticas dos argentinos e uruguaios, mas jamais se alinhava com os poderosos que nos dominavam a todos.

Daí eu ter colocado no ar cinco vídeos musicais (este, este, este, este e este) com a a mesma enfática retranca: para nunca esquecermos quem somos e o que somos.

Identifico-me com os hermanos por serem explorados e aviltados como nós, e porque seus ritmos e poesias impactam muito mais o meu coração. Tenho 25 anos [e um tantinho mais...] de sonho e de sangue e de América do Sul. Por força deste destino, um tango argentino me vai bem melhor que um blues (*).

Mais: a maioria de nós, os de 1968, sentimo-nos dramaticamente próximos dos companheiros de países vizinhos, durante a onda de ditaduras que se abateu sobre nosso continente. Sofríamos a mesma perseguição, buscávamos os mesmos refúgios, conhecíamo-nos e ajudávamo-nos, percebendo então que nossas poucas diferenças eram irrelevantes face às nossas muitas afinidades. Até hoje um dos meus melhores amigos é um chileno que para cá veio após o pinochetazo.

Vai daí que, neste domingo, torcerei desbragadamente por Messi & seus companheiros, lixando-me para quem serão os beneficiários do seu triunfo na política oficial, ultimamente reduzida a uma disputa de aspirantes a gerenciarem o capitalismo para os capitalistas, com direito a decidirem o secundário, mas obrigados a obedecerem caninamente à voz do dono no fundamental: a política econômica, que tem de ser sempre a ditada pelas multinacionais, pelos grandes bancos, pelo agronegócio...

* versos de "A Palo Seco", do Belchior.

Um comentário:

Anônimo disse...

Los Hermanos

Por que tenho que torcer contra ?
Por que tenho sempre que drogar Maradona,
espanholar Messi
e reverenciar o rei e seu príncipe ?
De onde contrabandeei este olhar,
com o qual, enxergo o Paraguai
e por que devo acreditar
que não há nada melhor que a coca boliviana
para entorpecer pensamentos ?
Por que hot dog e não acarajé ?
Quem prova que a cirrose do uísque
é mais camarada que a da tequila ?
Que me desculpem as revistas, tvs e jornais
que insistem em me vender um "Mc mundo feliz";
O Haiti também é aqui !
Viva Latinoamérica !


Abração, Celso

Marcelo Roque


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