segunda-feira, 7 de novembro de 2011

UM VERDADEIRO TERRORISTA

Ontem...
A BBC noticia que está começando nesta 2ª feira (7), na França o novo julgamento de um verdadeiro terrorista, o venezuelano Ilich Ramirez Sanches, apelidado de  Carlos, o Chacal. Ele poderá ser condenado a outra pena de prisão perpétua, como se a que está cumprindo não bastasse...

Sanchez foi detido de forma rocambolesca em 1994, quando ia submeter-se a cirurgia no Sudão: uma vez sedado, entregaram-no a agentes franceses.

Entrevistado pela imprensa do seu país, Sanches, 62 anos, acaba de admitir a participação em mais de 100 atentados, que teriam causado entre 1,5 mil e 2 mil mortes. Este sim foi terrorista, termo que passou a ter utilização imprópria e indiscriminada desde o atentado ao WTC.

É um dos personagens mais emblemáticos do desvirtuamento e desvario de alguns esquerdistas que, de tanto enfrentarem um inimigo impiedoso e sem escrúpulos, acabaram assimilando suas piores características.

Deixaram de se ver como combatentes do povo, obrigados a manter um código de conduta exemplar, pois cada uma de suas ações impactava sobre a causa que pretendiam defender.

Fizeram da guerra contra o capitalismo um assunto pessoal, como se fossem lobos solitários ou cavaleiros andantes espalhando a justiça proletária a ferro e fogo pelo mundo.

Só que, em vez de Lancelots, tornaram-se meros Quixotes... com a agravante de que suas trapalhadas redundavam em banhos de sangue.

Trajetórias deploráveis como a de Sanchez me levaram a uma conclusão definitiva sobre a luta armada: revolucionários devem a ela recorrer apenas em situações extremas, quando todas as outras portas estão fechadas e exclusivamente contra regimes ditatoriais.

A resistência à tirania vem sendo exercida desde a Grécia antiga, é um direito milenar dos cidadãos. Mas, deve ser adotada com muito critério, pois o recurso às armas quase sempre produz mais mártires do que vitórias do nosso lado.

...e hoje.
Caso da resistência brasileira é ditadura de 1964/85: a esquerda nela expôs alguns dos seus melhores quadros, enquanto os militares a enfrentaram com o que tinham de mais descartável.

Nossas perdas foram imensas e irreparáveis. Talvez a redemocratização não fosse tão tímida e insatisfatória se ainda contássemos com companheiros do porte de Carlos Marighella, Mário Alves e Juarez Guimarães de Brito, dentre tantos outros que tombaram heroicamente numa guerra impossível de vencermos.

O quadro político mudara radicalmente, do final de 1968 (quando o AI-5, representando o fechamento total do regime, tangeu a maioria de nós para a luta armada, única ainda viável) para 1970 (quando o efêmero  milagre brasileiro   e a conquista do Mundial de futebol trouxeram novo fôlego e o apoio da classe média à ditadura).

A partir daí, o confronto se restringiu quase que exclusivamente ao terreno militar -- no qual o inimigo não só tinha recursos infinitamente superiores aos nossos, como a disposição de recorrer às piores torturas e de nos mover uma guerra de extermínio.

Sem bolas de cristal que nos alertassem para o que estava por vir, caímos numa armadilha da História e, de repente, vimo-nos atolados num matadouro.

Mas, justiça nos seja feita, é bem mais fácil discorrermos sobre o que já ocorreu do que visulumbrarmos o melhor caminho num cenário de incertezas. 

Entre abdicarmos momentaneamente de mover uma resistência efetiva à ditadura e corrermos riscos imensos pela nossa causa, fizemos a opção mais digna. E pagamos um preço altíssimo por ela.

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