segunda-feira, 8 de outubro de 2012

BALANÇO ELEITORAL x FIM DE UMA FASE

Terra em Transe: "As coisas que vi naquela campanha...
uma tragédia muito maior do que as nossas próprias forças!"

Estamos salvos do espectro que assombrou a campanha paulistana: o de que Edir Macedo, o  apóstolo  Estevam e a  bispa  Sônia se apossassem da chave do cofre da Prefeitura paulistana e, colocando seu zumbis nas ruas, gerassem um populismo de direita que, a julgar-se pelos antecedentes (perseguição a gays, umbandistas, defensores do aborto, etc.), certamente teria características nazistóides.

Depois do  fogo de palha  constatado neste domingo --o equivalente político da expulsão dos vendilhões do templo--, a bancada evangélica no Congresso deverá continuar sendo apenas o que é atualmente, já suficientemente ruim: fisiológica e com viés direitista. Se, além disto, passasse a ser uma força autônoma, tudo pioraria.

O 2º turno se disputará entre José Serra, que tocaria adiante a escalada autoritária dos últimos anos, em parceria com Geraldo  blietzkrieg do Pinheirinho  Alckmin; e Fernando Haddad, uma incógnita (por enquanto, o único motivo que oferece aos eleitores para votarem nele é ser filhote do Lula e da Dilma, algo meio vexatório em se tratando de um marmanjo que se tornará cinquentão em janeiro...).

A forma pífia como o PT combateu o espantalho Russomanno --evitando caracterizá-lo como cavalo de Tróia dos exploradores da fé porque o PRB integra a base aliada-- não constitui bom augúrio. Ideologicamente, o partido criado em 1979 por sindicalistas do ABC, esquerdistas que lutaram contra a ditadura e adeptos da Teologia da Libertação é, na atualidade, firme como geléia.

Enfim, eu ainda o apoiarei no 2º turno caso se posicione incisivamente contra os balões de ensaio totalitários que têm marcado a atuação hegêmonica dos tucanos e seus aliados na cidade e no estado de São Paulo, começando por assumir o compromisso de demitir imediatamente os 30 oficiais da reserva da PM a quem Gilberto Kassab entregou todas as subprefeituras, menos uma.

Como dificilmente Haddad descerá do muro, tudo levando a crer que seguirá fazendo uma mera  campanha de consumo, é bem provável que o movimento pelo voto nulo cresça, pois o desalento com os principais partidos aumenta cada vez mais.

Em 2010 foi a última vez que favoreci uma  campanha de consumo  no 2º turno, e isto porque o adversário estava sendo apoiado pelas viúvas da ditadura e o que havia de pior na direita golpista. Mas, votando no menos pior, nunca chegaremos ao melhor.

Então, em todo e qualquer pleito no qual não houver uma  candidatura ideológica  merecedora do apoio da esquerda, acredito que o voto nulo seja hoje a opção mais coerente para nós.

O PSOL E EU

Terra em Transe: "Não conseguiu firmar o nobre pacto entre o
cosmo sangrento e a alma pura... tanta violência, mas tanta ternura".
A candidatura de Carlos Giannazi não foi tão longe quanto a de Marcelo Freixo, com a qual tinha muitas semelhanças e afinidades, por vários motivos. Os principais:
  • São Paulo é uma cidade bem mais conservadora e direitista do que o Rio de Janeiro, tendo inclusive um segmento eleitoral nitidamente fascista, que acaba de eleger três vereadores identificados com as execuções sumárias de bandidos pelos policiais;
  • na reta final Giannazi encontrou a postura correta (mais agressiva) para os debates eleitorais, mas o cancelamento dos dois últimos, os da Record e da Globo, impediu que se beneficiasse disto;
  • e, claro, sua extrema inferioridade em fundos de campanha, estrutura partidária e em tempo disponível no horário gratuíto.
A conquista de uma cadeira na Câmara Municipal foi uma pequena vitória do PSOL, mas continuarei sempre achando autofágica a disputa entre as tendências partidárias, que levou as principais delas a travarem uma guerra particular pela vitória do  seu  representante, com a vitória da encabeçada pelo presidente nacional do partido, Ivan Valente (à qual pertence o eleito professor de matemática Toninho Vespoli).

Quanto a mim, lamento não ter obtido um resultado à altura dos comoventes esforços dos poucos que me ajudaram muito, como o incansável poeta Marcelo Roque, o genial artista gráfico Eliseu de Castro Leão, as abnegadas Auriluz Pires Siqueira e Sônia Amorim, os injustiçados uspianos Glória Kreinz e Osmir Nunes.

Os 6 mil folhetos impressos graças a uma doação que o grande escritor e revolucionário Chico de Assis enviou lá do Nordeste não se transformaram em votos; infelizmente, não encontrei  a trilha do labirinto.

Fico reconhecido também ao Carlos Lungarzo por, indiferente a eventuais danos à sua imagem no circuito dos DH, ter apoiado minha candidatura.

Há os que seguem seus princípios e são solidários. Há os que priorizam conveniências, são indiferentes ou preguiçosos. Lutas desiguais como as que eu costumo travar trazem sempre à tona o melhor e o pior das pessoas.

Evidentemente, não me candidatarei a deputado em 2014, nem a vereador em 2016. Esta etapa só fazia algum sentido se tivesse conseguido me eleger desta vez, aos 62 anos.

