domingo, 6 de novembro de 2011

O BATENTE DE REDAÇÃO E A ENGANAÇÃO DOS PODEROSOS

O emprego de que mais gostei na grande imprensa foi na Agência Estado, entre agosto/1988 e abril/1990.

Naquela época, a AE resumia e enviava a clientes do Brasil inteiro o noticiário produzido pelas equipes de O Estado de S. Paulo, do Jornal da Tarde e da sua rede de correspondentes.

Mas, o que fazia a diferença, para mim, era a oportunidade de criar pautas interessantes e oferecê-las aos clientes. De cada um que adquirisse, eu recebia, inicialmente, 70% do valor cobrado; depois, 50%. 

Acabei me tornando o melhor vendedor de matérias avulsas da agência, criando séries tipo  as piores crises econômicas da História e a possibilidade de repetição nos dias atuais.

Mas, a diretoria da empresa resolveu mudar o perfil da AE e uma equipe nova, de jornalistas mais valorizados no mercado (embora viessem de sucessivos fracassos), foi incumbida de remodelar todos os serviços prestados e de introduzir outros... sem sequer nos ouvirem.

Éramos 10 na redação, todos com promoções e respectivos reajustes salariais atrasados porque, alegava a diretoria, isto seria contemplado na hora da mudança.

Na verdade, cogitaram até degolar a todos nós no momento da virada. Mas, como isto poderia criar pânico nas outras redações, fizeram uma intervenção menos traumática: demitiram, de imediato, apenas o diretor de redação e o sub.

Cheguei um dia para trabalhar e encontrei outros na mesa de comando. Surpresa!

Informaram-me que o reajuste, há tanto prometido, seria finalmente concedido: a remuneração dobraria... com a contrapartida de ter de trabalhar sete horas diárias.

Ora, a jornada de trabalho para jornalistas era de cinco e as duas adicionais contavam como extras e tinham de ser pagas em dobro. Então, na verdade, o reajuste real era quase nenhum. E a promoção que eu fazia há muito por merecer (e fora recomendada pela chefia destituída) evaporara.

Ademais, começaram a circunscrever o oferecimento e venda de matérias avulsas a seus amiguinhos e  bons companheiros. Meus recordes de quantidade de clientes que haviam adquirido o mesmo texto e de faturamento total não foram considerados.

Tenho orgulho de dizer: fui o primeiro a tomar o caminho da rua por vontade própria.

O 'RIO DOS BANDEIRANTES'. 
OU SERIA MELHOR DIZER ESGOTO?

O diretor de redação demitido fez campanha para o Luiz Antônio Fleury Filho e, com a vitória, assumiu o comando da redação do Palácio dos Bandeirantes. 

Meio ano depois, convidou-me para integrar a equipe, estritamente como profissional. Nunca me filiei ao PMDB. Apenas alugava meu suor e meus talentos.

Era o redator incumbido das matérias importantes, complexas e/ou polêmicas. Então, fazia quase todos os textos jornalísticos sobre o projeto de despoluição do rio Tietê, e eventualmente também os promocionais.

Foi um mapa da mina que o governador encontrou para levantar grana no exterior. Mas, o blablablá ecológico tinha de ser convincente. E o Fleury Filho se empolgava: prometia que, no final de sua gestão, o Tietê estaria limpo o suficiente para ele nadar em suas águas, como se fazia no início do século (passado).

Nunca nadou, claro.

E neste domingo (6) leio na Folha de S. Paulo que:
"...quase duas décadas e US$ 1,6 bilhão depois, a água do Tietê no trecho que atravessa a Grande São Paulo está ainda pior.
O quadro, detectado em avaliação anual da Cetesb, mostra que ele segue feio (turvo), sujo (lixo e esgoto) e malvado (transmite doenças).
Dos seis pontos monitorados desde 1992, cinco estavam piores em 2010. Dos nove avaliados hoje, quatro são péssimos, e três, ruins.
Em quase toda a região, as taxas de oxigênio ficaram perto de zero, o que inviabiliza qualquer tipo de vida".
Por essas e outras, sempre apreciei meu trabalho de jornalista em termos formais -- o domínio do ofício --, mas detestava os fins a que servia. Sem culpa exceto a de não ter outra forma de ganhar a vida, ajudei na difusão de muitas lorotas dos poderosos.

Mas, ao contrário da maioria dos colegas, eu sentia remorsos... como sinto até hoje, ao ler uma notícia como esta.

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