Como é uma hipótese remotíssima eu vir a receber o apoio de algum partido de esquerda para me candidatar ao Executivo ou a senador, eu diria que há 99,9% de chances de haver sido minha primeira e última tentativa eleitoral.

O meu desgaste físico e emocional foi enorme. Mas, inexiste repouso para guerreiros. Como esta empreitada não frutificou, decidi lançar o quanto antes a parte final do Náufrago da Utopia.

Até o Ano Novo, eu a estarei escrevendo. Nesse meio tempo, só me manifestarei nos meus blogues ou nas redes sociais se e quando houver assunto de real importância em que minha contribuição possa fazer alguma diferença.

E avaliarei cuidadosamente o que fazer em 2013. O certo é que uma fase terminou e ainda não tenho clareza quanto a novos rumos. 

Minha única certeza é a de que continuarei até o fim da vida lutando contra o capitalismo.

7 comentários:

professor Pyerre disse...

Voce é um vencedor nunca esqueça disso!

Anônimo disse...

vida que segue, Celso. Fizeste o melhor. Abraço.

blog do teacher Ramos disse...


Prezado Lungaretti,

Tenho, desde que me aventurei por esta blogosfera, lido textos muito bons aqui neste seu espaço. Sou apenas 10 anos mais jovem que você mas não vivi nem viverei tudo que você passou na luta contra a ditadura e na sua luta contra o capitalismo. Eu, particularmente, acredito que pessoas como você são grandes lutadores mas ao mesmo tempo são meio solitários pois a cada dia que passa os soldados deste exército vão diminuindo cada vez mais. Não vejo o capitalismo como esse demônio todo pois acredito que o que faz mal ao ser humano é outro ser humano e este existe em qualquer modelo político e econômico. Acho que Lula e Dilma, dentro da limitação que o nosso sistema político permite está tentando fazer o melhor pelo povo e o apoio de pessoas como você seria importante, principalmente neste momento em São Paulo. Mas mesmo assim espero que você consiga tudo pelo qual tem lutado e seja feliz seja que destino resolva seguir.

Dea Conti disse...

Espero que essa não seja uma carta de despedida, caro Celso! Um super abraço e minha solidariedade, sempre!

celsolungaretti disse...

Dea,

preciso de um tempo para botar as emoções em ordem, escrever o novo livro e reavaliar a minha atuação.

Não pretendo deixar de me manifestar sobre os assuntos realmente importantes.

Mas, pelo menos neste momento, não estou vendo muito sentido em continuar escrevendo textos característicos de colunista, crítico, cronista, etc.

Talvez passe a me restringir àqueles referentes a lutas concretas e aos de resgate histórico.

Mas, só tomarei esta (e outras decisões) na virada do ano. Por enquanto, o que eu estou realmente fazendo é liberar tempo para me dedicar ao livro.

Um abração!

Anônimo disse...

Prezado "Guerreiro" Lungaretti,

creio que depois da farsa perpetrada pelo tal 'STF' você não vai se aposentar nunca!!!

tá certo que você tem sonhos e desejos, mas a luta nos bate na cara todas as horas, todos os dias, em toda a parte...

gostaria que você lesse os artigos que te enviei pra que perceba como pululam as ações clandestinas dos rentistas... num país que foi montado (mada in usa) pra não funcionar como o nosso!!!

porra!! cara! sei que teu empenho na campanha foi tremendo, mas a causa é nobre e nos renova a alma!!

confesso que já tô de saco cheio de ver o povo idiotizado pelas ruas falando BBBB (bunda-bola-bebida-balada); falando de 'personagem' de novela... de piada montada...

cara!! tenho 55 anos e 3 filhos em idade universitária (o mais velho na frança pela 'universidade sem fronteiras' com tudo pago pelo gov fed - mas o cara é bom mesmo e merecia!)... como orientar estes caras (que votaram em você - pelo menos eu pedi) pra que não caiam nas armadilhas destes pulhas que a todos seduzem com um arsenal cada vez maior de "drogas"... "entorpecentes" (e isto inclui: tv, internet, celular...)... pros caras lerem um livro eu tenho que comprar pela internet e entregar na casa deles; ou então dizer que é pra mim e para eles irem lendo enquanto não vou até Sampa vê-los (agora mesmo pedi pra comprar um de presente pra mim)...

li a mensagem do "teacher Ramos" e quero assinar embaixo!!!

boas escolhas e boa luta!!

abraço fraterno!

Márccio Campos
rio de janeiro

celsolungaretti disse...

Companheiro,

não estou pensando em aposentadoria, mas sim em expor minha visão revolucionária em livros (daí estar liberando tempo para os escrever) e continuar travando as lutas realmente importantes.

Pode estar certo de que, havendo um novo Caso Battisti ou uma nova desocupação do Pinheirinho, eu vou reagir com todas as minhas forças.

Não é o caso do mensalão. As práticas de que os réus estão sendo acusados não têm nada a ver com a revolução; seriam maneiras ilícitas de se garantir a governabilidade sob o capitalismo, partidas de um governo que não se propunha a acabar com o capitalismo.

Justas ou injustas, tais acusações não me dizem respeito. Eu defendo revolucionários.

Um abração!

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